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Setembro é o mês do médico ortopedista

O mês celebra a importância do ortopedista e lembra também a fundação da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT)

David Nordon* Publicado em 10/09/2022, às 06h00

Confira 10 perguntas e respostas sobre ortopedia infantil
Confira 10 perguntas e respostas sobre ortopedia infantil

Prevenir e tratar as deformidades da estrutura óssea, tendões, ligamentos, músculos e articulações – sejam congênitas ou causadas pelo tempo -, são funções do médico ortopedista que, pela importância, tem data em sua homenagem, celebrada em 19 de setembro. O dia também chama a atenção para a fundação da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).

Em comemoração ao mês do ortopedista, e para ajudar os pais, principalmente os de “primeira viagem” a compreenderem um pouco melhor a anatomia infantil e quais os problemas que o uso de alguns assessórios pode causar, convidamos o ortopedista pediátrico David Nordon para essa entrevista ping-pong. O especialista é formado pelo HC-FMUSP e professor da PUC-SP, Campus Sorocaba.

1 – Existem diferentes tipos de carregadores para bebês. Um deles é o sling – faixa de tecido com aproximadamente cinco metros de comprimento por 60cm de largura, que possibilita diferentes tipos de amarração - bastante usado pelas mamães modernas. É verdade que esse acessório pode causar displasia de quadril na criança?

Não, isso é um mito! O sling, na realidade, é um dos melhores tipos de carregadores que existe. Ao ser usado de forma correta – na posição de sapinho – ele mantém o quadril no ponto adequado para prevenir a displasia do quadril. Por outro lado, existem alguns slings mais curtos, que geralmente já vêm com argolas, e são ajustados com a criança coladinha à frente da mãe ou pai, onde as pernas ficam muito juntas. Esse tipo pode causar problemas.

2 – E o carregador tipo “canguru”? Esse está liberado ou tem restrições de uso? Quais problemas pode causar?

Para o canguru é o mesmo tipo de atenção. Poucas marcas são consideradas verdadeiramente ergonômicas e, assim, podem causar displasia do quadril. A marca ergonômica deve conseguir deixar o bebê sentadinho, na mesma posição de sapinho, com as pernas bem abertas. O apoio da “cadeirinha” do canguru deve chegar até a prega dos joelhos, apoiando bem o bebê – da mesma forma como o sling na amarração tradicional. A principal complicação é a displasia do quadril. O bebê, ao ficar em uma posição inadequada, com todo o apoio na virilha e as pernas caídas, força o quadril para fora. Outras complicações, como problemas de circulação, são raríssimas.

3 – As cadeirinhas de carro são seguras e anatomicamente adequadas? Existe um modelo ideal? Como a criança deve ser posicionada?

Sim, as cadeirinhas são excelentes (desde que sejam de marcas confiáveis e aprovadas pelos órgãos de regulação) e são a melhor forma de proteger os pequenos em acidentes de carro. Elas diminuem o risco de morte em mais de 70%!

Lembre-se que, com a nova legislação, deve-se usar:

  •  Cadeirinha voltada para trás: até 13 kg;
  • Cadeirinha voltada para frente: até os 4 anos;
  • Elevador de assento: até os 10 anos;
  • A criança precisa ter pelo menos 1,45m ou não conseguirá usar o cinto de segurança de três pontas adequadamente (ele não funciona em crianças abaixo desta altura!)

4 – Qual a sua opinião sobre o andador? Verdade que o acessório, ao contrário do que se pensa, não estimula a criança a andar?

Por mim (e em vários países do mundo), o andador deveria sair de circulação para sempre. Ele não só atrapalha a criança a andar, como atrasa; faz aprender a andar de forma errada; aumenta o risco de displasia do quadril. Por fim, aumenta, e muito, o risco de morte. Por isso, prefira o empurrador, que é aquele igual ao de idosos. A criança somente precisa empurrar.

5 – Enrolar o bebê em uma manta, como um charutinho, pode comprometer o quadril da criança? Em sendo verdade, por qual motivo isso acontece?

Sim, pode levar à displasia de quadril. Deixar o bebê com a perna esticada e apertadinha forçará o quadril a sair do lugar. Essa é a principal causa que leva ao problema. Nas populações de esquimós italianos e índios sul-americanos, que têm esse costume, a incidência de displasia é muito maior. No entanto, fazer um “charutinho” que deixa as pernas soltas, não tem problema.

