Entenda a diferença entre implantes hormonais e os mitos que cercam seu uso, desde a eficácia até os efeitos colaterais
Manuela Coutinho* Publicado em 22/04/2025, às 06h00
Nos últimos anos, os implantes hormonais ganharam destaque como uma solução moderna para reposição hormonal, controle de condições como endometriose e TPM e contracepção. No entanto, com o aumento da popularidade, cresceram também os mitos e a desinformação sobre o tema. Influenciadores e até profissionais da saúde, muitas vezes mal informados, disseminam conceitos equivocados que confundem pacientes e até mesmo médicos. Afinal, o que é verdade e o que é mito quando falamos de implantes hormonais?
1. Todos os implantes são iguais?
Não. Os implantes se diferenciam tanto na forma quanto no conteúdo. Na forma farmacêutica denominada implante subcutâneo, existem dois tipos, cada um com características específicas: os implantes absorvíveis, que se dissolvem no organismo em até seis meses, e os implantes de silástico, que são removidos ao final de 12 meses. A escolha do tipo ideal depende das necessidades do paciente e da personalização do tratamento, uma abordagem que difere da prescrição padronizada de outros tratamentos hormonais disponíveis.
Além da diferenciação entre implantes absorvíveis e de silástico, é importante destacar que cada implante carrega um hormônio específico. Os implantes não combinam mais de um hormônio no mesmo dispositivo: um implante de testosterona contém somente este hormônio, assim como os implantes de estradiol ou de gestrinona. Cada um desses hormônios tem suas indicações específicas, que diferem entre si. O mito de que os implantes são "iguais para todos" ignora a individualização necessária para um tratamento eficaz e seguro.
2. Implantes hormonais engordam?
A crença de que implantes hormonais engordam é um dos mitos mais comuns, associado especificamente ao implante de gestrinona. A gestrinona, seja em implante ou administrada por outra via, pode sim causar ganho de peso, mas esse ganho não está relacionado ao acúmulo de gordura. É importante diferenciar ganhar peso de engordar.
Alguns pacientes podem experimentar retenção de líquidos temporária, principalmente nas primeiras semanas de adaptação. Além disso, é esperado um aumento de massa muscular e densidade óssea, que impacta no peso da paciente, mas reflete uma melhora na composição corporal. No entanto, uma paciente em uso de gestrinona que tiver maus hábitos, como sedentarismo e dieta rica em açúcar e ultraprocessados, pode sim engordar, mas isso ocorrerá independentemente do uso do hormônio. O mais importante é entender que hormônios não contêm calorias, ou seja, não causam ganho de gordura diretamente. O que pode acontecer são mudanças na distribuição da gordura corporal ou no apetite, efeitos que devem ser acompanhados pelo profissional responsável pela prescrição.
3. Implantes hormonais são irreversíveis?
Outro mito que gera preocupação desnecessária. Os implantes não são irreversíveis, no entanto, o paciente precisa saber que, ao inserir um implante absorvível, este não poderá ser retirado, e a paciente estará exposta àquele hormônio por seis meses. Por outro lado, os implantes de silástico podem ser removidos a qualquer momento. Caso o paciente tenha efeitos colaterais ou queira interromper o tratamento, basta um procedimento simples e rápido para a retirada.
4. Apenas mulheres podem usar implantes hormonais?
Definitivamente, não. Embora sejam mais conhecidos no contexto da saúde feminina, os implantes hormonais também são uma opção eficaz para homens que necessitam de reposição de testosterona. Pacientes com hipogonadismo, atletas sob supervisão médica ou até homens que buscam melhora na qualidade de vida podem se beneficiar dessa via de administração, que oferece liberação hormonal constante e previsível, sem os picos e quedas observados em outras formas de reposição, como injeções periódicas.
5. Implantes substituem todos os métodos anticoncepcionais?
Nem todo implante tem ação contraceptiva, e esse é um ponto essencial a ser esclarecido. Somente os implantes de silástico garantem a contracepção, justamente pela liberação estável e prolongada, que bloqueia a ovulação ao longo de 12 meses. O erro de considerar todos os implantes como métodos contraceptivos pode levar a falhas e gestações indesejadas.
Os implantes hormonais representam uma inovação importante na medicina, oferecendo uma alternativa segura e eficaz para muitas pessoas, principalmente para as mulheres. No entanto, a desinformação ainda é um grande obstáculo. Ainda é comum ouvir de profissionais de saúde que os implantes não têm evidência científica "forte o suficiente" para embasar a prática clínica, justificando isso pela falta de ensaios randomizados controlados de larga escala.
De fato, os ensaios randomizados e controlados (RCT) são considerados o padrão-ouro, mas a prática clínica, tanto na ginecologia quanto na medicina em geral, frequentemente se baseia em uma combinação de diferentes níveis de evidência. No caso dos implantes, já há evidências científicas sobre sua eficácia e segurança, incluindo estudos observacionais e revisões sistemáticas.
O debate sobre esses tratamentos precisa ser pautado em evidências científicas e prática clínica, e não em especulações ou crenças ultrapassadas. Estamos prontos para abandonar mitos e abraçar o conhecimento?
*Manuela Coutinho é fundadora e CEO do MC Legacy Lab, um laboratório especializado em implantes hormonais estéreis onde são produzidos implantes hormonais de silástico e absorvíveis, e reconhecida por sua liderança e compromisso com a saúde da mulher.
Os implantes hormonais e o impacto na saúde das mulheres
Menopausa e depressão: saiba o porquê deste problema atingir a tantas mulheres
Cortisol: o hormônio do estresse e seu impacto na saúde
Medicina e tratamentos modernos contribuem para mais longevidade
Implantes e a saúde da mulher