Labubu, bebês reborn e o ciclo das modinhas: como proteger nossos filhos do consumismo na infância

O papel dos adultos é ensinar aos filhos a adotar o consumo consciente e o cuidado com o consumismo

Larissa Fonseca* Publicado em 27/06/2025, às 06h00

As redes sociais promovem modas que circulam extremamente rápido, como o labubu - redes sociais

Se você é mãe, pai ou convive com crianças, provavelmente já percebeu como, de tempos em tempos, surgem modas que rapidamente se espalham entre crianças, adolescentes e até adultos. Primeiro foram os bebês reborn, bonecos extremamente realistas que imitam bebês de verdade e que, além de caros, passaram a ser tratados quase como filhos por quem os adquire. Agora, uma nova febre tomou conta das redes: o boneco Labubu, um bichinho de vinil, de aparência excêntrica, considerado peça de colecionador e que rapidamente se transformou em desejo de consumo.

Mas afinal, por que essas modas se tornam tão influentes? E, mais importante, como podemos proteger nossos filhos desse ciclo de consumismo, imediatismo e da busca constante pela próxima novidade?

O Labubu, assim como outros brinquedos do universo chamado art toys, não é simplesmente um brinquedo, mas uma peça de design, de colecionador. Fabricado em edições limitadas, com alto valor de mercado e forte apelo estético, ele rapidamente se tornou símbolo de status, desejo e pertencimento, especialmente nas redes sociais, onde vídeos exibindo a chegada, o unboxing e a exposição desses bonecos viralizam com facilidade.

Esse tipo de moda não surge por acaso. As redes sociais trabalham com algoritmos que, basicamente, mostram para a gente aquilo que prende mais a nossa atenção e, normalmente, são coisas que parecem fofas, diferentes, bonitas ou até exclusivas. E é aí que começa o problema. As crianças e os adolescentes estão crescendo em um mundo onde tudo acontece muito rápido, na palma da mão. Eles veem, desejam e querem, tudo quase no mesmo segundo. E não para por aí. Existe um apelo emocional muito forte por trás dessas modas. O marketing faz parecer que aquele brinquedo não é só um brinquedo. Ele vem carregado de afeto, de cuidado, de estética, de pertencimento. Ter aquele boneco da moda não é só ter um objeto, é como se fosse uma senha para fazer parte de um grupo, para se sentir aceito, para ser visto, tanto no mundo real quanto nas redes sociais.

O problema é que esse ciclo constante de novidades alimenta comportamentos de consumo impulsivo, gera ansiedade e frustração. A criança aprende, desde cedo, que para ser aceita, valorizada ou feliz, precisa ter. E quando a moda passa, surge a busca pela próxima coisa que promete preencher esse vazio momentâneo.

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Diante disso, nosso papel como adultos é fundamental. Precisamos educar nossos filhos para o consumo consciente, ensinando desde cedo a diferenciar desejo de necessidade e mostrando que nem tudo o que vemos nas redes sociais é essencial, real ou saudável. É também papel dos pais permitir que os filhos se frustrem. Isso faz parte do desenvolvimento emocional e da construção de resiliência, autocontrole e paciência.

Dizer não, estabelecer limites e conversar sobre os motivos dessas decisões não é ser rígido, é educar para a vida.

Mais do que negar objetos, é essencial propor alternativas que fortaleçam o “ser” antes do “ter”. Valorizar experiências, momentos em família, brincadeiras livres, encontros e conversas. Trazer a criança para participar de decisões sobre como usar sua mesada, planejar compras, aprender a pesquisar, comparar e, principalmente, esperar. Isso ensina responsabilidade, autocontrole e senso crítico.

Outro ponto essencial é desacelerar. As crianças precisam de tempo para o tédio, para criar, imaginar, inventar. Um excesso de estímulos prontos, de novidades constantes e de conteúdos que só alimentam o desejo pelo ter impede o desenvolvimento da criatividade, da autonomia e do senso de satisfação com o que já se tem.

Essa é uma oportunidade riquíssima de conversar com nossos filhos sobre temas como gratidão, paciência, sustentabilidade e autenticidade. Mostrar que eles não precisam ter o que todos têm para serem aceitos. Que o valor deles não está no que possuem, mas no que são, no que constroem, no que sentem e nas relações que cultivam.

Por fim, é importante dizer que o problema não está no boneco Labubu, no bebê reborn ou em qualquer outro objeto da moda. O problema está em quando essas coisas se tornam a única fonte de satisfação, de pertencimento e de felicidade. E quando isso acontece, é sinal de que há um vazio que precisa ser preenchido não com coisas, mas com sentido, conexão e afeto.

Nosso desafio, enquanto mães, pais e educadores, é ajudar nossas crianças a navegarem nesse mundo onde o consumo é estimulado o tempo todo, ensinando que elas valem muito mais pelo que são do que pelo que têm.

 

*Larissa Fonseca é Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.

*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres

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