Mariana Kotscho
Busca
» HEPATITE A

Brasil volta a registrar alta nos casos de hepatite A após uma década de queda

Especialistas alertam para os riscos da doença, a importância da vacinação e os cuidados básicos de higiene e saneamento para prevenir a hepatite A

Redação Publicado em 20/09/2025, às 06h00

Médico demonstra maquete de fígado, órgão atingido por hepatite
A hepatite A é uma doença causada por um vírus que atinge o fígado - Foto: Canva Pro

Depois de dez anos de queda consecutiva, o Brasil voltou a registrar aumento no número de casos de hepatite A. A doença, transmitida principalmente por água e alimentos contaminados, preocupa autoridades de saúde, que associam o crescimento recente a falhas no saneamento básico, baixa cobertura vacinal e mudanças nos hábitos sociais da população.

Segundo dados preliminares do Ministério da Saúde, algumas capitais brasileiras vêm observando surtos localizados, especialmente em áreas com infraestrutura precária de água e esgoto. O cenário acende um alerta, uma vez que a hepatite A é altamente contagiosa e pode se espalhar com rapidez em comunidades onde há aglomeração e higiene limitada.

Para a médica infectologista Renata Zorgetti Manganaro de Oliveira, que atua no Serviço de Controle de Infecção Hospitalar em São José do Rio Preto/ SP, a situação reforça a necessidade de vigilância constante. “A hepatite A é uma doença que pode ser prevenida, mas depende de ações integradas. Precisamos de saneamento adequado, acesso à vacinação e conscientização sobre higiene alimentar”, afirma.

Veja também

A hepatite A é causada por um vírus que atinge o fígado, provocando inflamação e sintomas como fadiga, febre, dores abdominais, náusea, vômitos e icterícia — quando a pele e os olhos ficam amarelados. Embora na maioria dos casos a doença seja autolimitada, ou seja, o próprio organismo consegue eliminá-la, em algumas situações pode evoluir para formas mais graves, como a hepatite fulminante.

Renata Oliveira explica que o risco é maior em adultos. “Em crianças pequenas, a infecção muitas vezes passa despercebida, sem sintomas graves. Já em adultos, as manifestações tendem a ser mais intensas e podem levar a complicações sérias, especialmente quando o paciente já tem outro problema hepático”, destaca a especialista.

A vacinação contra a hepatite A está disponível gratuitamente no Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças a partir de 12 meses até menores de cinco anos de idade. Além disso, o imunizante pode ser indicado para pessoas com doenças crônicas no fígado, imunossuprimidos, viajantes para áreas endêmicas e populações em situação de vulnerabilidade. “A vacina é segura e eficaz. Uma vez aplicada, confere proteção duradoura contra a enfermidade”, reforça a infectologista.

O desafio atual é ampliar a cobertura vacinal. Com a pandemia de Covid-19, muitos programas de imunização sofreram quedas importantes, e isso abriu espaço para o ressurgimento de doenças que estavam sob controle. “A baixa adesão às campanhas de vacinação tem impacto direto. Quando parte da população deixa de se vacinar, o vírus encontra brechas para circular novamente”, alerta Renata Oliveira.

Além da imunização, hábitos de higiene são fundamentais para a prevenção. Lavar bem as mãos antes de comer e após ir ao banheiro, consumir água potável de fontes seguras, higienizar frutas e verduras e evitar alimentos crus em locais de procedência duvidosa são medidas simples que reduzem significativamente o risco de infecção.

A infectologista também chama atenção para o papel do saneamento básico. “Grande parte dos surtos de hepatite A está relacionada à falta de coleta e tratamento de esgoto. Investir em infraestrutura de saneamento é investir diretamente na saúde da população”, ressalta.

O aumento recente de casos serve como alerta para que a hepatite A não seja negligenciada. Apesar de ser considerada uma doença de evolução benigna na maioria dos pacientes, sua disseminação pode sobrecarregar os serviços de saúde e expor populações mais vulneráveis a riscos sérios.

“A mensagem principal é que temos ferramentas eficazes para controlar a hepatite A. Vacinação, higiene adequada e saneamento são os pilares. Se cada um fizer sua parte e os governos garantirem políticas públicas consistentes, é possível reverter esse cenário e voltar a reduzir os casos no país”, conclui a médica.

Quer incentivar este jornalismo sério e independente? Você pode patrocinar uma coluna ou o site como um todo. Escreva para contato@marianakotscho.com.br