Os perigos invisíveis das redes sociais e jogos online para crianças e adolescentes: o que os pais precisam saber?

Temos que saber dos riscos que existem na internet para orientar e proteger nossos filhos e filhas. Veja dicas de especialista

Sheylli Caleffi* Publicado em 20/12/2024, às 06h00

A educadora Sheylli Caleffi -

Vivemos uma era em que a internet é mais do que uma ferramenta: é um ambiente em que crianças e adolescentes crescem, exploram e se conectam. Mas, ao mesmo tempo, é repleto de riscos.

Dados alarmantes da Safernet mostram que, em 2023, houve um aumento de 77,13% nos casos de abuso e exploração sexual infantil online, comparado ao ano anterior. O que isso significa? Que a ingenuidade de pais e jovens em relação à exposição online pode se transformar em crimes.

As redes sociais, jogos e aplicativos, embora pareçam inofensivos, são os canais preferidos de criminosos para estabelecer contato inicial com jovens. Relatórios internos da Meta revelam que cerca de 100 mil crianças e adolescentes recebem conteúdos sexuais diariamente.

 

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Esses números não apenas chocam, mas também sinalizam uma necessidade urgente: educar e proteger. Identificando quais são os riscos visíveis e invisíveis Entre os perigos mais comuns, posso citar o aliciamento ou grooming - processo em que um adulto, geralmente com intenções maliciosas, manipula ou constroi um vínculo emocional com uma criança ou adolescente com o objetivo de explorá-la sexualmente.

E além disso existe o cyberbullying, a sextorsão, a comparação que gera distúrbios alimentares e os desafios virais que colocam a saúde física e mental em risco. Temos visto recentemente desafios que envolvem crianças incentivadas a ingerir substâncias nocivas, como enxaguante bucal e desodorante, por exemplo, ou realizar ações que podem levar à autolesão.

Já para adolescentes, a escalada do ódio em grupos os envolve em contextos de violência ou radicalização. Outro ponto crucial, que vejo como inicial de todos esses problemas, é a exposição indevida. Muitos pais, na tentativa de compartilhar momentos felizes dos filhos, publicam fotos e vídeos que podem acabar nas mãos de criminosos.

Uma imagem aparentemente inocente pode ser usada para fins inapropriados. Em casos extremos, durante minha experiência na área, já vi registros de pais que, inadvertidamente, abriram caminho para o roubo de imagens de seus próprios filhos, que bandidos venderam em outros canais, sem os envolvidos saberem da ação.

Lembrem-se que redes sociais não são permitidas para menores de 13 anos então, não devemos nós, adultos, levar suas imagens para lá. E afinal, como proteger as crianças e os adolescentes dessa alarmante realidade? É essencial que pais e educadores sejam os primeiros a abordar esses temas com crianças e adolescentes. Por isso, o primeiro passo é criar um espaço seguro de diálogo.

Explique que há pessoas mal intencionadas que se passam por amigos ou outros jovens para ganhar a confiança deles. Conte sobre a existência de grupos de ódio e como esses ambientes podem ser nocivos. O afeto, nesse contexto, é uma das maiores ferramentas de proteção, principalmente no caso dos pais. Criminosos exploram as emoções e a confiança das crianças e adolescentes em momentos de vulnerabilidade para alcançar seus objetivos. A fim de evitar que isso aconteça, é fundamental que os pais também se aproximem emocionalmente, estabelecendo uma relação mais cotidiana com os dilemas dos filhos.

Esse é outro desafio que as telas vem nos trazendo nesses tempos, já que estamos sempre em frente de uma delas, e esquecemos do mais importante: o olho no olho. Essa relação de segurança é importante também no caso da criança ou do adolescente estar exposto a algum desses problemas relatados: cyberbullying, racismo, homofobia, gordofobia, e principalmente a extorsão digital e o contato com algum amigo virtual.

Além da exposição, a internet também traz o acesso fácil a conteúdos inadequados, como a pornografia ou a softporn, que é um tipo de pornografia disfarçada, como vídeos onde pessoas fazem comida com um tom pornográfico; imagens de pessoas feridas e mortas em guerras; fotos e vídeos de crimes e até mesmo necrofilia - sim, já existem denúncias deste tipo de grupo aliciando crianças em aplicativos de compartilhamento de vídeo.

Por fim, o real problema que também vejo no uso desenfreado de aplicativos digitais é que as crianças e adolescentes têm desejado aquilo que não deveriam nesta etapa da vida. No mês das crianças, por exemplo, nos Estados Unidos, as crianças passaram a pedir cosméticos para skincare.

Algumas ‘trends’ que referenciam uma importante marca com produtos kids viralizou, e chegou também ao Brasil. Ou seja, estamos lidando com comparações de belezas na internet desde muito cedo, e isso pode causar grandes danos na saúde emocional desse público, e até mesmo bullying, ataques negativos e ofensas.

Proteger crianças e adolescentes na era digital exige atenção, empatia e ação. Não é a internet que é perigosa, mas a forma como não é regulada para proteção dos mais novos, e o jeito que usamos deixando nossos filhos expostos, sem diálogo e sem considerar o direito deles à própria imagem. É como deixar que ele ande sozinho, sem nenhum tipo de supervisão, à noite em um shopping onde se vende de tudo, inclusive exploração sexual de crianças e adolescentes.

*Sheylli Caleffi é educadora, ativista e autora do livro Respire Fundo

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