Como identificar transtornos de aprendizagem em crianças e adolescentes?

É comum pais e mães receberem da escola de seus filhos diagnósticos dizendo que eles apresentam sintomas de TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), dislexia e outros transtornos de aprendizagem. Como psicoterapeuta, sempre me pergunto como a instituição chega a esse resultado. Será que pais e professores sabem realmente diferenciar quando uma criança ou adolescente tem algum transtorno de aprendizagem ou é apenas uma dificuldade de aprendizagem? Talvez tenham alguns conhecimentos ou experiência, mas o ideal é que a criança ou adolescente que esteja apresentando um desempenho escolar abaixo do esperado, seja submetido a uma avaliação neuropsicológica realizada por profissionais especializados.

Uma avaliação neuropsicológica é o resultado de um processo que demanda de 8 a 10 sessões para ser concluída. Diversos testes são realizados, com objetivo de confirmar se de fato existe algum atraso ou dificuldade de aprendizagem e, para chegar a uma conclusão final, não é uma tarefa simples. Requer uma análise bem cautelosa, haja vista que, segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), os transtornos de aprendizagem são classificados, descritos e diferenciados com base nos três seguintes critérios: 

1 - Prejuízo na leitura - Quando há muita imprecisão na leitura de palavras, na velocidade ou fluência da leitura ou falha na compreensão do texto que foi lido;

2 - Prejuízo na expressão escrita - Nota-se uma certa inversão na ordem das letras na ortografia, na gramática e na pontuação ou ainda alguma questão relacionada à clareza ou organização da expressão escrita;

3 - Prejuízo na matemática - É quando existem algumas inconsistências no senso numérico, na memorização de fatos aritméticos, na realização de cálculos ou no raciocínio matemático. 

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O Diagnóstico de Transtorno de Aprendizagem

Para realizar um diagnóstico de transtorno de aprendizagem, é necessário que as dificuldades no aprendizado e no uso das habilidades acadêmicas sejam percebidas pelo menos ao longo de seis meses consecutivos, mesmo que durante esse período ocorram com intervenções dirigidas por especialistas. Além disso, torna-se relevante que as crianças ou adolescentes apresentem um ou mais dos sintomas a seguir:

1. Leitura de palavras de forma imprecisa, lenta e com esforço - Durante a leitura em voz alta, as palavras são ditas pausadamente, de maneira incorreta, lenta ou hesitante. Pode ser percebida também quando há tentativas frequentes de adivinhar o que está escrito ou dificuldade para soletrar as palavras. 

2. Dificuldade para compreender o sentido do que é lido - A leitura de textos é feita corretamente, mas a pessoa não tem compreensão da relação entre as palavras, da sequência de informações ou surgem poucas inferências no sentido mais profundo do que foi lido. 

3. Dificuldades para escrever da maneira ortograficamente correta - É quando a criança faz a adição, omissão ou substituição incorreta de vogais e consoantes.

4. Dificuldades com a expressão escrita - Significa que são cometidos múltiplos erros de gramática ou pontuação nas frases, há uma organização inadequada de parágrafos ou as ideias expressas por escritos não têm clareza. 

5. Dificuldades para dominar o senso numérico, fatos numéricos ou cálculo - A pessoa entende os números, sua magnitude e as relações entre eles de forma insatisfatória ou conta com os dedos para adicionar números de um dígito em vez de lembrar o fator aritmético. Outro exemplo é a dificuldade para fazer cálculos aritméticos ou a troca das operações. 

6. Dificuldades no raciocínio - É percebida uma grave dificuldade para aplicar conceitos, fatos ou operações matemáticas para solucionar problemas quantitativos.

Pode também ser considerada a presença de um transtorno de aprendizagem quando as habilidades acadêmicas estão muito abaixo do esperado para a idade cronológica do indivíduo, causando interferência significativa no desempenho acadêmico ou nas atividades cotidianas. Vale lembrar que há casos em que as dificuldades de aprendizagem se iniciam ainda durante os anos escolares, mas somente se manifestam completamente quando as habilidades acadêmicas acabam exigindo mais das capacidades de aprendizagem do indivíduo como, por exemplo, em testes cronometrados, no desenvolvimento de atividades com prazos de entrega curtos ou quando a leitura ou a produção de textos complexos e longos é requerida.

Outro ponto importante durante um diagnóstico de transtorno de aprendizagem é avaliar se as dificuldades de aprendizagem não são explicadas por deficiências intelectuais, acuidade visual ou auditiva não corrigida, transtornos mentais, questões neurológicas, adversidade psicossocial, falta de proficiência na língua acadêmica ou instrução educacional inadequada. Para isso, a avaliação deve levar em consideração a trajetória de desenvolvimento do indivíduo, o histórico médico e familiar, além do histórico educacional por meio de relatórios e visitas escolares. Em alguns casos, uma avaliação psicoeducacional completa também pode ser necessária. 

Por fim, vale lembrar que o diagnóstico é uma ferramenta imprescindível para que a criança ou adolescente tenha acesso a tarefas ou demandas diferenciadas e até medicamentos, se necessário. O objetivo é proporcionar mais qualidade de vida, abrir caminho para recursos que facilitem seu aprendizado e minimizem os efeitos do transtorno sobre sua vida. 

* Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.  Mais informações em https://helenpsicologa.com.br/