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Onde as crianças de São Paulo brincam nas férias?

Entenda como que a falta de espaços públicos verdes e seguros afeta as férias das crianças em São Paulo e o papel da sociedade na questão

Marina Helou e Marina Bragante* Publicado em 27/07/2024, às 06h00

É importante garantir espaços públicos verdes e seguros para que as crianças possam aproveitar as férias de forma saudável e divertida.
É importante garantir espaços públicos verdes e seguros para que as crianças possam aproveitar as férias de forma saudável e divertida.

A chegada das férias escolares abre a agenda de passeios, brincadeiras e mil possibilidades de diversão para os pequenos. Mas quem é mãe sabe que, na prática, o período também chega na forma de horas extras de trabalho doméstico e muitas funções de cuidado. O dilema de equilibrar os pratinhos da vida profissional, pessoal e da maternidade fica ainda mais complicado quando não se pode contar com uma rede de apoio familiar ou ajuda profissional. Enquanto isso, as crianças querem (e tem esse direito) aproveitar.

Aumenta o tempo com elas em casa, mas faltam condições para aproveitar as férias na cidade. Vamos imaginar que uma mãe paulistana vence todas as demandas do dia e vai em busca de um programa legal para fazer com sua criança. Para onde ela iria? Cercada de concreto e dando prioridade aos carros, um dos grandes problemas de São Paulo é a falta de áreas de lazer públicas, verdes e seguras, onde as crianças podem explorar e brincar de forma livre. A situação piora em áreas de periferia, reforçando a desigualdade ambiental em nossa cidade. Enquanto o bairro do Morumbi possui cerca de 45% de arborização, enquanto no Sacomã não chega a 18% e em São Miguel é de apenas 1%.

Não custa lembrar que, além da importância para o meio ambiente, a arborização urbana é uma questão de saúde, qualidade de vida e direito à natureza para todos. Estudos indicam que as árvores deixam o solo mais permeável e podem ajudar a baixar as temperaturas nas cidades em até 3°C. Para as crianças, o contato com a natureza é super positivo para o desenvolvimento de suas capacidades motoras, sociais, autonomia e criatividade, além de ser muito divertido.

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Mas para chegar nesses espaços a segurança nas ruas, a boa iluminação e um transporte público de qualidade também são importantes. Dá pra perceber que a responsabilidade sobre como as crianças e j ovens vão experimentar nossa cidade vai muito além da família, e tem muita gente que precisa estar nessa conversa.

Os gestores devem investir em políticas públicas de apoio à mulheres e crianças, assim como espaços públicos acessíveis, convidativos e saudáveis, como praças, parques e centros culturais. Já as empresas têm um papel importante para pensarmos novos formatos de trabalho, extensão das licenças maternidade e paternidade, implementação de berçários, creches e salas de amamentação em seus espaços. Como são as principais cuidadoras da sociedade, é importante que as mulheres tenham apoio para se desenvolver na profissão e também oferecer o melhor para o desenvolvimento dos seus filhos.

Queremos que todas as infâncias contem com espaços públicos divertidos e verdes, onde elas possam explorar de forma mais livre e plena, mas essa deve ser uma responsabilidade compartilhada. Criança na cidade é uma conversa para toda a sociedade, vamos pensar nisso juntos? As férias escolares vão acabar logo, mas o debate eleitoral está logo ali e esse assunto não pode ficar de fora.

*Marina Helou é mãe do Martin e da Lara e deputada estadual em seu segundo mandato pela Rede Sustentabilidade *Marina Bragante é mãe de trigêmeos, mestre em Administração Pública por Harvard e diretora executiva do Instituto AYA