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Risco de uso problemático de álcool é maior na população LGBTQIA+

Situações como discriminação e homofobia podem abalar a saúde física e mental e expor população LGBTQIA+ ao abuso de álcool e outras substâncias

Mariana Thibes* Publicado em 24/07/2023, às 14h00

Só em 2023 já se somam 13,8 mil denúncias registradas por pessoas LGBTs de violações de direitos humanos.
Só em 2023 já se somam 13,8 mil denúncias registradas por pessoas LGBTs de violações de direitos humanos.

Embora pouco se saiba ainda sobre os transtornos por uso de substâncias em minorias, pesquisas indicam que existem diferenças significativas conforme a orientação sexual e de gênero. Os estudos sugerem que a população LGBTQIA+ seria mais propensa a relatar o uso e a dependência de álcool em comparação com heterossexuais.

Por trás das maiores chances de vivenciar um transtorno por uso de substâncias estaria a exposição crônica ao estresse, enfrentada de forma mais intensa por minorias sexuais e de gênero. Situações como discriminação e homofobia podem abalar a saúde física e mental, aumentando o risco do álcool ou outras substâncias serem utilizados como um “anestésico”, o que pode no final levar ao abuso desse consumo. O medo de sofrer preconceito pode gerar ansiedade nas interações sociais, e na ausência de suportes adequados, o álcool acaba servindo como um meio de atenuar os sentimentos de angústia.

As pesquisas são internacionais, mas descrevem um cenário que ultrapassa fronteiras. Para se ter ideia, aqui no Brasil, somente nos cinco primeiros meses de 2023, as denúncias registradas por pessoas LGBTs no canal ‘Disque 100’ resultaram em 13,8 mil registros de violações de direitos humanos. Houve um aumento de mais de 300% no número de denúncias, de acordo com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, em meio às ações do mês do Orgulho LGBT+.

Além de políticas públicas que garantam os direitos de minorias sexuais e de gênero, também é fundamental o acesso aos cuidados de saúde mental. Os equipamentos de saúde precisam estar preparados para atender as necessidades específicas dessas pessoas, com equipes treinadas para realizar o suporte sem a perpetuação de estigmas. Grupos de ajuda mútua, como Alcoólicos Anônimos, também podem ser uma boa opção para os que se sentem confortáveis com essa prática. Atualmente, inclusive, há reuniões específicas para a população LGBTQIA+. Para saber mais, acesso o link: https://padlet.com/diversidadealcoolicosanonimos/reuni-es-da-diversidade-a-a-5slgr5u5bfy8lwa3 .

Veja também 

Também é importante fazer um alerta sobre os limites de consumo para pessoas LGBTQIA+. As diretrizes de consumo de álcool são pautadas em diferenças entre os sexos, criando dúvidas para pessoas trans. No entanto, enquanto não há diretrizes específicas para essa população, existem algumas recomendações que podem orientar o consumo:

  1. Homens e mulheres transgênero que estejam passando por terapia hormonal podem ser aconselhados a não fazerem uso de álcool durante o processo, pois a substância pode interferir negativamente no tratamento. Na dúvida, converse com seu médico.
  2. É recomendável que homens e mulheres transgênero que não estejam fazendo terapia hormonal, e que desejam beber, consumam o máximo de uma dose de álcool por ocasião. Esta recomendação pauta-se no que é indicado a outras populações com maior risco de problemas relacionados ao álcool, como idosos e pessoas do sexo feminino.

Mariana Thibes é socióloga e coordenadora do CISA – Centro de Informações sobre Saúde e Álcool. Possui doutorado em Sociologia pela USP e pós-doutorado em Ciências Sociais pela PUC-SP.