Com menos de 40% de presença nos cargos de liderança, as mulheres ainda enfrentam o burnout materno
Redação Publicado em 11/05/2025, às 06h00
Com menos de 40% de representatividade em cargos de liderança e enfrentando taxas alarmantes de burnout parental, as mães executivas vivem sob múltiplas pressões e pouco se fala sobre as ferramentas que podem ajudá-las a sustentar esse equilíbrio. Para Amanda Carvalhal, psicóloga e CEO, o segredo está em três pilares: autoconhecimento, gestão do tempo e delegação inteligente.
“É possível liderar com excelência e estar presente na maternidade, mas isso exige consciência, organização e, acima de tudo, olhar generoso para si mesma”, afirma Amanda. Suas diretrizes, especialmente relevantes neste Dia das Mães, propõem uma reflexão prática sobre como conciliar papéis com leveza, sem abdicar da carreira nem da saúde mental.
Embora representem 45% da força de trabalho no Brasil, as mulheres ocupam apenas 35% dos cargos de liderança de alto escalão, como diretoria e posições C-level. Dados da FIA Business School revelam um avanço tímido: em 2023, o índice chegou a 38%, mas os obstáculos para a ascensão feminina seguem significativos. Em cargos de gerência, o país figura entre os mais bem posicionados do G20, atrás apenas de Rússia e Estados Unidos, com 38,8%.
Mesmo assim, o peso da jornada dupla, ou tripla, ainda recai desproporcionalmente sobre as mulheres. De acordo com levantamento publicado pela Veja, 9 em cada 10 mães brasileiras relatam sintomas físicos e emocionais semelhantes ao burnout profissional. Conhecido como “burnout parental”, esse quadro é intensificado em lares chefiados por mães solo. Um estudo da B2Mamy em parceria com a Kiddle Pass mostra que 50% das mães já receberam algum diagnóstico relacionado à saúde mental.
1. Autoconhecimento: liderança começa de dentro
Amanda Carvalhal acredita que o autoconhecimento é a principal ferramenta de gestão que uma líder pode desenvolver. “Conhecer nossos valores, limites e propósito nos dá clareza para tomar decisões assertivas – tanto na empresa quanto em casa”, explica.
A neurociência e os estudos sobre liderança autêntica sustentam essa tese: líderes mais conscientes de si demonstram maior capacidade de comunicação, gestão de conflitos e conexão com suas equipes. Segundo Daniel Goleman, precursor da inteligência emocional, a autoconsciência é a base para lideranças verdadeiramente inspiradoras.
2. Tempo com propósito
Outro ponto-chave para mães que lideram é saber priorizar. “A gestão do tempo não se resume a preencher a agenda com tarefas. Trata-se de escolher o que realmente importa, com foco e intenção”, diz Amanda.
Entre as práticas que aplica em sua própria rotina como CEO e mãe, ela destaca:
Time blocking: organização do dia em blocos de atividades específicas, o que aumenta a produtividade e reduz distrações;
Princípio de Pareto (80/20): priorizar os 20% de ações que geram 80% dos resultados;
Pausas conscientes: reservar intervalos ao longo do dia para respirar e reconectar com o momento presente.
3. Delegar é estratégia, não fraqueza
“Uma liderança madura reconhece que não precisa dar conta de tudo sozinha”, defende Amanda. Saber delegar, seja dentro do ambiente corporativo ou no contexto familiar permite que a mulher distribua energia de forma mais estratégica. "Não se trata de abdicar de responsabilidades, e sim de fortalecer o ecossistema ao nosso redor", aconselha.
Neste Dia das Mães, Amanda propõe um resgate simbólico do autocuidado como ferramenta de equilíbrio. “Seja uma pausa para uma leitura, uma conversa com uma amiga ou simplesmente o silêncio de uma manhã sem pressa: esses pequenos rituais renovam a mente e fortalecem o coração de quem cuida de tantos”, revela.
Entre cargos de liderança, planilhas, reuniões e rotinas com os filhos, Amanda lembra: "Cuidar de si é também um ato de liderança. Afinal, só conseguimos sustentar grandes jornadas quando estamos inteiras".
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