Professores do Colégio Oficina do Estudante comentam os principais pontos do primeiro dia do ENEM 2024
Redação Publicado em 04/11/2024, às 16h00
A prova de Ciências Humanas e Linguagens do ENEM 2024 trouxe uma abordagem ampla e reflexiva sobre questões sociais, culturais e históricas, segundo professores do Colégio Oficina do Estudante. Os docentes destacam a complexidade e relevância dos temas explorados e apontam um nível de dificuldade equilibrado, mantendo o perfil interpretativo característico do exame.
Vinicius Teixeira, professor de Literatura do Colégio Oficina do Estudante, observou que a prova de Linguagens manteve-se em um nível de dificuldade similar aos anos anteriores, com questões sobre autores clássicos como José de Alencar e contemporâneos como Tati Bernardi. “A prova de linguagens do Enem deste ano manteve o nível de dificuldade quando comparada aos anos anteriores. O estilo da prova se manteve com textos diversos. Autores mais tradicionais como José de Alencar, referências a Machado de Assis e também a Vinícius de Moraes estavam presentes.
Pessoas mais contemporâneas, personalidades, autores que produzem jornal como Tati Bernardi, a própria Rita Lee que recentemente faleceu, estavam também presentes na prova. Questões relativas à variação linguística, temática social aparecendo junto aos racionais, setores minoritários da sociedade, produção artística afro-brasileira e vários outros temas estavam presentes, o que confere a prova um caráter bastante contemporâneo e exigia dos alunos uma capacidade de verificação de leitura e articulação com uma perspectiva social. Além disso. Isso também é possível afirmar que algumas das questões davam a possibilidade de reflexão também relacionada ao tema da redação.", destaca Teixeira.
Henrique Morele, professor de Filosofia e Sociologia do Colégio Oficina do Estudante, também pontua a familiaridade dos temas. “Provas com nível de dificuldade entre fácil e médio. Os temas não mudaram muito em relação aos outros anos. Em sociologia, na verdade, foi absolutamente dentro do esperado. Em filosofia, surpreendeu um pouco o fato de termos mais de uma questão sobre modalidades de pensamento (lógica filosófica). Além de exigir boa leitura, a prova exigiu conhecimentos dos conteúdos clássicos das disciplinas e colocou os candidatos para refletir - ponto interessante da edição deste ano”, comenta.
Renato Alves professor de História do Colégio Oficina do Estudante elogiou a pluralidade da prova. “A prova de História foi plural e exigiu do candidato contextualização histórica e identificação de períodos. Houve questões sobre a colonização da América, o ideal republicano, a Era Vargas e o abolicionismo — tema que, inclusive, também apareceu na redação, alinhando-se ao tema proposto. O nível de dificuldade foi de fácil para médio, similar ao das provas anteriores, como a do ano passado. Não foi uma prova conteudista; o foco estava na interpretação, na leitura e na identificação dos períodos históricos”, analisa.
Luis Felipe Valle, professor de Geografia e Atualidades, ressalta a diversidade de temas abordados na prova de Geografia, que exigiu dos alunos a capacidade de associar conteúdos teóricos a fenômenos contemporâneos.
"Prova de geografia do ENEM, uma prova bastante diversificada, com assuntos que englobam desde questões socioambientais, envolvendo o COP26, escoamento da água em regiões urbanas, efeitos climáticos decorrentes de processos econômicos, e também questões envolvendo crises de refugiados, as telecomunicações, internet e meios de comunicação, promovendo integração inclusive de grupos marginalizados, e questões da geografia física, incluindo a parte de geologia, falando um pouco sobre terremotos, efeitos das próprias mudanças climáticas, questões envolvendo cartografia, mas uma curiosidade é que nenhuma questão de geografia desse ano teve mapas. Foi uma prova de geografia sem mapas. Os textos dos enunciados não tão longos como costumam ser, várias questões mais diretas, possivelmente para tentar equilibrar o tempo do candidato, da candidata que está fazendo a prova, e questões que, como sempre, exigem uma interpretação, uma conexão entre a teoria e os acontecimentos mais contemporâneos, a leitura atenta, e de modo geral, as questões de geografia mantiveram o nível de dificuldade média, algumas um pouco mais difíceis, por serem mais conceituais, outras um pouco mais simples, por serem mais objetivas, mas de modo geral, exigindo uma leitura atenta, uma atenção às atualidades, aos acontecimentos, e uma prova que este ano foi mais da geografia social do que da geografia física”, explica.
A redação deste ano trouxe o tema “Desafios para a valorização da herança africana no Brasil”. Jéssica Dorta, Coordenadora da equipe de Redação do Colégio Oficina do Estudante, acredita que o tema tenha sido tranquilo para o aluno. "O tema "Desafios para a valorização da herança africana no Brasil", certamente não trará dificuldades para os participantes que se prepararam para a prova, uma vez que se manteve coerente ao perfil já há anos delineado e, inclusive, reproduz a mesma estrutura e a mesma lógica da prova de 2022: “Desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil”.
A valorização da herança africana no Brasil é parte de um movimento decolonial e descentralizador que tem ganhado força nos últimos anos: não se trata apenas de compreender as forças violentamente opressoras que atingiram o povo africano e os afrodescendentes no Brasil, mas de evidenciar as vozes africanas como constituidoras e fundadoras da nação brasileira. Essa não é uma tarefa simples em uma sociedade que ainda opera por uma sofisticada lógica colonial, a qual nega a pluralidade das diversas formas de ser e estar no mundo.
Nesse sentido, para argumentar em relação aos desafios para a valorização da herança africana no Brasil e, como exige o ENEM, sugerir um proposta que enfrente o problema, o participante poderá recorrer, por exemplo, às diversas vozes que evocam e sustentam a cultura africana no Brasil, como a do filósofo quilombola Antônio Bispo dos Santos, Nego Bispo, que, inclusive, acabou de ser cobrado no vestibular Unicamp 2025, ou ainda Lélia Gonzalez, que discute a interseccionalidade entre raça e gênero, destacando a contribuição da cultura afro-brasileira para a sociedade".
Na área de Artes, Rafael Coutinho, professor de Artes do Colégio Oficina do Estudante, considera que a prova manteve sua característica interpretativa. “O Enem tem por característica ser mais interpretativo do que conteudista, exigindo do candidato um mínimo de repertório, especialmente das obras e dos movimentos oriundos do século XX e também de produções brasileiras.
Não é raro o exame inserir questões que referenciem povos indígenas e de matriz africana. A prova também exige do candidato a interpretação de imagens como elemento importante na resolução. Nessa edição, considera-se um nível médio, seguindo a tendência dos anos anteriores”