Um ambiente seguro na vida de crianças contribui para aprender e o enfrentamento de desafios com segurança e entusiasmo
Letícia Lyle* Publicado em 25/09/2023, às 06h00
Por mais que não existam receitas para a educação dos filhos, a arte de criar espaços seguros para a aprendizagem dentro e fora de casa é uma verdadeira ciência. Como mãe, educadora e diretora escolar, acompanho de perto as pesquisas recentes sobre como nosso cérebro aprende. A cada dia, essas pesquisas lançam mais luz sobre o poder do amor e da afetividade nesse processo.
A realidade é que, para aprendermos efetivamente, precisamos nos sentir acolhidos, dispostos a assumir riscos e amparados por relacionamentos positivos. Quando nos encontramos envoltos pelo medo, ansiedade ou impotência, nosso cérebro entra em modo de sobrevivência, ativando as partes mais primitivas de nosso sistema nervoso autônomo, levando-nos a reações agressivas, impulsos de fuga ou mesmo paralisia.
Agora, se estamos todos angustiados, preocupados e ansiosos, como conseguiremos promover espaços seguros para aprendizagem? Algumas reflexões, ainda que não sejam respostas, nos ajudam a separar as coisas e olhar com carinho para a beleza do desenvolvimento das crianças e adolescentes, especialmente daqueles que temos o privilégio de acompanhar.
É sempre assim?
Crianças e adolescentes que sentem insegurança costumam manifestar isso de diversas maneiras, às vezes mudando de comportamento, se isolando ou demonstrando constante agitação e ansiedade. Tentar proporcionar segurança vai exigir que estejamos sempre atentos não apenas a problemas, mas a respostas problemáticas repetitivas em contextos semelhantes. Crianças que ficam em silêncio ou apáticas sempre que estão em algum lugar, podem estar nos mostrando que ali não se sentem acolhidas e seguras.
Segurança é resultado de acolhimento, não de punição.
Maya Angelou, uma escritora e poetisa estadunidense, certa vez disse que “As pessoas vão esquecer o que você disse, as pessoas vão esquecer o que você fez, mas as pessoas nunca esquecerão como você as fez sentir”. Trabalhando com crianças e adolescentes isso se torna uma máxima que vivenciamos diariamente. Aqueles com quem conseguimos nos conectar emocionalmente, garantindo espaço para sermos modelo de comportamento tendem a aprender muito mais que aqueles com os quais temos conversas repetitivas. É importante quebrar o ciclo de repetições que geram apenas ansiedade, medo ou mesmo tédio. O afeto desperta conexões cerebrais muito mais potentes.
Segurança para aprender é problema de todos nós
É comum que a gente busque por especialistas em momentos de crise ou quando percebemos um novo comportamento emergir na vida dos nossos filhos e dos estudantes com os quais convivemos. Mas, veja que interessante: Você só está preocupado(a) com isso, porque percebeu a quebra de padrão. Só quem percebe essas quebras são as pessoas que conhecem essas crianças e adolescentes. Por isso, a construção de um ambiente seguro para aprender em casa ou na escola depende de um olhar atento de toda a comunidade, de uma comunicação clara e honesta entre todos os envolvidos. Nem sempre um especialista vai ser a pessoa que vai melhor descrever o problema ou as soluções.
Cultivar uma rede que olha com atenção para as nossas crianças é implicar porteiros, comerciantes locais, familiares, vizinhos, professores, colegas da escola e suas famílias.
Reconhecer que não faremos tudo sozinhos nos ajuda a perceber que o desenvolvimento integral de nossas crianças e adolescentes é resultado direto de um olhar amoroso e acolhedor para os processos e mudanças que eles vivenciam diariamente. Quando crianças se sentem amadas e seguras, seus potenciais florescem, permitindo-lhes enfrentar os desafios com confiança e entusiasmo. Eu vejo isso acontecer diariamente. Quero isso para todos.
*Leticia Lyle é diretora pedagógica da Camino School e cofundadora da Camino Education e da Cloe