Estudo internacional mostra que biópsia de linfonodo sentinela é tão segura quanto a cirurgia tradicional para câncer no útero, mas com menos complicações
Prof. Dr. José Carlos Sadalla* Publicado em 29/08/2025, às 06h00
Na medicina, vivemos em uma busca constante por tratamentos que não sejam apenas mais eficazes, mas também menos agressivos e que preservem a qualidade de vida do paciente. Recentemente, um estudo apresentado no mais importante congresso de oncologia do mundo, o da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), trouxe uma notícia que representa exatamente isso: uma verdadeira revolução na forma como tratamos cirurgicamente o câncer de colo de útero em estágio inicial.
Por muitos anos, o tratamento padrão para avaliar a disseminação da doença envolvia a remoção completa dos gânglios linfáticos da pelve, um procedimento chamado de linfadenectomia pélvica. Embora seja uma técnica consagrada, ela carrega um risco considerável de complicações a longo prazo, como o linfedema — um inchaço crônico e debilitante das pernas.
O estudo internacional PHENIX veio para questionar essa prática. A pesquisa, realizada com mais de 900 pacientes entre 2015 e 2023, comparou a cirurgia padrão com uma abordagem menos invasiva: a biópsia de linfonodo sentinela (BLS), que remove apenas os primeiros gânglios que drenam a área do tumor. O objetivo era provar que "fazer menos" era igualmente seguro.
Os resultados, no entanto, foram além e surpreenderam a comunidade médica. A pesquisa não apenas confirmou a segurança da técnica menos invasiva, mas mostrou uma tendência de superioridade. A taxa de sobrevida específica por câncer em 3 anos foi de 100% no grupo que fez apenas a biópsia de linfonodo sentinela, contra 97,8% no grupo da cirurgia tradicional. Isso se refletiu no número de mortes pela doença: foram apenas 3 no grupo da BLS, contra 14 no grupo que passou pelo procedimento mais agressivo.
Para nós, médicos, e principalmente para as nossas pacientes, esses números são um divisor de águas. O estudo é um marco, consolidando a técnica do linfonodo sentinela como novo padrão no tratamento cirúrgico dos casos de câncer de colo inicial. É a ciência e a tecnologia aliadas numa cirurgia de maior qualidade e menos morbidade para a paciente.
Na prática, isso significa que podemos, com um alto grau de segurança, abandonar o procedimento mais agressivo. A conclusão do estudo é clara: a remoção completa dos gânglios não oferece benefício de sobrevida e ainda pode aumentar as complicações.
Este avanço reforça que o futuro da oncologia cirúrgica está na precisão, na personalização e no foco na qualidade de vida. É a ciência nos dando as ferramentas para oferecer não apenas a cura, mas também o bem-estar duradouro para nossas pacientes.
*Prof. Dr. José Carlos Sadalla é especialista em Mastologia e Oncoginecologia, e fundador da Clínica Andrade & Sadalla, com foco em prevenção, diagnóstico preciso e tratamento humanizado.
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