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Saúde mental materna: um cuidado que é de todos

Falar sobre saúde mental materna é reconhecer que o bem-estar das mães impacta toda a sociedade

Heloisa Oliveira* Publicado em 09/10/2025, às 06h00

Mãe exausta cuida de bebê
Ser mãe é um papel que exige entrega física, mental e emocional - Foto: Canva Pro

A maternidade, frequentemente idealizada, esconde uma realidade de esgotamento e sofrimento psíquico, com mulheres enfrentando pressões sociais e mudanças hormonais desde a gestação, o que pode levar ao burnout materno.

Estudos indicam que uma em cada quatro mães no Brasil sofre de depressão pós-parto, com fatores de risco como gravidez não planejada e baixa condição socioeconômica, revelando a necessidade de um olhar mais atento sobre a saúde mental materna.

O Congresso Nacional discute a aprovação do projeto de Lei nº 5.063, que visa instituir políticas de apoio à saúde mental das mães, um passo importante para reconhecer e tratar esses problemas de forma mais eficaz.

Resumo gerado por IA

Por trás da imagem idealizada da maternidade, existe uma realidade muitas vezes marcada por esgotamento e sofrimento psíquico. Ser mãe é um papel que exige entrega física, mental e emocional e que, por isso, pode desencadear sérios desequilíbrios de saúde mental.

Desde a gestação, as mulheres enfrentam mudanças hormonais e cobranças sociais, carregando o peso de expectativas muitas vezes irreais. Após o nascimento do bebê, as demandas aumentam: noites mal dormidas, cuidados intensivos, vida pessoal e profissional colocadas em segundo plano e pouco ou nenhum tempo para si mesmas.

Esse cenário pode levar ao chamado “burnout materno”, um estado de exaustão que ultrapassa o cansaço físico. O tema está em discussão no Congresso Nacional. O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou recentemente o projeto de Lei nº 5.063, de 2023, de autoria da Deputada Maria do Rosário, cuja proposta é instituir uma política de apoio e prevenção da estafa mental ou burnout relacionado à maternidade. Essa proposta, que contou com as relatorias das deputadas Ana Pimentel, Laura Carneiro e Samia Bonfim, segue agora para análise no Senado Federal, e sua aprovação poderá representar um passo importante no reconhecimento desse problema.

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Outro desafio é a depressão pós-parto, transtorno caracterizado por tristeza profunda, ansiedade, alterações no sono, no apetite e dificuldade no vínculo com o bebê. Está associada a fatores físicos, emocionais e sociais. Mulheres que enfrentam a depressão pós-parto podem ter mais dificuldade em amamentar e acompanhar o desenvolvimento dos filhos.

A solidão é um ponto crítico: muitas mães relatam sentir-se sozinhas em suas dores, mesmo cercadas de pessoas. A ausência de uma rede de apoio — emocional, prática e institucional — aumenta o risco de adoecimento.

Segundo estudo da Fiocruz, uma em cada quatro mães no Brasil sofre de depressão pós-parto, taxa bem mais elevada do que a estimada pela Organização Mundial da Saúde para países de baixa renda. A pesquisa revelou ainda que os fatores de risco mais comuns são a gravidez não planejada, baixa condição socioeconômica, antecedentes de transtornos mentais, cor parda e hábitos não saudáveis, como o uso excessivo de álcool.

Esses dados acendem um sinal de alerta. É urgente desconstruir a ideia de que maternar é sempre natural, instintivo e gratificante. Maternidade também envolve renúncia, falhas e cansaço — e isso precisa ser reconhecido com empatia e sem julgamentos.

Cuidar da saúde mental das mães é cuidar de toda a sociedade. É criar espaços onde mulheres possam pedir ajuda sem medo de serem vistas como fracas ou inadequadas.

*Heloisa Oliveira é diretora-presidente do Instituto Opy

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