Mariana Kotscho
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Dia Mundial da Menopausa: o despertar de uma causa silenciada

Depois de séculos de invisibilidade, a menopausa ganha voz e espaço nas políticas públicas, marcando o despertar de uma causa

Redação Publicado em 18/10/2025, às 06h00

muher se abana com jornal
Por muitos anos, a saúde da mulher na menopausa foi totalmente negligenciada em termos de pesquisa, políticas públicas e conscientização - Foto: Canva Pro

Cerca de 30 milhões de mulheres no Brasil estão na fase do climatério e menopausa, mas apenas 238 mil foram diagnosticadas pelo SUS, evidenciando uma grave falta de atenção à saúde feminina nessa etapa da vida, que afeta a qualidade de vida de 82% delas.

A negligência histórica em relação à menopausa, que remonta a séculos, resultou em tabus e falta de pesquisa, enquanto outras fases da vida feminina receberam mais atenção, gerando um movimento crescente por reconhecimento e políticas públicas adequadas.

No Congresso, a deputada Silvye Alves propôs um Projeto de Lei para instituir uma Política Nacional de Atenção à Saúde das Mulheres na Menopausa, enquanto a deputada Ana Paula Lima busca garantir tratamentos hormonais no SUS, com ambas as propostas em análise nas comissões competentes.

Resumo gerado por IA

Segundo cálculos do IBGE, aproximadamente 30 milhões de mulheres no Brasil estão vivendo na faixa etária do climatério e menopausa, ou seja, 7,9% da população feminina – um número bastante expressivo. E dentro desse vasto universo, somente cerca de 238 mil mulheres foram diagnosticadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Por outro lado, a revista científica Climateric indica que 82% das brasileiras nessa faixa etária apresentam queixas que comprometem sua qualidade de vida - entre eles fogachos, ansiedade, depressão, insônia, osteoporose, queda de cabelos, fadiga, névoa mental e até ataques de pânico - são cerca de 100 sintomas atordoando a ala feminina. 

Por muitos anos, a saúde da mulher na menopausa foi totalmente negligenciada em termos de pesquisa, políticas públicas e conscientização, gerando um gap histórico que afeta profundamente o tratamento desta fase de vida feminina. Enquanto questões como a primeira infância, o início da adolescência, a menarca, a saúde reprodutiva, a gravidez e a maternidade receberam atenção excepcional, o climatério, a menopausa e a pós-menopausa permaneceram silenciados e até estigmatizados. 

A história da negligência em torno da Menopausa remonta a séculos e carregou tabus doloridos na jornada da história da mulher. ‘’ Por volta de início de 1900, ainda existiam clínicas que eram destinadas às mulheres na sua maturidade pelas psiquês, mas o assunto nunca foi visto pela ótica da variável hormonal ou dos sintomas dos prejuízos da menopausa. Então, os médicos direcionavam estas mulheres para um ambiente de ou sedação ou eletrochoque, como formas de controlar isso’’, nos conta a Dra. Fabiane Berta, médica e pesquisadora especialista em menopausa e terapia hormonal inteligente, uma das fundadoras do movimento MyPausa.

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Para a Dra. Berta, "Estamos num momento em que se despertou um olhar para a menopausa, sob pressão civil mesmo. Nós, mulheres, estamos cobrando iniciativas para sermos vistas nesse momento.  Hoje, a gente mudou um pouco. As mulheres não estão tanto buscando a maternidade. Desejam bem estar, qualidade de vida e manter uma longevidade mais saudável’’. E completa: ‘’A sociedade está despertando para o climatério e a menopausa e vão pipocando iniciativas aqui e ali. Porque, nós mulheres de 35 a 65 anos, somos 52% do país. Uma causa pela menopausa pode eleger um presidente. Nós somos metade da população de um país que trabalha. Então é questão de política pública, sim. Se tratamos a menopausa, trata-se o relacionamento com o marido, com filhos, o relacionamento interpessoal com a própria mulher e também o pertencimento dela no trabalho’’.

No Congresso Nacional, o tema começa a ganhar atenção das parlamentares. A deputada Silvye Alves (União Brasil – GO) propôs o Projeto de Lei 4504/24, que institui a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde e Qualidade de Vida de Mulheres na Menopausa. O objetivo é promover, assegurar e integrar ações voltadas à saúde física, emocional e social das mulheres na fase da menopausa e climatério, garantindo mais qualidade de vida. 

Pela proposta, em análise na Câmara dos Deputados, a política nacional também deverá:

  • prevenir e tratar os sintomas e condições associadas à menopausa, como osteoporose, doenças cardiovasculares e alterações emocionais;
  • ampliar o acesso a medicamentos, terapias e exames necessários para mulheres na menopausa, sem ônus para as usuárias do Sistema Único de Saúde (SUS);
  • estimular a criação de programas de apoio psicossocial e grupos de acolhimento para mulheres na menopausa;
  • executar ações educativas em instituições de ensino e comunidades para promover uma cultura de respeito e conscientização; e
  • implantar medidas no ambiente de trabalho, como suporte.

Sylvie afirma que a menopausa é um tema pouco discutido e insuficientemente tratado no SUS e em outras esferas de atenção pública. 

A proposta, que tramita em caráter conclusivo, será analisada pelas comissões de Defesa dos Direitos da Mulher; de Saúde; de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Para virar lei, tem que ser aprovada pela Câmara e pelo Senado.  No momento, encontra-se em análise no Comitê da Saúde, aguardando a relatoria para ir à votação.

Em movimento parecido, a deputada federal Dra. Ana Paula Lima (PT-SC) desenhou o Projeto de Lei 876/2025, que determina que o SUS tenha e disponibilize tratamentos hormonais seguros e eficazes para as mulheres que sofrem com os sintomas da menopausa e do climatério. 

“Os medicamentos oferecidos pelo Sistema Único de Saúde deverão ser aprovados pela Anvisa e avaliados pela Comissão Nacional de Incorporação e Tecnologia do Sistema Único de Saúde para garantir a qualidade do tratamento e também conforme a orientação médica”, explica a autora, formada em enfermagem e obstetrícia. No mês passado, felizmente, a proposta foi aprovado  na Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados

Já nesta quinta-feira, 16, a Comissão de Saúde da Câmara dos Deputados realizou uma audiência para discutir políticas voltadas às mulheres na menopausa. 

O debate aconteceu em sintonia com este Dia Mundial da Menopausa, celebrado hoje, e tem como objetivo promover o diálogo entre especialistas, autoridades e representantes da sociedade civil sobre acolhimento, prevenção e qualidade de vida das mulheres nessa fase natural, porém ainda pouco discutida.

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