Vitor Oliveira explica a necessidade de formar pessoas capazes de desenvolver habilidades que jamais serão substituídas por computadores
Vitor Haony Ribeiro de Oliveira* Publicado em 23/09/2023, às 06h00
Quando o assunto é o futuro profissional das crianças, é comum que as notícias sobre os avanços tecnológicos gerem inseguranças nas famílias. Nos últimos anos, temos observado como a inteligência artificial vem conseguindo produzir textos e imagens que, muitas vezes, desafiam a nossa capacidade de discernir o que é ou não real. Esse cenário traz um ponto essencial para discussão no que diz respeito à educação infantil: a necessidade de formar pessoas capazes de, não apenas identificar notícias falsas, mas desenvolver habilidades que jamais serão substituídas por computadores.
O primeiro tópico que precisa ser considerado é o uso da tecnologia digital a favor do desenvolvimento humano, não o contrário. Utilizar o idioma dos computadores, robôs e dispositivos digitais para instruir as crianças a solucionar problemas interdisciplinares é uma forma de mostrar a elas que a tecnologia deve ser um meio, não o objetivo final.
Tal entendimento faz de disciplinas como Pensamento Computacional importantes aliadas dos educadores. Adotada em diversos países líderes no ranking educacional, essa disciplina ajuda os estudantes a desenvolverem, desde a educação infantil, habilidades que melhoram seu desempenho em toda a vida escolar e, também, no seu futuro profissional. Nessa disciplina, são realizadas atividades que estimulam os alunos a colocarem a mão na massa, aplicando tecnologias digitais como programação, robótica, eletrônica digital, internet das coisas e inteligência artificial para solucionarem problemas interdisciplinares.
Em diferentes projetos, os alunos são orientados a decompor problemas em suas menores partes solucionáveis e a identificar padrões que os ajudem, por meio do pensamento algorítmico, a resolver cada uma dessas partes. Nesse processo, eles aprendem a trabalhar com diferentes níveis de abstração, capturando a essência de elementos do mundo real em modelos computacionais.
Por serem atividades feitas em equipe, os estudantes são incentivados a desenvolver, também, habilidades socioemocionais, como criatividade, colaboração, liderança, persistência e empatia, fundamentais para sua trajetória escolar e profissional. Tanto que, entendendo a relevância da compreensão e do manejo das emoções, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) passou a prever que competências socioemocionais estejam presentes em todas as suas dez competências gerais.
Além disso, vale ressaltar que a competência geral n° 5 trata sobre a Cultura Digital, indicando que no processo da Educação Básica o aluno deve ser capaz de “compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva”.
Ao atuar no desenvolvimento de habilidades socioemocionais atreladas ao letramento e cultura digital, as atividades do Pensamento Computacional contribuem para uma melhor capacidade de comunicação, tomada de decisões, respeito às diferenças e postura crítica. Essas habilidades ajudam o aluno, inclusive, a melhorar os resultados acadêmicos de disciplinas tradicionais, além de atuar diretamente no preparo para a vida adulta e profissional. Sendo assim, é possível utilizar a linguagem computacional para exercitar características humanas que nenhum robô é capaz de reproduzir.
Desse modo, a criação de cenários tecnológicos pode ser uma porta para um mundo diverso e plural, que contribui para que o aluno entenda a tecnologia como uma ferramenta de solução de problemas e desenvolva competências socioemocionais importantes para seu presente e futuro. Assim, as escolas contribuirão para a formação de pessoas autônomas, empáticas e seguras, que aprendam a errar e a tentar novamente, utilizando a tecnologia digital a seu favor.
*Victor Haony Ribeiro de Oliveira, assessor pedagógico da Mind Makers