A educação infantil deve ser valorizada e a escolha merece dedicação
Maria Cardoso* Publicado em 09/11/2023, às 06h00
Muitas famílias se perguntam qual é o melhor momento para matricular seus filhos e filhas em uma escola. Sobretudo após o distanciamento físico decorrente da pandemia de covid-19, fortaleceu-se a crença de que a educação formal, realizada em uma instituição de ensino, poderia ser substituída por outros tipos de vivências e experiências, como o brincar em casa ou no clube. Como uma profissional que dedicou a vida inteira ao trabalho com a formação dos pequenos, preciso dizer que são incomparáveis os ganhos que a Educação Infantil em uma escola séria pode proporcionar às crianças e é sobre isso que vou discorrer a seguir.
Evidências científicas (Para mais informações, consultar os trabalhos desenvolvidos pelo médico e pesquisador da infância James Fraser Mustard) demonstram que os três primeiros anos são os mais fundamentais para o desenvolvimento saudável das crianças porque, entre outros fatores, nesse período elas estão mais abertas do que nunca à experimentação e, consequentemente, à descoberta. A Educação Infantil é uma etapa da educação básica em que as próprias experiências vividas pelas crianças as ensinam a se relacionarem consigo próprias e com o mundo. Cabe, portanto, à escola oferecer um conjunto de experiências pensadas estrategicamente para que elas possam se desenvolver plenamente, em termos cognitivos, motores e socioemocionais.
É inquestionável que a infância deve ser vivida com alegria e que a única ocupação de uma criança em seus primeiros anos deve ser brincar e explorar um mundo cheio de novidades. Por isso que, quando frequentam uma boa escola, é comum que os pequenos alunos e alunas digam a seus familiares que, ao longo de todo um dia de “aula”, não fizeram outra coisa que não fosse brincar.
Então qual seria a diferença entre fazer isso em casa, na casa dos avós ou na escola? A diferença está na intencionalidade dessas brincadeiras. Educadores competentes têm a formação necessária para criar e conduzir brincadeiras com objetivos bem definidos. Nessas atividades especiais, em contato com outras crianças e – reforço – com adultos especializados, os alunos e alunas aprendem enquanto se divertem e vice-versa.
Embora difíceis de serem avaliadas por quem não vive o cotidiano escolar, essas aprendizagens impactam diretamente no presente e no futuro das crianças. Alunos e alunas que iniciam sua educação formal aos 4 anos – idade na qual a entrada na escola é obrigatória – tendem a demonstrar menor desenvolvimento motor e cognitivo, assim como menor capacidade de organização, planejamento, gestão de sentimentos e interação social do que aquelas que ingressaram aos 2 anos.
Com quase 40 anos de atuação como professora, coordenadora e diretora na Educação Infantil, aprendi (e desaprendi) muitas coisas. Como as pessoas, a educação se transforma, e isso é bom e necessário. Guardo, porém, uma certeza: "agora" é sempre a melhor hora para matricular uma criança na escola.
*Maria Cardoso é pedagoga, com especialização em Educação pela PUC-SP e diretora da Educação Infantil do programa regular da Escola Móbile.
Brincar em sala de aula é estratégia eficaz para promover a educação infantil integral
Educação infantil: como o pensamento computacional atua no desenvolvimento de habilidades socioemocionais?
Brasil tem 2,5 milhões de crianças fora das creches, aponta levantamento
Eduteca: Um aliado essencial na luta pela Educação infantil
Como avaliar a qualidade dos cuidados nas Escolas de Educação Infantil