Como o coaching pode acelerar carreiras de profissionais negros

Afinal, qual o trabalho de um coach? Entenda, por exemplo, como ele pode ser um aliado para acelerar carreiras

Eliezer Leal* Publicado em 07/04/2023, às 06h00

A luta antirracista é urgente -

As constantes transformações do mercado de trabalho, impulsionadas sobretudo pela tecnologia digital, mudaram também o perfil do profissional que as empresas buscam. Uma boa formação, conhecimento formal e experiência, embora muito importantes, já não são atributos suficientes para que alguém se destaque, em especial quando tratamos de cargos de liderança.

As empresas hoje buscam identificar, mensurar e desenvolver outras qualidades para além da capacitação técnica de seus colaboradores, qualidades complementares ligadas a tópicos como inteligência emocional, relacionamentos interpessoais, aptidão para liderança e capacidade de usar seus talentos para a resolução de problemas complexos.

Não espanta, portanto, que os programas de coaching executivo sejam cada vez mais comuns entre altas lideranças. Nos Estados Unidos, praticamente todas as companhias listadas na Fortune 500, que elenca as maiores corporações do país, promovem encontros de coaching como parte de seus programas de desenvolvimento gerencial.

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A novidade nesse cenário é a presença cada vez maior de pessoas negras em posto de comando nas grandes empresas. Logo, o mercado ainda tem muito a aprender sobre os desafios e benefícios que um programa de coaching pode trazer para essas lideranças.

Profissionais negras e negros enfrentam desafios adicionais no desenvolvimento de suas carreiras. A maioria dessas pessoas, por exemplo, é a primeira geração a ter acesso a carreira corporativa e a toda dimensão cultural envolvida.

Sabemos que aspectos comportamentais fazem muita diferença, dentre outras coisas, na hora de uma promoção. A capacidade de navegar sem embaraços na cultura corporativa ou de construir um bom relacionamento com a alta liderança podem ser predicados tão decisivos quanto a experiência ou a competência técnica.

Logo, os profissionais negros dessa chamada “primeira geração”, que não contam com referências de liderança corporativa entre familiares e amigos, tendem a enfrentar um desafio adicional na hora de progredir suas carreiras.

Esse é o tipo de lacuna que um bom programa de coaching pode preencher. Aqui é preciso dizer que não há, a rigor, métodos de coaching com direcionamento de raça, gênero ou qualquer outro. Lidamos, afinal, com atributos humanos, comuns a todos.

A metodologia de assessment desenvolvida pela Gallup, por exemplo, chamada de “CliftonStrengths”, ou simplesmente “Pontos Fortes”, como é mais conhecida, é provavelmente um dos instrumentos mais aceitos em escala global para aferição psicométrica.

Ela se debruça sobre quatro grandes categorias de talentos que um profissional deve conhecer, cultivar e aprimorar: pensamento estratégico, construção de relacionamentos, influência e execução. Como se nota, não são atributos exclusivos a um grupo de pessoas. Se o direcionamento técnico dos métodos de coaching é o mesmo para todos, por que então destacar seu papel positivo para profissionais negros?

Em primeiro lugar, por uma simples questão de acesso: esse tipo de formação costuma ser cara e, em geral, envolve materiais que não foram traduzidos para o português. Logo, se as empresas querem promover de verdade suas lideranças negras, elas precisam se comprometer, inclusive financeiramente, com sua formação. Segundo porque, para muitos de nós, há uma dissonância entre o que somos capazes de fazer e aquilo que o racismo nos impõe como limitações pessoais.

O mais importante, porém, são as vivências. Para além do crescimento no número de lideranças negras, o mercado conta cada vez mais com coaches negros. Esses profissionais conseguem somar aos aspectos técnicos de seu trabalho uma compreensão mais profunda dos atravessamentos de raça que marcam o universo corporativo.

Com isso, eles não apenas constroem uma relação mais frutífera com seus coachees negros, como também elaboram estratégias mais precisas para impulsionar seu desenvolvimento pessoal e profissional. Eis aqui uma lição que o mercado está só começando a compreender: o coaching pode ser um importante instrumento de inclusão social.

 

* Eliezer Leal é Coach de Pontos Fortes certificado pela Gallup e sócio-fundador da Singuê, consultoria em diversidade, equidade e inclusão. É formado em Sistemas da Informação pela Universidade Estácio de Sá e possui MBAs em marketing, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), e Gestão de Tecnologia, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

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