Quais estratégias poderiam ser implementadas para combater a violência física e formas mais silenciosas de agressão?

A campanha Agosto Lilás reforça canais de denúncia como o Ligue 180 e delegacias especializadas. Combata a agressão e a violência contra a mulher

Andressa Taketa* Publicado em 18/08/2025, às 08h00

Agosto Lilás incentiva ações educativas que fortalecem a rede de apoio às vítimas e promovem o empoderamento feminino - pexels

Como psicóloga especialista em relacionamentos abusivos, observo com preocupação o aumento da violência contra a mulher no Brasil. Apesar da Lei Maria da Penha e campanhas como o Agosto Lilás, os feminicídios continuam crescendo. Isso mostra que informar não basta, precisamos agir em múltiplas frentes.

Muitas mulheres ainda têm medo de denunciar. Falta orientação prática, acolhimento, segurança e fé na justiça. É preciso descomplicar o processo: mostrar o passo a passo, garantir proteção efetiva e, principalmente, treinar os profissionais para não revitimizar quem já está em dor. A denúncia só vira salvação quando a vítima sente que não está sozinha e isso só acontece com redes de apoio fortes, empáticas e eficazes.

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É necessário maior conscientização sobre a violência psicológica, pois existe uma escalada da violência e agressão física é só a ponta do iceberg. Violência psicológica, patrimonial, moral e sexual também destrói, só que por dentro. E o pior: muitas vezes, a própria mulher não reconhece que está sendo violentada. Por isso, precisamos falar mais sobre manipulação, chantagem emocional, controle, gaslighting, tratamento de silêncio e sabotagem financeira.

É importante a promoção de espaços seguros em comunidades para mulheres compartilharem experiências, identificarem abusos e fortalecerem autonomia. Campanhas sobre violência psicológica, apoio psicológico e jurídico acessível.

Educação emocional, respeito às diferenças, autoestima e relações saudáveis devem ser ensinados desde a infância. Mulheres fortalecidas não aceitam migalhas. Homens conscientes não perpetuam abusos. Comunidades informadas não se calam diante da violência.

Homens também precisam ser educados, enquanto campanhas continuarem falando só com mulheres, o problema persiste. Homens precisam ser chamados à responsabilidade. Falar sobre masculinidade tóxica, empatia e limites não é atacar, é prevenir. Não basta dizer “denuncie” para a vítima. Precisamos dizer “pare agora” ao agressor.

Por fim, a mídia tem o dever de informar com ética, sem romantizar o agressor nem culpabilizar a vítima. Já as redes sociais devem ser espaços de denúncia, apoio e mobilização, não de julgamento. A opinião pública pode ser a linha entre a omissão e a salvação.

Agosto Lilás não é apenas um mês de conscientização. É um grito coletivo de que já passou da hora de romper o ciclo de silêncio, medo e omissão. Toda mulher tem direito a uma vida livre de violência. E toda sociedade tem o dever de garantir isso.

 

*Andressa Taketa é Psicóloga

*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres

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