O acolhimento que os pais necessitam ao longo dessa jornada
Juliana Amorina* Publicado em 27/09/2023, às 06h00
As dificuldades escolares persistentes, a busca pelo diagnóstico e pelos tratamentos necessários, são parte de uma jornada solitária e silenciosa traçada pelos familiares de crianças com dislexia. Muitas vezes acompanhado por sentimentos de culpa, esse longo trajeto torna-se mais leve quando a família pode contar com grupos de apoio.
É na família que as crianças buscam recursos para enfrentar as dificuldades cotidianas e construir suas jornadas. Um ambiente seguro no qual as fragilidades são acolhidas, estratégias compensatórias são elaboradas e habilidades valorizadas promovem o bom desenvolvimento da autoestima, que será fundamental para aquisição das competências necessárias para a aprendizagem.
Algumas maneiras de auxiliar o desenvolvimento e incentivar a autoestima das crianças, são:
Dar apoio incondicional: É essencial lembrar que a pessoa com dislexia enfrenta barreiras diárias. Isso não é fácil! Acolhimento e encorajamento contínuos ajudam;
Enfatizar os acertos: Ao reconhecer os acertos e minimizar a costumeira ênfase dos erros, adotamos uma abordagem mais positiva da aprendizagem;
Explorar talentos e promover a sensação de sucesso: Proporcionar oportunidades para que a criança se envolva em atividades nas quais tenha sucesso constrói sentimento de confiança;
Parceria com a escola: Manter uma comunicação aberta e constante com os professores e a escola é fundamental para garantir que a criança receba o suporte necessário no processo de aprendizado;
Explorar a leitura: A família pode desempenhar um papel vital na descoberta do prazer da leitura. Tenha o livro como um companheiro: leia junto, visite livrarias e compartilhe histórias. Isso ajuda a criar uma relação mais positiva com a leitura;
Atividades lúdicas: Brincar com músicas que contenham rimas e jogos com palavras torna o aprendizado divertido e reforça a compreensão das estruturas linguísticas.
E quem apoia os pais?
Ao longo dessa caminhada, um olhar acolhedor para os familiares é fundamental, afinal, eles também carregam seus medos e incertezas. Do desconhecimento do universo da dislexia, passando para a descoberta do diagnóstico e avançando para as batalhas travadas em busca de todo apoio necessário, os cuidadores também precisam ser cuidados. A colaboração entre familiares e instituições que se dedicam a gerar e compartilhar informações e ferramentas que impactam positivamente a vida de brasileiros com dislexia, como o Instituto ABCD, promovem essa rede de apoio ampla, disponibilizando não só os recursos necessários para acolher as famílias de crianças com dislexia mas também enfatizando a importância da empatia por todos os envolvidos nesse processo.
Neste mundo novo para pais e filhos, os Grupos de Apoio são fundamentais. Eles auxiliam a família a reconhecer e apoiar suas crianças com dislexia, e têm um papel crucial na orientação, atuando inclusive na capacitação, por meio de simpósios, palestras e cursos. Para além desse suporte, os Grupos também trabalham na frente de luta por políticas públicas e legislação adequada.
Criar e manter um Grupo de Apoio não é tarefa fácil. Por isso, o Instituto ABCD apoiou, em junho deste ano, o lançamento da cartilha "Mães do Brasil – Como iniciar um Grupo ou Associação". O instrumento auxilia aqueles que desejam estabelecer grupos de apoio, permitindo que cada passo desta jornada seja bem orientado, informado e sustentado.
A cartilha "Mães do Brasil", foi desenvolvida pelo Grupo Nacional Mães do Brasil, a Associação Baiana de Dislexia (DISLEXBAHIA), e a Associação Matogrossense de Dislexia (Dislexia MT), parceiros incansáveis na divulgação de informações essenciais e na promoção da conscientização do tema - se tiverem oportunidade, sugiro acompanhá-los nas redes sociais.
É assim, juntos, que criaremos um ambiente mais acolhedor e inclusivo, em que todos se ajudam. Grupos que apoiam familiares; mães e pais que seguram na mão das crianças; crianças que podem confiar num mundo em que adultos se esforçam para tornar a jornada de pessoas com dislexia mais leve, acreditando na potência de cada criança.
*Juliana Amorina é diretora-presidente do Instituto ABCD
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