O projeto AbraceFIV visa promover informação de qualidade e acolher histórias invisibilizadas sobre reprodução assistida
Dra. Eliana Morita* Publicado em 12/07/2025, às 06h00
A infertilidade é uma condição que atinge milhões de pessoas em todo o mundo, mas que ainda é cercada por silêncio, tabus e desinformação. Para ampliar esse debate e acolher realidades muitas vezes invisibilizadas, lançamos em junho o projeto AbraceFIV, uma iniciativa com a missão de promover informação de qualidade, combater preconceitos e celebrar todas as formas legítimas de família. Mais do que uma campanha, trata-se de um movimento coletivo, sensível e necessário, que convida a sociedade a olhar com mais empatia para as histórias que se constroem a partir da reprodução assistida.
A ideia do projeto surgiu de uma dor que percebo há muito tempo, uma dor que também toca profundamente a minha equipe. Todos os dias ouvimos histórias de perdas gestacionais que não são validadas pela sociedade. Mulheres e homens que carregam o peso do silêncio, do julgamento, do medo de pedir ajuda. Casais homoafetivos e pessoas solo que enfrentam o preconceito contra a decisão de formar suas famílias. Essas narrativas se repetem com frequência, e nos perguntamos: até quando essa solidão vai continuar sendo a regra?
Nossa expectativa é que o AbraceFIV seja um ponto de virada; um espaço seguro de escuta, apoio e troca, onde essas vivências possam ser compartilhadas com verdade e acolhimento. Histórias reais, contadas por quem viveu na pele o desafio da infertilidade, comentadas por profissionais da saúde com respaldo técnico e sensibilidade. Acreditamos que quando essas vozes encontram uma plataforma legítima, há mais chance de serem ouvidas, compreendidas e, sobretudo, respeitadas. A informação tem esse poder transformador: ela reduz o medo, encoraja a busca por ajuda precoce e, aos poucos, muda a forma como a sociedade lida com esse tema.
Também queremos jogar luz sobre algo que pouco se fala: a necessidade de educação reprodutiva desde cedo. Quantas mulheres escutamos, todos os dias, dizendo que não sabiam que a fertilidade tinha prazo de validade? Que achavam que sentir dor todo mês não era normal? Que desde muito jovens eram levadas a acreditar que era preciso aguentar caladas? A ausência de informação e a romantização do sofrimento impedem diagnósticos precoces como o da endometriose e, muitas vezes, roubam dessas pessoas o tempo mais precioso para a maternidade.
Sabemos que essa mudança cultural não virá de um dia para o outro. Mas ela precisa começar. E acreditamos que só o esforço conjunto de pacientes, médicos, familiares e sociedade poderá realmente construir um futuro mais justo, mais consciente e mais amoroso com todas as formas de família. O AbraceFIV é o nosso primeiro passo nessa direção. Um convite à escuta, à empatia e ao compromisso com a vida em suas múltiplas possibilidades.
*Dra. Eliana Morita, médica especializada em ginecologia e obstetrícia, com atuação destacada no diagnóstico e tratamento da infertilidade, é sócia-fundadora do CITI Medicina Reprodutiva e idealizadora do projeto @abracefiv