A importância de acolher e escutar quem precisa de ajuda

No mês do Setembro Amarelo, a ginecologista Dra. Ligia Santos, ressalta sobre como é fundamental oferecer ajuda para quem sofre de depressão e ansiedade

Dra. Ligia Santos* Publicado em 24/09/2022, às 06h00

O mês é usado como campanha para ressaltar a importância da saúde mental -

ALERTA: Esse texto pode conter alguns gatilhos, por tratar de suicídio e lesão auto-infligida. 

 

Oi, pessoal, tudo bem? Hoje eu quero contar uma história de um consultório que aconteceu há um tempo. Eu estava atendendo uma senhora mais velha, que devia ter uns 65 anos, e estava em uma consulta de rotina. Durante a consulta, enquanto nós conversávamos algumas coisas, ela começou a falar a respeito de sua vida, de como ela se sentia triste, de como estava acabada, de como as coisas estavam difíceis para ela depois que seu filho faleceu.

Então perguntei como que foi isso aconteceu, uma vez que percebi que ela estava querendo conversar, se abrir. E ela contou que o filho estava na casa com ela, e enquanto ela estava assistindo TV na sala, ouviu um barulho e foi até o quarto do filho para ver o que estava acontecendo. Então encontrou o filho enforcado, morto.

Hoje, o vídeo que fiz é sobre suicídio. Isso porque nós estamos no mês de setembro, mês da campanha do setembro amarelo, que é justamente para falar sobre suicídio. Muitas pessoas acabam pensando que trata-se de um assunto de psiquiatra, então por que um ginecologista falar sobre suicídio? Porque na verdade é algo que todo mundo deveria falar. 

A OMS lançou um informe mostrando que o suicídio mata mais de 700 mil pessoas ao ano no mundo. Isso é mais que muitas outras doenças, como o HIV. Não tem um lugar em que o suicídio ocorre e em outro não: é um a tragédia global. É algo que acontece principalmente entre os homens e jovens, mas também há uma taxa importante de suicídio entre os idosos.

Não da pra saber exatamente quais são as causas do suicídio. É claro que podem existir causas genéticas, por exemplo, uma depressão grave é um dos principais fatores para uma pessoa se suicidar. Mas também pode-se encontrar pessoas que se suicidam por conta de abuso de drogas, perdas, ou entre uma mescla de fatores culturais e sociais, que acabam, naquele momento da vida, fazendo com que o único pensamento dessa pessoa seja “ já deu, eu não aguento mais”.

E isso pode acontecer com qualquer um, uma vez que vivemos em uma sociedade que muitas vezes nos cobra demais e nos oferece de menos. Uma sociedade em que as vezes nós não nos encaixamos, como as pessoas LGBTQIAP+ - principalmente transsexuais -  das pessoas negras, das PCD, enfim, todos aqueles que não estão dentro da norma que se espera, seja por que não atingiram o sucesso que lhes era esperado ou cobrado, seja porque elas tiveram sucesso e já não tem mais. Seja porque elas esperavam, de repente, um apoio, de amigos ou familiares, e esse apoio não veio.

 

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Por isso é importante ficarmos atentos aos sinais que possam sugerir que a pessoa pensa em suicídio. Aliás, verbalizar é muito importante, então se você convive com alguém que dá sinais como: dizer que está cansado demais, que a vida não faz sentido, que seria melhor se não estivesse aqui, que é um peso na família, que talvez vocês estivessem melhor sem ele, só da trabalho e gasto, que não tem amigos ou ninguém que a queira, enfim, qualquer pensamento verbalizado de intenção de morte, escute essa pessoa. Às vezes você pode até ouvir como essa pessoa está planejando se matar e ajudar a evitar. E não pense que é pra chamar atenção ou fazer gracinha, é um plano, que pode se realizar se não prestarmos atenção.

Então é importante lembrarmos que o suicídio ocorre em qualquer casa, com qualquer pessoa, em qualquer lugar. Algumas pessoas são mais ou menos vulneráveis, mas todos estão sujeitos a isso. Lembre-se que depressão não é tristeza: tristeza todo mundo têm, agora se é uma tristeza arrastada por mais de 6 meses, com uma queda brusca no estado geral, alteração de humor, impossibilidade de realizar tarefas ou concretizar planos, que às vezes tem dificuldade de relacionamento. É necessário ficar de olho nessas pessoas, porque elas estão pedindo ajuda, do jeito delas, mas elas estão pedindo ajuda, e nós podemos e precisamos ajudá-las.

Então, se você tiver convívio com alguém que você suspeita que esteja com essas intenções, encare com seriedade. Encaminhe essa pessoa para atendimento psicológico e psiquiátrico. Isso pode ser feito tanto levando diretamente com um médico de saúde mental, ou em uma UBS que pode acolher essa pessoa e encaminhá-las para um acompanhamento.

Para pessoas que são usárias de drogas, oferte ajuda. Para pessoas que tem problemas / transtornos mentais, pessoas que estão vivendo em uma fase mais difícil da vida, com perdas, com dificuldades, estenda a mão. Para pessoas idosas ou pessoas que acabaram doentes e estão com algum tipo de restrição, perdas amorosas, de trabalho, oferte seu ouvido, sua atenção. Porque muitas vezes nós não podemos fazer muita coisa, uma vez que não profissionais na área e não conhecemos do assunto com profundidade, mas podemos ouvir, mostrar que temos interesse, que essa pessoa é importante.

Formar uma rede de apoio para essas pessoas é afastar meios de suicidio. Se você convive com alguem que jé comecou a tocar no assunto e fale, fale, fale. Espalhe para as outras pessoas, fale da importância. Se você conhece alguém que esté se mutilando, que é um sinal gritante de ajuda, preste atenção. Repare naquelas pessoas que estão com um machucado que nunca melhora, que sempre estão com uma blusa comprida, mesmo com um calor danado: a pessoa está toda coberta porque está cheia de arranhão, de mordidas e quer esconder.

Preste atenção, isso é um pedido de socorro. E lembre-se, o suicídio não é uma questão pessoal, é uma questão da sociedade, porque ele afeta a todos. A gente perde força de trabalho, quando se pensa em economia, mas quando a gente pensa no convívio, quando pensamos no impacto que isso tem, vai muito alem da economia.

O que que virou a vida dessa mãe depois que ela pegou o filho enforcado no próprio quarto? O que vira a vida de crianças que perderam a mãe que se matou quando elas eram pequenas?  Ou da mulher que perdeu o marido? Ou de tantas outras situações, colegas de trabalho, pessoas que convivemos.

O suicídio mexe com o nosso instinto, um dos instintos mais fortes que temos, o de sobrevivência. Mexe com a nossa mente,  com a nossa vida, com o nosso dia a dia. E é super improtante que isso seja discutido, e que sejam procuradas maneiras de trabalhar isso como sociedade. Há formas de prevenção, de  evitar que esse tipo de tragédia aconteça. Não só em nossas casas, mas nas casas de tantas outras pessoas pelo mundo.

Então, se você conhece alguém de grupo de risco, alguém mais fragilizado, oferte ajuda, busque informações, e vamos se juntar em uma rede para tentar combater o suicídio. 

Se você quiser dividir alguma coisa, conversar, vai ser um prazer poder te ouvir e dividir essa experiencia com vocês.

 

Veja na íntegra o vídeo da Dra. Ligia Santos sobre o assunto:

 

 

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