Alergista e imunologista, Dra. Thais Ferreira, esclarece sinais de alerta, os perigos dos mitos e o papel crucial do diagnóstico e acompanhamento
Redação Publicado em 25/07/2025, às 12h00
A alergia alimentar ainda é confundida com intolerância, subestimada por muitos e frequentemente tratada de forma equivocada, o que pode colocar vidas em risco. A alergista e imunologista Dra. Thais Ferreira explica que, ao contrário da intolerância, que costuma provocar desconfortos gastrointestinais, a alergia é uma reação do sistema imunológico à proteína do alimento e pode evoluir para quadros graves e até fatais. “Qualquer pessoa pode desenvolver uma alergia alimentar em qualquer fase da vida. Os sintomas variam: podem ser respiratórios, de pele ou gastrointestinais — e podem ir de leves até gravíssimos”, alerta.
A intolerância alimentar, como à lactose, é uma dificuldade do organismo em digerir o açúcar de determinado alimento. Já a alergia envolve o sistema imunológico e costuma provocar reações mais graves. “Alergia à lactose não existe. O correto é intolerância à lactose ou alergia à proteína do leite”, esclarece a especialista.
De acordo com a médica, entre os principais vilões das alergias alimentares estão: leite, ovo, soja, trigo, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar. Mas, ela destaca que aumentam os casos de alergia a frutas, embora ainda causem surpresa em muitas pessoas. Já no caso das intolerâncias, a lactose é a campeã, seguida por reações relacionadas ao glúten — em especial a sensibilidade não celíaca ao glúten, que também não envolve o sistema imunológico.
Desde o nascimento, o corpo pode dar sinais importantes. Em bebês, é preciso atenção para:urticárias (placas na pele), refluxo intenso, distensão abdominal e fezes com sangue ou muco. Em crianças maiores e adultos, sintomas de pele, gastrointestinais e respiratórios podem ser indicativos importantes. “Sempre que houver suspeita, é essencial procurar um alergista. Um diário alimentar pode ser muito útil para chegarmos ao diagnóstico”, orienta a Dra. Thais.
Muitos casos, especialmente entre bebês, podem sim ser curados, como é o caso da alergia à proteína do leite não mediada por IgE, que tende a desaparecer por volta do primeiro ano de vida com a retirada da substância da dieta. Nos casos mais graves, existe hoje a possibilidade de tratamento por dessensibilização (ou imunoterapia oral). O paciente é submetido a exposições controladas ao alimento, sempre em ambiente especializado, visando criar tolerância e prevenir reações graves.
A medicina tem evoluído no diagnóstico, com testes mais sensíveis e específicos, que ajudam os especialistas a identificar com maior precisão os alimentos responsáveis pela reação alérgica. Já no tratamento, a dessensibilização oral surge como um divisor de águas. “Essa abordagem tem como objetivo aumentar a tolerância ao alimento, permitindo que o paciente tenha uma vida mais próxima do normal, com mais segurança para frequentar escolas, festas e ambientes sociais”, explica ela.
A especialista explica que existe um período ideal para introdução de alimentos potencialmente alergênicos na infância, entre os 6 e 9 meses de vida, conhecido como janela imunológica. Nessa fase, o sistema imunológico do bebê está mais receptivo, e a introdução precoce e responsável de alimentos como peixe, ovo, trigo e até pasta de amendoim pode ajudar na prevenção das alergias.“Muita gente evita certos alimentos no início, mas isso pode ser um erro. Claro que a introdução deve considerar a rotina da criança, mas quanto maior a variedade nesse período, melhor”.
Por fim, a Dra. Thais reforça que ainda há muitos mitos perigosos. O mais grave? Achar que um pedacinho não faz mal. “Na alergia, até pequenas quantidades podem causar reações fatais. Já tivemos casos de crianças que morreram após ingestão acidental. Alergia não é frescura — é uma condição séria que exige respeito, diagnóstico e acompanhamento”, conclui.
Quer incentivar este jornalismo sério e independente? Você pode patrocinar uma coluna ou o site como um todo. Escreva para contato@marianakotscho.com.br
Vacinar é essencial para proteger crianças e quem as protege, como avós e cuidadores
Millions Missing, Vidas Invisíveis: pela primeira vez Brasil está entre os países do movimento global por pacientes com Síndrome da Fadiga Crônica
Leucemia infantil: sinais silenciosos, tratamento e o poder do apoio emocional
O papel da genética na compreensão do Transtorno do Espectro Autista
O que todos devem saber sobre a síndrome de Insuficiência Cardíaca