Mariana Kotscho
Busca
» EMPATIA

Empatia, um remédio funcional no tratamento das pessoas que sofrem com Transtorno do Espectro Autista (TEA)

Entenda porque a aceitação de cães de assistência é importante para demonstrar apoio às pessoas com TEA. Empatia poder servir como remédio

Leticia Alves Publicado em 13/08/2025, às 11h00

A veterinária Leticia Alves com seu cão de assistência, Jackson - divulgação
A veterinária Leticia Alves com seu cão de assistência, Jackson - divulgação

O autismo no Brasil é um tema que tem ganhado cada vez mais atenção, nos últimos anos, tanto pela sua prevalência crescente, quanto pela importância do diagnóstico precoce e da inclusão social das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). De acordo com o Censo Demográfico de 2022 cerca de 2,4 milhões de brasileiros possuem diagnóstico de TEA, o que corresponde a 1,2% da população.

Sou diagnosticada com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e faço parte dessa crescente população brasileira. Também tenho diagnóstico positivo do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Ao contrário de muitas pessoas, me sinto privilegiada em contar com a companhia do Jackson, um border collie, que trabalha como meu cão de assistência emocional, atuando em momentos de crise.

Aliás, os animais de assistência emocional vêm crescendo em solo brasileiro, porém as pessoas que não sofrem com TEA, necessitam de melhor conhecimento sobre a função de tais animais, assim também como das necessidades das pessoas autistas, pois eles não são “guias” ou, simplesmente, de “estimação”. Posso dizer com propriedade que falta a chamada empatia, em muitas das situações que passamos durante nossos dias.

A identificação do Jackson, por exemplo, o diferencia de um animal de estimação e as pessoas precisam saber sobre essa diferença. Ao contrário do que muitos mencionam, não se trata de frescura de autista, mas sim da necessidade de ter alguém que consiga manter o controle diante de situações conturbadas que motivam crises de ansiedade e nervosismo em pessoas autistas.

Veja também

Em 2024, por exemplo, passei por uma situação complicada em uma importante casa de shows, no interior paulista, quando eu, o Jackson e uma amiga, fomos acompanhar o show do cantor Leonardo. O Jackson, um cachorro dócil foi obrigado a colocar uma focinheira, algo que eu não aceitei e com isso tive a péssima observação da falta de empatia do gerente do local, que levou a entender que eu não precisava da presença do meu pet naquele momento. Uma situação desgastante, que me gerou muita ansiedade e uma crise no local. Contudo não pude assistir o show do artista que seria a realização de um sonho.

E, recentemente, durante uma viagem, tive problemas com os recepcionistas de um importante restaurante catarinense, que se recusaram a aceitar o Jackson, dizendo que o local não aceitava animais. Mas gente, basta ver minha carteirinha de autista e a identificação do Jackson, que é um cão de assistência emocional. Sinceramente, muita falta de empatia. Neste caso, a situação foi revertida, porquê o proprietário do local foi empático, conversou comigo e orientou seus funcionários e conseguimos ficar no local.

Em contrapartida, a equipe de enfermagem de um importante hospital, em São Paulo, teve a empatia e autorizou a permanência do Jackson, durante a internação do meu filho mais velho, o Theo. Durante a estadia dele no leito foi feito todo o acompanhamento, inclusive segundo a equipe médica, a presença do animal de assistência fez com que sua recuperação tivesse redução no tempo de permanência no hospital. Meu filho, assim como eu, também é diagnosticado com TEA.

Esses exemplos mostram o quanto as pessoas necessitam uma melhor compreensão sobre o assunto e, acima de tudo, se colocarem no lugar do próximo, como explica o significado da palavra empatia. E, certamente, que assim as pessoas autistas teriam uma espécie de remédio mais assertivo para seus momentos de crises, a empatia, agindo também como um importante sinal de respeito.

*Leticia Alves é médica veterinária e influenciadora. Ela é diagnosticada com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).

*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres