Mariana Kotscho
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Morte materna no Brasil volta ao patamar de 20 anos atrás

A cada 100 mil bebês nascidos vivos, 107 mulheres morreram; a hemorragia pós-parto é a segunda maior causa de morte

Redação Publicado em 07/06/2023, às 10h00

O aumento do número total de mortes maternas foi de 77% entre 2019 e 2021
O aumento do número total de mortes maternas foi de 77% entre 2019 e 2021

A morte materna escancara um grave retrocesso na saúde sexual e reprodutiva de mulheres no Brasil, principalmente durante a pandemia de Covid-19, em que seus índices atingiram o patamar de duas décadas atrás, distanciando o País dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

A hemorragia pós-parto é uma das principais causas de mortalidade materna no mundo. No Brasil ela ocupa o segundo lugar, perdendo apenas para a hipertensão. Esse tipo de hemorragia é caracterizado como a perda sanguínea maior que 500 ml no pós-parto vaginal ou maior que 1000 ml na cesariana.[ii]

A morte materna é definida como morte de mulheres durante a gravidez ou até 42 dias após o término da gestação, sendo suas principais causas complicações obstétricas, relacionadas a gestação e ao puerpério ou devido aos tratamentos disponibilizados e omissões. Essas características se encaixam na denominação de morte materna obstétrica direta, que consta no Manual dos Comitês de Mortes Maternas, e no Brasil é a responsável pela elevação do número de óbito entre mulheres, que poderiam ser evitadas com acompanhamento e assistência adequada. [iii]

É importante ressaltar que o sangramento pós-parto existe e é conhecido como lóquio, que pode durar algumas semanas e é caracterizado por saídas de sangue como a menstruação, o que é considerado normal. Quando a quantidade é excessiva pode ser um sinal de hemorragia, portanto sua causa deve ser identificada e o tratamento deve ocorrer o mais rápido possível.

“Vários fatores podem contribuir para o aumento da hemorragia pós-parto, como o atraso na identificação e tratamento de complicações obstétricas, condições de saúde preexistentes como anemia, coagulopatias, ou hipertensão têm maior risco de desenvolver hemorragia pós-parto. E durante a pandemia vimos aumento dos quadros hipertensivos durante a gestação, muito relacionado ao status pró-inflamatório após a infecção viral, além da falta de acesso a cuidados pré-natais de qualidade”, destaca Eduardo Cordioli, Diretor Médico de Obstetrícia do Grupo Santa Joana.

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Como estratégia de prevenção, o pré-natal deve ser priorizado e considerado como parte fundamental dos cuidados com a mãe e o bebê. Somente com acompanhamento de qualidade, com equipes capacitadas que promovam e conscientizem sobre a saúde materna é possível verificar precocemente fatores de risco e prevenir complicações futuras.

“Para enfrentar o aumento da hemorragia pós-parto e seu impacto na mortalidade materna, é necessário adotar estratégias eficazes, como a implementação de protocolos e diretrizes clínicas baseados em evidências para a prevenção e o manejo da hemorragia pós-parto, incluindo a utilização de medicamentos profiláticos, os ditos uterotônicos e monitoração de sua eficácia, assim como melhorar a capacitação dos profissionais de saúde oferecendo treinamento contínuo e atualizado aos profissionais da saúde para a identificação precoce e o tratamento adequado das complicações obstétricas, incluindo a hemorragia pós-parto, aperfeiçoar o acompanhamento pré-natal, garantindo que as gestantes tenham acesso a um cuidado pré-natal de qualidade, identificando e controlando condições de saúde que possam aumentar o risco de hemorragia”, complementa Cordioli.

O obstetra também nos chama atenção sobre outros pontos importantes para reduzir a hemorragia pós-parto: incentivar o parto vaginal quando possível, trazendo a conscientização sobre os riscos associados às cesáreas repetidas que podem contribuir para a redução das taxas de hemorragia pós-parto e a promoção da saúde materna e conscientização com o intuito de desenvolver campanhas sobre os sinais de alerta e a importância de buscar atendimento médico imediato em caso de complicações.

Dados do Ministério da Saúde, mapeados pelo Observatório Obstétrico Brasileiro, mostram que em 2021, a razão de mortalidade materna alcançou 107.53 mortes a cada 100 mil nascidos vivos. Em 2019, a razão era de 55.31 a cada 100 mil nascidos vivos. Em 2020, foi de 71.97 mortes a cada 100 mil nascidos vivos, o que já representou um aumento de quase 25% em relação ao ano anterior. O aumento do número total de mortes maternas foi de 77% entre 2019 e 2021.[iv]

Entre os compromissos firmados pelo Brasil por meio dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável está a meta de redução da mortalidade materna para menos de 70 mortes a cada 100 mil nascidos vivos até 2030. [v)