Mariana Kotscho
Busca
» INCLUSÃO

Os filhos do Teleton

Um pouco da história do Teleton, com o colunista Raphael Preto Pereira

Raphael Preto Pereira* Publicado em 08/11/2022, às 06h00

Campanha Teleton 2022
Campanha Teleton 2022

Apesar de ser uma pessoa com deficiência, eu reluto sempre em escrever sobre esse assunto. Sou um jornalista, que escreve prioritariamente sobre temas relacionados à educação. Às vezes, os temas se cruzam. Nos últimos anos isso aconteceu muito, porque temos um governo que acredita que misturar pessoas com e sem deficiência na mesma sala de aula não é uma boa ideia.

Eu sou da primeira geração de pessoas com deficiência que teve garantido o direito de estudar em uma sala de aula regular. Também sou da geração de pessoas com deficiência que nasceu junto com o Teleton. Eu vim ao mundo em 94  e o Teleton no Brasil nasceu em 98.

Para quem doa, o Teleton pode parecer apenas um movimento para ajudar uma instituição que precisa de apoio para continuar funcionando. Mas para quem é uma pessoa com deficiência, ele significa muito mais.   

Veja também

Se você não tiver nenhuma deficiência aparente, não precisar de apoios para andar, ouvir ou falar, a chance de se sentir representado na televisão aumenta muito. É verdade que outros fatores, como raça e gênero também influenciam na representatividade

Mas, embora a população  negra ainda esteja sub-representada na televisão, ainda há mais atores ou apresentadores negros trabalhando no audiovisual.

O fato é que as pessoas com deficiência, na maioria das vezes só aparecem na tv por causa do Teleton. Ele é a maior e mais constante porta de entrada das pessoas com deficiência na mídia. E os avanços que conquistamos aconteceram juntamente com o crescimento do programa.

Cresce cada vez mais o número de influenciadores com deficiência fazendo publicidade. Nos próximos dias, uma atriz com deficiência dará vida a uma advogada na novela das 9 da TV Globo.

A própria TV Globo tem uma repórter com deficiência no “Fantástico”, e ela, frise-se, não fica limitada a questões relacionadas com deficiência.

Se o Teleton nasceu como um programa que  queria apenas “juntar dinheiro” para uma instituição que disso necessitava, ele soube crescer e mostrar que inclusão se faz a partir da ocupação dos espaços de poder.

E quem diz que a atração é “assistencialista”, poderia, por propósito, batalhar para conseguir um espaço na televisão e convencer milhões de brasileiros a se unirem por uma ideia diferente de inclusão, seja lá o que isso signifique. 

*Raphael Preto Pereira é jornalista e colaborador do site marianakotscho