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6 – Como você recomenda que o bebê seja colocado na manta ou no cobertor para ser segurado no colo ou colocado no berço ou carrinho?

Aqui é importante que a criança esteja sempre com as perninhas soltas. Não é recomendado o uso de cobertores ou mantas para cobrir a criança quando é muito pequenininha por conta do risco de ela não conseguir se descobrir e ficar sem ar. Quando colocar o bebê deitado com mantas e cobertores, o ideal é prender as bordas para que ele não consiga se enrolar nelas quando se mexer. Lembre-se de garantir que as pernas estejam livres. Na hora de pegar no colo, a melhor posição é a de sapinho, jamais force o fechamento das pernas do bebê. Também, nos primeiros seis meses, o bebê sempre deve dormir com a barriga para cima. Não é por razões ortopédicas, mas por prevenção de morte súbita. Evite deixar o bebê muito tempo em carrinhos ou carregadores tipo “moisés”, pois pode aumentar o risco de torcicolo muscular congênito.

7 – Sobre o “pé chato” dos pequenos. Verdade ou mentira que as palmilhas, botinhas e sapatos ortopédicos resolvem o problema?

É mentira! Não resolvem. O arco do pé é formado por genética e surgirá entre os dois e dez anos de idade. Depois desse período, ou formou ou não formou; não tem nada que o molde.

8 – Os pais devem ou não deixar as crianças andarem descalças? O que você recomenda?

Sim! Uma das melhores coisas que pode ser feita pela criança é deixá-la andar descalça. Deixe que sinta a textura dos diferentes tipos de piso, pois isso ajuda no desenvolvimento motor e de coordenação. No entanto, ao contrário do que se fala, não fará com que o arco do pé seja desenvolvido. Isso é um mito.

9 – Crianças podem desenvolver dores na coluna ou na lombar assim como os adultos? Como os pais podem evitar o problema?

Antigamente era uma raridade criança sentir dores nas contas. No entanto, com a vida moderna e a tecnológica – televisões, celulares e tablets – isso se tornou comum. As dores estão relacionadas com a permanência em uma mesma posição por muito tempo ou, ainda, manter a inclinação do corpo muito para frente ou curvado para conseguir mexer no equipamento. E ainda existe o mobiliário escolar que, muitas vezes, não é adequado, como vários estudos comprovam. A consequência é o desenvolvimento de dores na lombar e região dorsal, perto do pescoço. Para evitar, o ideal é corrigir a postura e adequar a ergonomia do espaço, fazendo com que a criança, ao acessar o computador, por exemplo, esteja sentada com a coluna reta, a tela na altura dos olhos, o cotovelo fletido em 90º e apoiado na mesa para digitar. Para o celular, providenciar um apoio para que a cabeça não fique inclinada também é uma boa opção.

10 – É verdade que o uso de tabletes e celulares pode causar a síndrome do pescoço de smartphone? O que é a doença, como acontece e quais as consequências?

Sim, é verdade! Essa é uma doença descrita pela primeira vez em 2007, mas que até então era diagnosticada em cirurgiões e outros profissionais que curvam muito a cabeça. O grande problema é permanecer com a cabeça inclinada para frente. Imagine que uma cabeça, a qual pesa em torno de 5kg, passa a pesar 28kg! A musculatura precisa se esforçar muito para segurá-la, o que gera dores e sobrecarga óssea – levando a uma artrose precoce. Ainda não existem estudos de como isso se desenrola nas crianças. No entanto, na experiência com adultos, no caso dos cirurgiões, que começam a operar com 30 anos de idade, por exemplo, existe a artrose. Já vemos crianças de cinco anos com esse problema!

médico
David Nordon

*David Nordon é médico ortopedista pediátrico pelo HC FMUSP - Professor da disciplina de Saúde Pública da PUC-SP (Campus Sorocaba) e de ortopedia e medicina preventiva do Estratégia MED (curso preparatório On-line para provas de Residência Médica), Mestrando da USP, Pesquisador do Instituto de Ortopedia do Hospital das Clínicas (HCFMUSP) e idealizador do Projeto Pequenos Passos, projeto filantrópico de tratamento de pé torto congênito