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Dislexia: Construindo Laços, navegando pelos (muitos) desafios e celebrando as conquistas

Ao falar sobre dislexia, estamos construíndo uma nova sociedade mais compassiva, justa e inclusiva para todos

Juliana Amorina* Publicado em 24/11/2023, às 15h22

A Semana da Dislexia é realizada no mês de outubro
A Semana da Dislexia é realizada no mês de outubro

A Semana da Dislexia, realizada todo mês de outubro, é um período mundial de conscientização deste transtorno específico da aprendizagem. Nela, uma variedade de atividades são organizadas para envolver a comunidade, como aulas e workshops educativos; palestras de especialistas; eventos junto ao poder público; lançamento de cursos; e-books e cartilhas; Roda de leitura; Encontros e Caminhadas em diversos estados do país, são apresentados à sociedade como uma oportunidade importante para promover a inclusão e a aceitação.

Ao educar a população, desafiar mitos e oferecer apoio prático, podemos criar um ambiente em que todas as pessoas se sintam valorizadas e capacitadas. Ao celebrar a Semana da Dislexia, estamos não apenas transformando vidas individuais, mas também construindo uma sociedade mais compassiva, justa e inclusiva para todos e, com a certeza de que, daqui pra frente, faremos diferente.

A Dislexia é uma condição persistente, de origem neurobiológica, que afeta a aprendizagem e que pode ser explicada por déficits em múltiplos componentes cognitivos, além de ter grande relação com a hereditariedade, sendo comum manifestar-se em mais de um membro da mesma família.

Essa condição ainda não é conhecida como deveria no Brasil, porém, durante a Semana da Dislexia, as organizações se unem para educar, informar e sensibilizar a comunidade sobre o transtorno, além de desmistificar esta condição e eliminar estigmas. Ao oferecer informações precisas sobre a dislexia, a Semana procura criar um ambiente de compreensão e apoio para as pessoas que vivem com essa condição e suas famílias.

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A Dislexia ainda não é rastreada pelo Censo e, com isso, nos encontramos em um cenário de escassez de dados de prevalência no nível nacional. Na publicação mais recente do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5ª edição ou DSM-5, nos é mostrado uma prevalência de 5 a 15% da população brasileira em idade escolar no Brasil. E, em um levantamento realizado em 2015 por renomados pesquisadores brasileiros, foi encontrada uma prevalência de 7,6% de alunos com dislexia (matriculados do 2° ao 6° ano).

Diante desses dados escassos, e sendo ainda bastante conservadores, podemos dizer que há mais de 8 milhões de brasileiros com dislexia. E, apesar da condição não ser rara, as famílias e pessoas com dislexia enfrentam inúmeras barreiras desde o diagnóstico.

Além disso, o custo da dislexia, tanto financeiro quanto emocional, é imenso. O Instituto ABCD mapeou dificuldades enfrentadas pelas famílias brasileiras que convivem com a dislexia no seu cotidiano. Para citar algumas delas:

  • o custo das avaliações de diagnóstico é altíssimo em todas as regiões do Brasil, mas afeta especialmente indivíduos de baixa renda (em média, o investimento necessário para a avaliação é de R$ 2.000); E, para complicar, elas são exigidas constantemente pelas escolas, que pedem atualização anual dessa condição que, infelizmente, é vitalícia;
  • 34% das famílias precisam deixar o município ou estado para fazer as avaliações;
  • 89% dos diagnósticos foram realizados em serviços particulares;
  • para realizar acompanhamento terapêutico, as famílias investem mais de R$800 mensais;
  • existe uma relação direta entre a realização de intervenções especializadas e a renda familiar;
  • 85% dos alunos com dislexia afirmaram não ter recebido atividades adaptadas para as suas necessidades durante o ano de 2021, quando a pesquisa foi realizada;
  • 80% das crianças vivenciaram uma experiência emocional negativa, como tristeza, ansiedade ou baixa autoestima;
  • 72% dos adultos enfrentam dificuldades na vida profissional.

O estudante com Dislexia necessita de acomodações durante toda a sua trajetória acadêmica. Por isso, ter a regulamentação da Lei 14.254/21, que prevê o acompanhamento integral e específico dos educandos com transtornos da aprendizagem, é tão importante para garantir o acompanhamento e a formação plena desses alunos.

Apesar do acesso à saúde e à educação serem direitos previstos na constituição, pessoas com dislexia estão à margem desses recursos. No nosso país, que assumiu nacional e internacionalmente o compromisso público de reconhecer e atender as necessidades educacionais de todos os brasileiros, ainda é um desafio assegurar uma educação de qualidade a todos, independentemente de sua condição diagnóstica, seu credo, sua origem ou sua etnia.

Continuamos atentos às legislações específicas que estão sendo propostas em vários estados, enquanto também mantemos a fiscalização rigorosa, conforme estabelecido pelas leis vigentes, para assegurar os direitos dos alunos com dislexia.

Nossa dedicação à busca pelo reconhecimento persiste.

*Juliana Amorina é diretora-presidente do Instituto ABCD