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Exaustão materna pode ser traduzido em burnout parental

A síndrome de burnout afeta mães e pode causar sérios danos emocionais e físicos, exigindo atenção e cuidado na vida materna

Mônica Cereser* Publicado em 20/02/2025, às 06h00

A exaustão materna merece atenção
A exaustão materna merece atenção

O termo burnout pode ser traduzido por “ser consumido pelo fogo”. A partir da década de 80, autores como Maslach passaram a usar esse termo para designar a síndrome decorrente da exaustão emocional humana, condição em que o sujeito tem suas energias consumidas.

Entre as principais características do problema estão a sensação de sobrecarga emocional constante e de esgotamento físico e mental. A síndrome de burnout, inicialmente relacionada ao universo do trabalho, hoje também é aplicada a mães que sofrem de uma exaustão emocional ou uma resposta inadequada em que o resultado pode ser uma situação de estresse crônico.

O burnout materno pode ser caracterizado pelo estresse prolongado, relacionado não só aos cuidados maternos, mas pela maneira como a mãe exerce as múltiplas obrigações nos primeiros anos dessa fase de vida. Importante ficar alerta aos primeiros sinais de estresse, além da conta, para evitar um quadro extremo.

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Outros sintomas da doença são sentimentos constante de culpa, estresse relacionado, administração do tempo, excesso de pessimismo, exaustão, mesmo após um período de repouso, sentimento de fracasso e impotência, irritabilidade sem motivo aparente, falta de interesse ou prazer em cuidar do filho, baixa autoestima, tristeza, medo e insegurança.

No caso das mães com burnout, os transtornos não são causados apenas pela maternidade em si, mas pela maneira como esse momento está sendo vivido pela mulher e pela sua família. A maternidade traz consigo uma responsabilidade “para o resto da vida e em todos os momentos, o que pode gerar também uma preocupação constante e, por vezes, angustiante.

Além de ser um momento por si só difícil, a mulher está lidando com alterações hormonais e fisiológicas corporais e cerebrais. Longos períodos de sono intranquilo, novas atribuições e muita expectativa em relação às mudanças desse novo momento da vida.

O burnout não é apenas cansaço. A mãe esgotada fica fissurada nas suas tarefas diárias, tensa para dar conta de tudo. Pequenos problemas podem ser o gatilho para o desequilíbrio emocional. Sentir-se cansada ao final de um longo dia é natural, desde que a exaustão não vire rotina e fazendo com que a mãe perca seu interesse e motivação por coisas que antes gostava de fazer.

Por isso o autoconhecimento e ter uma rede de apoio sólida são imprescindíveis para que as mães possam passar por esse momento de vida, de forma mais tranquila. A rede de apoio auxilia não apenas nas tarefas diárias, mas também nos aspectos emocionais que estão envolvidos.

Ela sinaliza que além da rede de apoio, um bom caminho é se aceitar, se acolher, buscar ferramentas para promover a saúde mental e então passar a agir de modo diferente. Os temas que proponho são os pilares do meu trabalho junto ao grupo MAM - Mães que ajudam mães, com quem tenho grupos criados em Jundiai, interior de São Paulo.

O MAM funciona presencialmente e online e nesse lugar seguro as mães conseguem encontrar conforto e orientação para compartilhar experiências e obter orientações.
Outro ponto importante e que vale menção é a criação de políticas públicas, no sentido de que o governo também precisa se preocupar com isso. A criação de mais creches para atender as mães que não tem condição de pagar uma babá, para que elas não entrem nessa estafa.

Uma mãe em burnout fatalmente causará prejuízo emocional ao filho, porque ela terá um distanciamento emocional em relação a essa criança, além de possibilidade de negligência ou até de violência doméstica.

*Mônica Cereser é especialista em psiquiatria de crianças, adolescentes e adultos há 30 anos. Formada em Medicina com especialização em psiquiatria geral na Santa Casa de São Paulo e em psiquiatria da infância e adolescência no Hospital das Clínicas da USP. É autora do guia “Se eu soubesse” e coautora de mais 4 livros.