A saúde mental das mães e das crianças deveria ser considerada nas políticas públicas
Leticia Lyle* Publicado em 15/10/2022, às 06h00
Estamos em um momento que nos faz refletir sobre o valor da vida. Isso porque nesse tempo pós-pandemia é importante falar sobre o zelo pela saúde mental, incluindo aqui as nossas mães e as nossas crianças. O tema e suas nuances, como depressão e ansiedade estão em debate constante e já faz um bom tempo. Não à toa, a Fiocruz destaca que, no Brasil, em cada quatro mulheres, mais de uma apresenta sintomas depressivos no período de 6 a 18 meses após o nascimento do bebê.
Mas, afinal, o que a maternidade tem a ver com o assunto? Existe uma relação fina entre esse tema e a escolha de ser mãe. Muitas dificuldades surgem e, infelizmente, por conta da idealização e de uma visão social muito romantizada da maternidade, muitas vezes pode haver o adiamento de um pedido de ajuda.
Durante muito tempo, convivemos com a depressão, chamando apenas de “cansaço” ou “esgotamento”, semidentificar corretamente e dar o devido tratamento – algo que começa a partir da designação do quadro. Precisamos dar nomes e dizê-los.
Como mãe, sempre reflito sobre a felicidade dos meus filhos – o Spike e a Anna. Penso que posso protegê-los até certo ponto, mas não posso evitar que eles passem por algumas dores da vida, como um coração partido ou uma desilusão com algum amigo. Superprotegê-los desses riscos é blindá-los, inclusive, de bons momentos e alegrias. Ao mesmo tempo, tenho braços abertos para acolher, caso algum tropeço tenha sido inevitável. Mas é claro, estou falando de um exercício diário e racional.
Acredito que colocar na pauta as discussões sobre a saúde da mulher durante a maternidade é essencial. Não dá para fazer pacto de silêncio ou normalizar o sofrimento, é necessário criar redes de apoio e abrir espaço de fala e de escuta para as mães dos pequenos e dos jovens. Na escola onde atuo, temos um time bem considerável de mães e sabemos no nosso dia a dia que falar e trocar ainda são bons preventivos e até mesmo remédios eficazes para lidar com o dia a dia e com a jornada dessas famílias.
Desde quando comecei minha carreira como educadora, defendo que a prática do afeto e do comprometimento social em suas variadas formas podem não mudar o mundo como gostaríamos, mas transformam o ambiente onde estamos. Ajudar os outros é uma das máximas trabalhadas desde a primeira infância. E dentro do nosso ambiente escolar que, criteriosamente, já quase não tem paredes físicas, os muros emocionais também tendem a ser minimizados. As pessoas precisam de espaço, de ventilar ideias e emoções, de menos muros e mais janelas, como o título já diz. O diálogo franco, a possibilidade de ser quem somos em nossa pluralidade ajuda em tudo.
Como mãe, sinto na pele os sabores, as conquistas e os desafios que se colocam todos os dias. Jornadas duplas, por vezes, triplas e tantas vozes dentro de nós, sim, existem, mas o fato é que a troca salva vidas. A principal estratégia de ajuda para quem está enfrentando dificuldades emocionais é oferecer esse espaço de fala, lugar esse sem julgamento, pois assim é possível dividir as angústias sem tanta cobrança social.
Por fim, vamos refletir sobre como a saúde mental materna deve ser considerada uma questão de política pública e de saúde coletiva, afinal cuidar das mães é zelar pela sociedade. Enquanto o debate avança no cenário “macro”, podemos fazer a nossa parte no “micro”, sendo empáticas, atenciosas, abrindo janelas e derrubando tantas paredes.
*Leticia Lyle é diretora pedagógica da Camino School e cofundadora da Camino Education e da Cloe
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