Comemorações marcam meio século de conquistas, mas desigualdades persistem no Brasil e no Judiciário. Mulheres aceitam flores, mas querem mais
Renata Strang Ciasca* Publicado em 13/03/2025, às 10h00
Em 08/3/2025 faz 50 anos que a ONU criou o Dia Internacional da Mulher. Um dia para celebrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, independente de divisões nacionais, étnicas, linguísticas, culturais, econômicas ou políticas.
Um dia edulcorado pela mídia e festejado por meio dos presentes e mensagens carinhosas que recebemos.
Mas hoje, mais que palavras bonitas, homenagens e cartões coloridos, quero falar de números.
Embora as mulheres representem quase 52% da população Brasileira, essa presença não se reflete de forma equitativa nos cargos de maior poder e influência.
De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) – que em 2018 publicou Resolução instituindo a Política Nacional de Incentivo à Participação Institucional Feminina no Poder Judiciário - as mulheres são 45% dos juízes substitutos, 39% dos juízes titulares, 25% das desembargadoras e 26% presidentes dos tribunais.
Note que, muito embora seja uma carreira almejada (e trilhada) por muitas mulheres, quanto mais alto o cargo, menos representantes deste gênero.
Num país em que só conquistamos o direito ao voto em 1932 e onde até 1962 só estaríamos plenamente aptas ao exercício de nossa vida civil – inclusive para poder trabalhar – se fôssemos autorizadas por nossos pais ou maridos, é de se esperar que haja muitos resíduos de desigualdade entre a vida pessoal, social e profissional de homens e mulheres.
Nos 134 anos de história do nosso Supremo Tribunal Federal somente 3 mulheres ocuparam as cadeiras que, no mesmo período, acomodaram 171 ministros do sexo masculino.
Três!
Mulheres trazem perspectivas únicas, pontos de vista necessários à interpretação e aplicação das leis, em especial quanto às matérias relativas aos seus direitos, assédios de toda natureza e igualdade.
A falta de representatividade no Judiciário impacta direta e profundamente não só a qualidade das decisões como sua utilização como instrumento apto a corrigir, regular (e melhorar!) a vida em sociedade.
A ausência de vozes femininas nos espaços decisórios pode resultar em resultados menos sensíveis às questões não somente de gênero, mas de minorias em geral.
Nesse Dia Internacional das Mulheres temos muitas conquistas para celebrar, pois longo e sinuoso vem sendo o caminho que nos trouxe aqui, a muitas milhas de onde estavam nossas mães, avós e bisavós.
Mas a falta de redes de apoio e a dificuldade em equilibrar vida profissional e pessoal continuam sendo grandes limitadores do nosso crescimento em representatividade.
Por isso, neste Dia Internacional da Mulher receba minhas flores e um pedido: apoie uma mulher, ajude-a a se desenvolver, se expandir, ser e fazer o que ela bem entender! Toda a sociedade se beneficiará desse movimento.
*Renata Strang Ciasca é advogada, sócia na Ciasca Advogados, especialista em Direito Empresarial com ênfase em Comércio Exterior e atuante pelos direitos da mulher.