Atriz Marina Ruy Barbosa chama atenção em Cannes com visual impactante e hematomas, levantando questões sobre a estética feminina
Iza França* Publicado em 29/05/2025, às 06h00
Na última semana, a atriz Marina Ruy Barbosa atraiu olhares no tapete vermelho do Baile da amfAR em Cannes, não apenas pelo novo visual com fios loiros, mas por algo inesperado: seus braços estavam roxos, com veias salientes no ombro. A explicação veio logo depois — o vestido, assinado por Olivier Rousteing para a Balmain, pesava mais de 15 quilos.
Isso mesmo, mais de 15 quilos. De glamour. De expectativa. De imposição silenciosa.
Vivemos em um século onde a mulher já pode votar, liderar empresas e comandar países. Mas quando o assunto é liberdade estética, parece que ainda estamos engatinhando. Ainda se espera que ela aceite desconforto, dor e até lesões em nome da imagem. Uma imagem que, muitas vezes, não é sobre ela — é sobre os outros.
A prisão estética não tem grades visíveis, mas pesa. E não estamos falando só de vestidos. É o salto que desequilibra a coluna, a cinta que esmaga o estômago, o procedimento que paralisa expressões, o cabelo que não pode ter um fio fora do lugar. É o tempo, o dinheiro, a dor e o desgaste emocional gastos para atender a um ideal que não nasceu no espelho da mulher, mas no olhar social sobre ela.
É simbólico que Marina tenha escolhido revelar a causa dos hematomas com naturalidade — uma atitude que, por si só, já carrega resistência. Expôs o desconforto e, com isso, abriu espaço para uma discussão urgente: até que ponto a estética vale mais que o bem-estar? Quantas vezes o sofrimento foi romantizado como “sacrifício pela beleza”?
A liberdade feminina está, sim, nas grandes conquistas políticas e econômicas. Mas ela também mora nos pequenos detalhes: poder dizer não a um salto, escolher uma roupa confortável, se despir de expectativas alheias. Liberdade é não precisar performar beleza em tempo integral.
A estética pode — e deve — ser uma forma de expressão, não de opressão. E talvez a moda mais revolucionária que uma mulher possa usar seja aquela que respeita seu corpo. Um vestido leve, que não machuca. Um visual que acolhe. Um estilo que liberta.
Porque, no fim das contas, nenhuma mulher deveria sair ferida só por querer brilhar.
*Iza França é jornalista, relações-públicas e gestora de comunicação e marketing