Brasil bate recorde de divórcios em 2021, mas os filhos continuam sendo filhos, nada muda
Helen Mavichian* Publicado em 30/07/2022, às 16h49
No ano passado, o Brasil registrou mais de 80 mil divórcios. É a maior alta desde 2007, segundo o Colégio Notarial, que representa 8.580 cartórios e notas do país. O número superou em 4% o recorde de 2020. O processo de separação é sempre orquestrado por um tumulto de sentimentos e emoções. Se não é nada fácil para os adultos, imagina para as crianças?
O rompimento entre um casal tem praticamente o peso de um luto para um filho, pois significa a perda da rotina a que estava acostumado e a desconstrução da estrutura que reconhece como família. A grande questão é como atravessar esse período de turbulência da melhor forma para que todos, em especial os filhos, passem por essa fase de forma saudável. A cada dia que passa, mais queixas e desabafos decorrentes desse assunto marcam presença em consultórios de psicoterapia, seja na fala dos adultos ou dos filhos frutos dessas uniões.
Em processos de separação é muito importante que os pais não confundam o casal conjugal desfeito com o parental. O relacionamento pode ter chegado ao fim, mas os papéis de pai e mãe não mudam, essa é uma missão eterna. Misturar essas estações faz com que o divórcio aconteça de forma insegura, instável e traumática para todo o núcleo familiar – e, claro, as crianças são as que mais sofrem nesse caso.
O principal obstáculo para os filhos é entender, na prática, o que vai de fato mudar na sua vida. Por isso, é fundamental conversar com as crianças e trabalhar com a verdade, independentemente da idade que tenham. O momento ideal para essa conversa sobre o divórcio é quando a separação já estiver bem definida entre o casal, antes mesmo de um dos cônjuges sair de casa.
Essa verdade não precisa incluir o motivo do rompimento. O que importa é que fique claro como será a nova rotina e que os filhos se sintam seguros. Em um momento como esse, estabelecer um diálogo calmo e objetivo fará toda a diferença, uma vez que as crianças sentem necessidade de encontrar um significado para o que estão vivendo. Os pais devem, portanto, buscar explicar claramente o que está acontecendo. Os filhos precisam entender coisas do dia a dia, entre elas, se durante a semana e aos finais de semana vão ficar na casa do pai ou da mãe e quem ficará no espaço que eles reconhecem como lar.
Nesse momento do diálogo, é imprescindível que os pais tenham ciência de algumas coisas:
É fundamental que a notícia sobre o divórcio do casal seja dada aos filhos pelos pais e não por terceiros;
Os pais precisam ouvir e prestar atenção às reações de seus filhos. Dúvidas surgirão e precisam estar preparados para responder às questões;
Não devem apontar culpados da situação e as crianças não precisam saber dos motivos que os levaram a tomar tal decisão;
Expectativas de reconciliação não podem ser criadas. Ao tomar a decisão da separação e comunicar aos pequenos, os pais devem estar seguros da decisão;
As visitas e a nova rotina familiar devem ser explicadas, por exemplo, se incluir mudança do endereço que reconhecem como lar ou se terão que mudar de escola;
Pode surgir na criança um sentimento de culpa. Cabe aos pais deixar claro que isso não tem nada a ver com seu comportamento ou com algo que ele faça ou tenha feito;
Um profissional poderá auxiliar os pais tanto no anúncio da separação quanto acompanhando o comportamento das crianças nos primeiros meses.
Após o divórcio é primordial que exista parceria entre os pais, afinal, os filhos são para sempre. Devem ser evitados comportamentos como tirar ou diminuir a autoridade de um dos pais, falar mal um do outro para o filho ou discutir na frente deles. Entre as atitudes que devem ser evitadas, estão o hábito de um perguntar como é a vida ou a rotina na casa do outro e o uso do relacionamento com um dos pais como moeda de troca ou chantagem.
Falar para os filhos sobre a decisão do divórcio nunca será uma tarefa fácil. Eles podem reagir das mais variadas formas. Há os que ficam magoados com o pai ou a mãe, os que começam a ter um baixo rendimento escolar, os que se tornam agressivos e até os que aceitam numa boa, se sentem mais leves. Mas, acima de tudo, o mais importante é que eles entendam e tenham sempre muito claro que seus pais continuarão sempre os amando.
* Helen Mavichian é psicoterapeuta especializada em crianças e adolescentes e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É graduada em Psicologia, com especialização em Psicopedagogia. Pesquisadora do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social, da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui experiência na área de Psicologia, com ênfase em neuropsicologia e avaliação de leitura e escrita. Mais informações em https://helenpsicologa.com.br/
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