A escola do futuro deve garantir a relevância educacional, promovendo um ambiente que estimule o pensamento crítico e a empatia
Leticia Lyle* Publicado em 14/05/2025, às 06h00
Costumo falar que temos que pensar mais no futuro da escola do que na escola do futuro. Digo isso porque estamos, constantemente, enfrentando uma disputa de espaços, entre tudo que consideramos essencial, na vida e na formação dos cidadãos do agora e do amanhã: Vivendo em um mundo que tem a informação e o conteúdo à disposição em larga escala, que permite interação e conectividade ilimitada e que dita as regras de relacionamento interpessoal e social de todos os seus membros, estamos constantemente desafiados para sustentar a escola em seu lugar de relevância.
Essa leitura de que o foco do projeto educacional deve ser o papel da escola na construção do mundo em que queremos viver me fez, inevitavelmente, trazer para a realidade da escola que criei, uma alma inovadora. Para que o futuro da escola esteja garantido, é preciso que ela seja, hoje, construída como uma escola do futuro.
A escola do futuro é aquela em que o futuro da própria escola — sua relevância social e seu papel de protagonismo na construção do mundo que queremos — está plenamente assegurado.
As características mais marcantes dessa escola são visíveis e perceptíveis no espaço. Uma escola do futuro deixa clara a sua capacidade de adaptar-se continuamente às demandas de uma sociedade em evolução, mantendo-se relevante e vital para a formação de cidadãos preparados para os desafios contemporâneos e futuros. Ao entrar em uma escola assim, você provavelmente vai ver diversidade de espaços, de mobiliário, de formas de se movimentar e de se engajar com a aprendizagem. Talvez você veja equipamentos que considera tecnológicos, mas o que certamente deve encontrar são novas formas de se relacionar com as tecnologias. A escola do futuro tem sim computadores, mas tem também livros, materiais recicláveis, desenhos e, principalmente, muita vida.
O espaço de aprendizagem da escola do futuro é um locus de inclusão e diversidade, onde a arquitetura e o mobiliário não apenas acomodam diferentes necessidades físicas, mas onde a cultura e os currículos refletem e celebram a diversidade humana, promovendo, assim, uma educação que vai além do acadêmico, abraçando o desenvolvimento emocional e social, esses últimos, os grandes pilares de sustentação da relevância do espaço escolar no futuro.
Além disso, a autonomia do estudante deve ser um pilar central. Ela nasce de um bom relacionamento com os saberes docentes e do fomento constante ao autoconhecimento e à autorregulação. Em uma escola do futuro, os estudantes têm maior controle sobre o seu aprendizado, escolhendo desde onde vão se sentar para acompanhar as aulas, até os métodos e recursos que melhor atendem às suas necessidades e interesses pessoais, tendo acesso, para estas escolhas, aos melhores modelos e recursos. Trata-se de um compromisso diário com uma oferta acadêmica, operacional, técnica e relacional de excelência. Esta abordagem não só fomenta a independência, mas também prepara os estudantes para uma vida de aprendizado contínuo e adaptabilidade, qualidades essenciais no mundo moderno.
Nessa escola, a promoção da colaboração é uma constante Isso se faz possível a partir das conexões entre diferentes origens e experiências. O cultivo dessas oportunidades deve envolver a curadoria de recursos literários e didáticos que ofereçam uma ampla gama de perspectivas, preparando os estudantes para operar em um mundo globalizado e interconectado. O papel da tecnologia aqui é fundamental, não como um fim em si mesma, mas como um meio para conectar, explorar e criar.
Talvez eu seja repetitiva em dizer que a escola do futuro é aquela que consegue assegurar o futuro da escola. Mas insisto que essa escola é um ambiente que responde eficazmente às necessidades do presente enquanto prepara ativamente os estudantes para os desafios do futuro. É a escola que educa a mente para o imponderável e o coração para o presente.
A verdadeira medida de sucesso para uma escola do futuro não está apenas na sua aparência ou nas tecnologias que ela emprega, mas na forma como cada elemento do ambiente escolar contribui para sustentar a relevância da escola no futuro.
Desde a disposição dos móveis que promovem interações colaborativas, até a curadoria cuidadosa dos recursos que refletem a diversidade humana, cada detalhe importa. O espaço físico, os materiais, os métodos de ensino e a cultura escolar devem todos trabalhar em conjunto para criar um ambiente que não apenas atende às necessidades imediatas dos estudantes, mas que também os prepara para pensar criticamente, agir com empatia e liderar com integridade em um mundo em constante transformação.
A escola do futuro é, portanto, aquela que, através de suas escolhas cotidianas, assegura que a educação permaneça um pilar vital na construção de um mundo melhor.
*Leticia Lyle é pedagoga e mestre em Currículo e Educação Inclusiva pelo Teachers College da Columbia University. Cofundadora da Camino Education e da Cloe e diretora da Camino School, também é coautora do livro “Convivência Ética na Educação”. É conselheira do Instituto Ame Sua Mente e tem vasta experiência no desenvolvimento e implementação de metodologias de ensino, currículo e preparação de professores para o século XXI.
Quer incentivar este jornalismo sério e independente? Você pode patrocinar esta coluna ou o site como um todo. Escreva para contato@marianakotscho.com.br
Quando o comum vira espetáculo: o adoecimento por trás da exposição adolescente
Quando ser criança virou transtorno
Psiquiatra aponta caminhos para promover a saúde mental
Adolescência em risco: o que a série Adolescência nos ensina sobre presença e responsabilidade
Ansiedade na infância: um alerta necessário para famílias e educadores