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Você sabia? Vacina BCG, usada contra a tuberculose, também trata o câncer de bexiga

A Imuno BCG, derivada da vacina contra a tuberculose, é uma das principais alternativas para prevenir a recorrência do câncer de bexiga

Redação Publicado em 29/10/2024, às 06h00

Vacinas salvam vidas
Vacinas salvam vidas

Pouca gente sabe, mas a vacina BCG, amplamente conhecida por prevenir a tuberculose, também desempenha um papel crucial no tratamento do câncer de bexiga, por meio de sua versão terapêutica conhecida como Imuno BCG. Esse tratamento utiliza o Bacilo Calmette-Guérin (BCG) para estimular o sistema imunológico a combater células cancerígenas em pacientes com câncer de bexiga não invasivo.

O processo, que pode parecer inusitado à primeira vista, tem sido amplamente adotado por especialistas e é uma terapia eficaz para evitar a recidiva do tumor. O Dr. André Berger, uro-oncologista e especialista em cirurgia robótica, explica que, apesar de derivarem da mesma bactéria, a vacina BCG utilizada na prevenção da tuberculose e o Imuno BCG usado no tratamento do câncer de bexiga têm finalidades e aplicações diferentes.

“A vacina BCG é administrada em bebês para prevenir formas graves de tuberculose, enquanto o Imuno BCG é uma versão modificada do bacilo usada no tratamento do câncer de bexiga. No caso do câncer, a substância é aplicada diretamente na bexiga por meio de um cateter, estimulando uma resposta inflamatória que ativa o sistema imunológico local para atacar as células tumorais remanescentes”, explica Berger.

Curiosidade médica: Da tuberculose ao câncer de bexiga

A BCG foi desenvolvida no início do século XX para proteger contra a tuberculose, doença grave causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, que afeta principalmente os pulmões. No entanto, sua aplicação no tratamento do câncer de bexiga foi descoberta décadas depois, quando pesquisadores perceberam que a vacina, ao ser introduzida diretamente na bexiga, não apenas protegia contra infecções, mas também estimulava o sistema imunológico a atacar células cancerosas. Esse efeito ocorre porque a vacina provoca uma inflamação controlada no revestimento da bexiga, ativando as células de defesa.

“Essa resposta imune é o que torna o Imuno BCG tão eficaz em prevenir a progressão e a recorrência do câncer de bexiga, especialmente em estágios iniciais da doença”, diz o Dr. André Berger.

Quem deve usar o Imuno BCG no tratamento do câncer de bexiga?

O Imuno BCG é indicado principalmente para pacientes com câncer de bexiga não invasivo, ou seja, quando o tumor ainda não atingiu as camadas musculares do órgão. Nesses casos, após a remoção cirúrgica do tumor, a substância é aplicada diretamente na bexiga por meio de um cateter, em um procedimento conhecido como instilação intravesical.

O tratamento dura de seis a oito semanas, visando evitar que o tumor volte a crescer. “O tratamento com Imuno BCG é considerado padrão para esses pacientes e apresenta uma taxa de sucesso significativa, prevenindo a recorrência em uma grande parte dos casos”, detalha Berger.

Resultados e vantagens do tratamento com Imuno BCG

Uma das principais vantagens do uso do Imuno BCG no tratamento do câncer de bexiga é o fato de ser uma terapia minimamente invasiva, especialmente em comparação com tratamentos mais agressivos como a quimioterapia.

Estudos indicam que até 70% dos pacientes tratados com Imuno BCG para câncer de bexiga não invasivo não apresentam recidiva da doença após cinco anos. Esse é um número expressivo, considerando a alta taxa de recorrência desse tipo de câncer. Além disso, o Dr. André Berger aponta que a terapia com Imuno BCG também pode evitar a necessidade de tratamentos mais invasivos, como a remoção total da bexiga. “O Imuno BCG permite que muitos pacientes mantenham sua bexiga e tenham uma qualidade de vida muito melhor.

É uma opção eficaz que, se aplicada corretamente, pode impedir a progressão da doença para estágios mais graves e invasivos”, afirma o especialista.

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Efeitos colaterais e contraindicações

Embora seja considerada uma terapia segura, o Imuno BCG também pode apresentar alguns efeitos colaterais leves, como irritação na bexiga, febre e cansaço. Em casos raros, podem ocorrer complicações mais sérias, como infecções sistêmicas. Por isso, o tratamento deve ser monitorado de perto por um médico especializado. “O acompanhamento regular é essencial para garantir que o paciente responda bem ao tratamento e não apresente complicações”, reforça Dr. Berger.

O Imuno BCG não é indicado para pacientes imunodeprimidos, como aqueles com HIV ou que estejam em tratamento para outras doenças que afetam o sistema imunológico.

Novos avanços no uso da BCG

Nos últimos anos, novas pesquisas têm expandido o uso da BCG além do câncer de bexiga. Estudos recentes estão explorando combinações da BCG com imunoterapias modernas, como o Anktiva, para tratar pacientes que não respondem bem à BCG tradicional.

Essas novas abordagens mostram resultados promissores, aumentando as taxas de remissão e preservando a bexiga em mais casos. Além disso, estão sendo testadas novas formulações da BCG, combinadas com medicamentos como gencitabina, para aumentar a eficácia do tratamento e reduzir a recorrência do câncer de bexiga. Esses avanços não se limitam ao câncer de bexiga.

Pesquisas também estão explorando o potencial da BCG no tratamento de outros tipos de câncer, como melanoma e câncer de pulmão. A ideia é usar a mesma lógica: estimular o sistema imunológico a atacar as células cancerosas. Com mais estudos em andamento, a BCG pode abrir novas perspectivas no campo da oncologia, oferecendo alternativas menos invasivas e eficazes para vários tipos de câncer.

A terapia com Imuno BCG para o câncer de bexiga é um exemplo impressionante de como uma vacina originalmente desenvolvida para tratar uma doença infecciosa pode ser reaplicada no combate ao câncer. Para pacientes com câncer de bexiga não invasivo, essa técnica oferece uma alternativa eficaz e menos invasiva para prevenir a recorrência da doença.

André Berger

Uro-Oncologista e Cirurgião Robótico - CRM: 26450* É especialista em cirurgia robótica para o tratamento de doenças benignas e cânceres geniturinários localizados na próstata, no rim e na bexiga. É coordenador do Núcleo de Robótica do Hospital Moinhos de Vento (HMV), em Porto Alegre. Também é Coordenador Nacional de Uro – Oncologia do Grupo Oncoclínicas. Nos últimos anos, o especialista também contribuiu no desenvolvimento dos programas dos hospitais da Rede D'Or, em São Paulo, Rio de Janeiro, e Recife, além de dar suporte em Curitiba e Londrina.