Mesmo após a realização de exames audiológicos, as pessoas costumam demorar, em média, 7 anos para procurar ajuda especializada
Redação* Publicado em 06/03/2024, às 06h00
De acordo com a ONU, atualmente, há cerca de 470 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência auditiva. E, até 2050, a projeção é que esse número chegue a 900 milhões.
Um dado preocupante, que, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), resulta, sobretudo, de "percepções errôneas, profundamente arraigadas da sociedade, e mentalidades estigmatizantes que limitam os esforços para prevenir e abordar a perda auditiva". Ou seja, é preciso mais conscientização para evitar essa “epidemia de casos” que se projeta para as próximas décadas.
Por essa razão é que, anualmente, todo dia 3 de março a entidade global se mobiliza em torno do Dia Mundial da Audição. Nesta edição de 2024, o tema central foi a importância da manutenção da audição ao longo da vida. A partir do lema “Para ouvir por muito tempo, ouça com cuidado”, a OMS pretendia chamar a atenção da sociedade para entendimentos equivocados que comprometem a adoção de protocolos mais efetivos de combate e prevenção aos problemas auditivos.
Dentre as principais recomendações, estão o uso de protetores sonoros em shows e no trabalho e a realização de avaliações anuais com profissionais da área de Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia.
De acordo com a mestre em distúrbio da comunicação e linguagem, especializada em cuidados integrativos e em reabilitação auditiva, Christiane Nicodemo, fonoaudióloga do Hospital Paulista, as pessoas, em geral, desconhecem os fatores que estão associados à perda auditiva e também não têm o hábito de fazer exames regulares.
Diabetes, hipertensão, obesidade e tabagismo, segundo ela, são os principais indicativos que servem de alerta, pois aceleram esse processo. "O paciente, em geral, não percebe essa perda. E as pessoas próximas, por sua vez, costumam demorar para fazer essa associação e procurar auxílio profissional", observa.
Mesmo após a realização dos exames audiológicos, a especialista afirma que as pessoas, em média, ainda demoram 7 anos para procurar ajuda especializada. "Esse dado é da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e mostra o quão é tardia a percepção da importância do tratamento por parte dos pacientes e das famílias. É essencial que a busca do diagnóstico seja feita tão logo observados os primeiros sintomas. E, no caso das pessoas que já têm pré-disposição, a recomendação é que façam exames periódicos”, enfatiza.
Audiometria
A especialista destaca que o exame mais recomendado para fazer o diagnóstico e acompanhamento desse tipo de paciente é a audiometria - um procedimento de custo baixo, totalmente indolor e não invasivo, que dura cerca de 20 minutos. O exame é feito em uma cabine acústica à qual o paciente, a partir de um fone de ouvido com microfone acoplado, responde a perguntas por meio de sinais e gestos. As informações são dispostas em um audiograma, que é um gráfico que contém as respostas do paciente aos sons emitidos. A partir da avaliação de um otorrinolaringologista, é feito o encaminhamento ao tipo de tratamento mais adequado a cada paciente.
"Se houver perda auditiva, pode ser necessário o uso de aparelho auditivo para auxiliar na escuta. Esse tipo de aparelho amplia o reconhecimento sonoro e ajuda na comunicação", explica a fono do Hospital Paulista.
A maior preocupação, segundo ela, é com a predisposição ao desenvolvimento de demência precoce, provocada justamente por essa falta de estímulos auditivos. "Há vários estudos que relacionam essa combinação por conta do isolamento que a surdez provoca. Isso reforça a necessidade de a audiometria fazer parte dos exames de rotina de pessoas idosas", pontua.
Na mesma linha, o otorrinolaringologista Dr. José Roberto Gurgel Testa, também do Hospital Paulista, lembra que a falta de prevenção causa prejuízos à sociedade e também à economia mundial.
“A OMS estima que a perda auditiva não tratada representa um custo anual de US$ 980 mil milhões por ano. Este é o custo estimado do impacto da perda auditiva sem acesso à reabilitação, incluindo perdas de produtividade e exclusão social”, enfatiza.
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