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Psiquiatra aponta caminhos para promover a saúde mental

Psiquiatra Mônica Cereser lembra que os pais precisam assumir responsabilidades na educação dos filhos

Redação Publicado em 10/05/2025, às 06h00

Crianças com acompanhamento mais próximo têm menos chance de desenvolver transtornos como ansiedade
Crianças com acompanhamento mais próximo têm menos chance de desenvolver transtornos como ansiedade

“É importante lembrar que o futuro dos filhos é responsabilidade dos pais. Assumir a autorresponsabilidade sobre a educação deles é também um ato de coragem”. A frase é da psiquiatra especialista em maternidade, Dra. Mônica Cereser, autora de livros sobre o assunto e mãe de 3 filhos.  Ela acredita que sem uma boa maternagem diminuem as chances para que uma criança se torne um adulto mais seguro, feliz - com menos chances de desenvolver transtornos de personalidade - e enfrentar as adversidades da vida.

“É cansativo, desgastante, necessita um trabalho árduo que envolve disponibilizar horas do seu dia e muito energia para estar atento a detalhes que muito vezes não são tão óbvios, para quando eles se tornarem adultos, tenham o equilíbrio de quem foi educado por pais que se preocuparam com o bem-estar e futuro dos seus filhos,” lembra a especialista.

Ela ensina que crianças que crescem sem um acompanhamento do desempenho escolar, o menor controle sobre as telas, por exemplo, sem diálogo ou que não são estimulados a um pensamento crítico ou sobre o que fazem de errado, enfim, que não recebem valores na primeira infância, crescem como adultos que não sabem lidar de uma maneira assertiva com as suas vidas.

Para ela, a mãe é um modelo para seu filho, portanto é preciso rever os valores e se ela está colocando seu propósito em prática e sendo responsável pelas escolhas que faz.  “Não dá para você escolher fazer algo e depois ficar culpando filhos, marido ou parceiro(a) que a pessoa não ajuda. Inclua seu parceiro nas tarefas do dia a dia e entenda que cada um faz de um jeito,” aconselha a especialista.

As próprias malcriações podem ter raízes mais profundas, na própria família. A psiquiatra tem como entendimento que a maioria das mães, quando pensa em como resolver problemas de mau comportamento de seus filhos, imagina ser essa a solução dos desafios da maternidade.

“Na verdade, essa é apenas a ponta do icebergue. Abaixo do bloco de gelo há um sinal de que a criança precisa de orientação e apoio para desenvolver autocontrole e compreensão das regras sociais,” afirma a especialista.

O mau comportamento das crianças pode ser entendido como ações ou atitudes que desafiam normas sociais, regras familiares ou expectativas de comportamento adequado para a idade. Mas pode também ter raízes mais profundas nas próprias crenças e na maneira como o adulto lida com essa situação com impacto direto no aprendizado e comportamento da criança.

Uma mãe estressada, fatalmente causará prejuízo emocional ao filho, porque ela pode ter um distanciamento emocional em relação a essa criança, além de possibilidade de negligência ou até de violência doméstica no caso de um burnout materno, caracterizado pelo estresse prolongado. Condição que está relacionada não só aos cuidados maternos, mas pela maneira como a mãe exerce as múltiplas obrigações nos primeiros anos da fase de vida da criança.

A dica que ela dá é estar mais atenta aos sinais que seu corpo lhe mostra. Dormir mal, comer demais ou de menos, ficar irritada sem motivo, sem libido, com dores excessivas pelo corpo, desanimo para realizar as tarefas do dia a dia, sem paciência com seu filho. Estes são sinais bem claros que a mãe está escalando a curva de estresse.

“Você tem ideia do que sente? O que você faz com o que sente? Se você não sabe o que fazer com sua própria emoção e por isso se desequilibra, seu filho vai ficar ainda mais perdido e angustiado, portanto, busque ajuda e aprenda mais sobre o que sente. Os psicólogos chamam isso de autorregulação,” ensina Mônica.

Outra dica que ela sugere é saber quando sair de cena. Sabe aquele momento em que você está quase surtando e já perdeu o controle da situação? A especialista comenta que criar um espaço interno de 10 segundo para poder se reorganizar e então voltar mais inteira para acolher seu filho.  ⁠

Outro caminho é buscar uma rede de apoio e buscar ferramentas para promover a saúde mental e passar a agir de modo diferente. “Os temas que proponho são os pilares do meu trabalho junto ao grupo MAM - Mães que ajudam mães, com quem tenho grupos criados em Jundiai, interior de São Paulo,” conta. O MAM funciona presencialmente e online e nesse lugar seguro as mães conseguem encontrar conforto e orientação para compartilhar experiências e obter orientações.

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Sobre a profissional

Especialista em psiquiatria de crianças, adolescentes e adultos há 30 anos, a Dra. Mônica Geisa Cereser é formada em Medicina pela PUC–Sorocaba e especializou-se em psiquiatria geral na Santa Casa de São Paulo e em psiquiatria da infância e adolescência no Hospital das Clínicas da USP.

Entre as publicações da psiquiatra estão a monografia "Relação entre estresse, TPM e raiva" e o capítulo “Psicoterapia para adolescentes” do livro "Adolescência Normal e Patológica" em parceria com o Prof. Dr Francisco Assumpção Jr (HCFMUSP).

É autora também do guia “Se eu soubesse”. Obra publicada no ano passado, em que unindo a experiencia clínica e certa perspicácia pessoal, ela compartilha percepções valiosas e transformadoras.

A profissional também participou do desenvolvimento do livro infantil “Que dia é Hoje?” em parceria com Maria Luiza Sampaio Góes e ilustrado por Marcos Maya, sobre os feriados do Brasil. Do capítulo “Transtornos Alimentares em adolescentes,” no livro “Adolescência: prevenção e Risco,” da Dra. Maria Ignês Saito. Escrevendo um capítulo como coautora do livro “Parentalidade: Educando com equilíbrio".

É membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, credenciada como Psicoterapeuta pelo Departamento de Psicoterapia da Associação Brasileira de Psiquiatria ABP.

*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres