Mesmo com altas taxas de mortalidade, ainda há pouco conhecimento sobre a síndrome, fazendo com que ela seja subdiagnosticada e subtratada
Prof. Dr. Mucio Tavares de Oliveira Junior* Publicado em 18/07/2025, às 06h00
A Insuficiência Cardíaca (IC) é uma síndrome. Ou seja, é a manifestação final de várias doenças cardíacas que comprometem a capacidade do coração de bombear sangue adequadamente. Considerando que as doenças cardiovasculares são a principal causa de óbito no Brasil¹, é importante não subestimar essa condição. Embora a prevalência de IC na população brasileira geral seja de cerca de 2%, essa taxa pode alcançar 17% entre pessoas com mais de 85 anos². Além disso, a World Heart Federation projeta um aumento global de 25% na prevalência até 2030, devido principalmente ao envelhecimento da população³.
Por isso, é importante que todos tenham um conhecimento básico da condição. Do lado dos profissionais de saúde não especialistas, em especial clínicos gerais e médicos de família, é urgente que eles sejam capacitados para ao menos suspeitar dessa síndrome. Quanto mais cedo ela for identificada, maior a qualidade de vida podemos proporcionar aos pacientes e menor risco de morte precoce. E, por outro lado, a população em geral precisa saber identificar os sinais do corpo e entender a gravidade da condição para realizar o tratamento adequadamente – que, muitas vezes, é para toda a vida.
O infarto é uma das principais causas da IC
A incidência de IC em pacientes pós-infarto é de 43,4%, de acordo com estudos internacionais (4). No entanto, como essa condição é subdiagnosticada, é possível que, na realidade, esse dado seja ainda maior do que reportado nesses estudos. A elevada incidência traz um alerta para a necessidade de um acompanhamento especial, a médio prazo, de pacientes infartados, pois eles representam um grupo de risco para IC.
O controle dos fatores de risco é a principal forma de prevenção
Como já mencionado anteriormente, a IC é a manifestação final de várias doenças cardíacas. Isso é essencial para entender que qualquer condição que afete o coração pode levar à insuficiência cardíaca, incluindo hipertensão, diabetes, doença coronária crônica, miocardites e valvopatias. O manejo adequado dessas doenças e de outros fatores de risco, como diabetes mellitus, tabagismo, obesidade e sedentarismo, é a principal forma de prevenção.
A IC ainda é subdiagnosticada
Um estudo que avaliou os cuidados cardiovasculares em mais de 8 mil pacientes internados em hospitais do Distrito Federal revelou que quase metade dos pacientes que sofreram infarto do miocárdio apresentaram sinais de IC, mas não receberam diagnóstico adequado (5). Ou seja, os profissionais de saúde ainda têm dificuldade para diagnosticar essa síndrome.
O primeiro passo para diagnosticar a IC é a análise dos sintomas, que muitas vezes são ignorados. Os sintomas mais comuns são fadiga excessiva, edema (inchaço) nos membros inferiores, dispneia (falta de ar) aos esforços ou mesmo em repouso e ortopneia (dificuldade para respirar ao deitar). Em complemento, alguns exames podem ajudar a esclarecer o diagnóstico, como análises de sangue, eletrocardiograma, ecocardiograma e radiografia de tórax.
A IC pode ser tão grave quanto câncer
De acordo com Painel de Monitoramento da Mortalidade do Ministério da Saúde, a principal causa de óbito no Brasil em 2024 foi as doenças do coração, sendo responsáveis por 237.213 mortes¹. As enfermidades cardiovasculares mais letais foram acidentes vasculares cerebrais (63.533), infarto agudo do miocárdio (56.096) e insuficiência cardíaca (20.692)¹. O câncer é a segunda principal causa, responsável por 157.747 óbitos ao longo do ano¹.
Corroborando com esses dados, a expectativa de vida após o diagnóstico de IC é de aproximadamente 3,5 anos, com variações conforme a resposta ao tratamento e o estágio da doença (6). Mas, ainda assim, as pessoas não recebem o diagnóstico de IC com a mesma seriedade do câncer. Entender a gravidade da doença é o primeiro passo para garantir o tratamento adequado.
Reabilitação e autocuidado são essenciais no tratamento
A reabilitação cardíaca é extremamente eficaz. Ela melhora a qualidade de vida, reduz hospitalizações e até mortalidade. As pessoas com insuficiência cardíaca devem alterar o estilo de vida e aprender a cuidar de si. Algumas práticas de autocuidado são: entender sua capacidade física para não extrapolar os limites em exercícios e atividades de lazer, reduzir hábitos sedentários, evitar tabaco e álcool, manter uma dieta saudável, reconhecer os sinais do corpo e realizar acompanhamento médico de 6 em 6 meses. Fisioterapeutas e educadores físicos são agentes indispensáveis nesse processo.
Muitos hospitais oferecem um programa de reabilitação para recém-infartados. No entanto, esse recurso é subutilizado pelos pacientes. Por isso, é importante reforçar que, além do acompanhamento médico, o papel ativo e a conscientização do paciente são essenciaispara a eficácia do tratamento. Se o paciente não entender a importância da reabilitação para sua qualidade de vida e as graves consequências que a IC pode trazer, a condição não será controlada adequadamente.
Referências:
*Prof. Dr. Mucio Tavares de Oliveira Junior é professor da Faculdade de Medicina da USP e Coordenador de Insuficiência Cardíaca da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP).
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