Transformar a conscientização em práticas reais é essencial para garantir igualdade no mercado de trabalho
Verena Carole Souza do Bomfim* Publicado em 21/11/2025, às 06h00
O Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro, é mais do que uma data comemorativa. É um momento de reflexão profunda sobre a inserção da população negra na sociedade brasileira e sobre as batalhas, ainda em curso, por igualdade e justiça.
Nesse contexto, o mercado de trabalho se destaca como um dos espaços onde essa disparidade permanece mais evidente. Embora tenham ocorrido avanços ao longo das últimas décadas, a realidade ainda é marcada por barreiras silenciosas que influenciam o acesso às oportunidades e o desenvolvimento profissional de pessoas negras. São obstáculos que, muitas vezes, passam despercebidos para quem não os vivencia, mas que continuam determinando trajetórias e restringindo possibilidades.
Embora pessoas negras representem a maioria da população brasileira, sua presença ainda é reduzida justamente nos espaços que oferecem maior estabilidade, reconhecimento e projeção profissional. Essa distância não é ocasional nem recente. Ela reflete uma lógica estrutural que, ao longo do tempo, definiu quem teria acesso às melhores oportunidades, às redes de apoio e aos caminhos de ascensão.
Frequentemente, o sucesso é narrado como uma questão de mérito individual, mas os fatos revelam um cenário mais complexo. A trajetória de grande parte da população negra é marcada por obstáculos que antecedem o mercado de trabalho, como escolas com menos recursos, mobilidade urbana mais difícil, menores possibilidades de qualificação extracurricular e, muitas vezes, a necessidade de conciliar estudo e trabalho desde cedo. O resultado é uma competição desigual que, embora silenciosa, define o destino de milhares de trabalhadores, levando a uma maior proporção de negros em postos de trabalho informais e com menor remuneração.
Mesmo quando superam essas barreiras e ingressam em empresas de médio ou grande porte, os desafios persistem. A ausência de referências negras em cargos de decisão ainda é notável, e muitos profissionais relatam a sensação constante de terem de provar seu valor repetidas vezes.
Nesse contexto, cresce a necessidade de que as organizações adotem políticas reais de inclusão racial. O discurso institucional em torno da diversidade tem se tornado mais frequente, mas ainda carece de efetividade. Embora programas de inclusão racial tenham surgido nos últimos anos, muitos permanecem circunscritos à comunicação corporativa, sem metas claras ou mecanismos de acompanhamento que garantam sua continuidade.
Diante desse cenário, o debate sobre equidade racial demanda uma análise mais profunda sobre seus resultados concretos. Apesar de a pauta antirracista ter conquistado maior visibilidade e estar hoje no centro de discussões importantes, essa conscientização ainda não é suficiente para transformar a realidade de muitos profissionais negros, que seguem enfrentando um sistema que restringe oportunidades e perpetua desigualdades.
Mais do que lembrar a luta de quem veio antes, o Dia da Consciência Negra nos desafia a agir no presente. É responsabilidade de empresas, instituições, do sistema jurídico e de toda a sociedade assegurar que a igualdade prevista em lei se converta em igualdade vivida. O desafio é grande, mas inadiável, pois transformar compromissos em práticas concretas é fundamental para garantir que profissionais negros tenham acesso pleno aos espaços de decisão, influência e reconhecimento. Somente assim avançaremos de forma real rumo a um país mais democrático e verdadeiramente comprometido com a inclusão e harmonia em nossa sociedade.
*Verena Carole Souza do Bomfim é advogada.
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