O mundo passa por transformações. Há profissionais que deixarão de existir? Novas profissões surgem? O que dizer para as novas gerações?
Redação Publicado em 05/04/2024, às 06h00
Eu dediquei boa parte da minha carreira recrutando talentos para grandes empresas no Brasil e na América Latina. Nos últimos anos, decidi mergulhar no universo da educação superior e, à frente do Inteli, eu tenho refletido e aprendido muito sobre as carreiras do futuro.
A verdade é que em um mundo cada vez mais V.U.C.A (volátil, incerto, complexo e ambíguo), precisamos conversar mais sobre como orientar as nossas crianças e jovens no processo de “o que você vai ser quando crescer”.
E como mãe de duas meninas da geração Alpha, eu me preocupo muito em ajudá-las a conviver e colaborar com a tecnologia, desenvolver habilidades transversais como a adaptabilidade e a criatividade, e a manter um compromisso com o aprendizado contínuo.
Eu não tenho bola de cristal, mas divido aqui com vocês seis tendências que devem moldar o futuro do trabalho digital das novas gerações.
Tecnologia como a nossa parceira de trabalho
Em um futuro que está logo ali, a tecnologia será ainda mais integrada às nossas vidas e aos negócios. Quer ser advogado, médico ou cientista social? Então abrace a revolução tecnológica.
Quer um exemplo? Segundo estudo da McKinsey Global Institute, as atuais tecnologias de IA generativa têm o potencial de automatizar atividades de trabalho que consomem de 60% a 70% do tempo dos profissionais de hoje.
Ou seja, as futuras gerações vão trabalhar lado a lado com os recursos digitais, aproveitando ao máximo seu potencial para inovar e aprimorar seu trabalho.
Mercado Global e Sem Fronteiras
A globalização, acelerada pela tecnologia, está expandindo o conceito de mercado de trabalho para além das fronteiras geográficas. Profissionais de diversas áreas trabalham cada vez mais em redes conectadas, colaborando com pessoas de diferentes partes do mundo.
Aqui no Brasil, por exemplo, o número de trabalhadores globais está crescendo: entre 2020 e 2022 a quantidade de “Global Workers” aumentou 491%, segundo o relatório da Husky.
Ou seja, investimentos que levem à fluência em outros idiomas e principalmente à multiculturalidade seguem em alta.
Corporações comprometidas com a agenda ESG
Em um futuro próximo, as corporações terão um papel ainda mais central na sociedade, especialmente nos tópicos relacionados à sustentabilidade e questões sociais.
A integração de critérios ESG (ambiental, social e de governança) será obrigatória para as organizações, estabelecendo um novo padrão de responsabilidade e de liderança no enfrentamento dos desafios globais.
Por meio de inovações em eficiência energética, soluções de economia circular e plataformas digitais para transparência e governança, a tecnologia vai ajudar as empresas a implementar práticas sustentáveis de forma mais eficaz e mensurável.
Nossos jovens já são muito alinhados a essas pautas. Nosso desafio é ajudá-los a integrar essa visão sistêmica e de sustentabilidade e transparência com a eficiência e cultura de resultados, importantes em qualquer carreira.
O Fator Humano
À medida que navegamos por uma era marcada pela ascensão da Inteligência Artificial e avanços tecnológicos, as qualidades intrinsecamente humanas ganham cada vez mais força.
Como a IA ainda não consegue substituir a nossa capacidade de inventar, de inovar e de estabelecer conexões emocionais profundas, o fator humano continua sendo decisivo na resolução de problemas complexos.
Para isso, é fundamental incentivar experiências que promovam a convivência, as conversas difíceis e o trabalho em equipes diversas.
Job Crafting
Uma outra tendência que eu sempre aposto é o protagonismo do "job crafting", onde os indivíduos têm cada vez mais a liberdade e a responsabilidade de moldar suas carreiras e funções.
A era de definir escopos de trabalho rígidos está dando lugar a uma abordagem mais fluida e colaborativa, exigindo a habilidade de co-criar as funções em um ambiente em constante mudança.
Incentive que seus jovens criem os próprios projetos e hobbies, definam metas e objetivos por conta própria e persigam seus interesses além do que as escolas e grades curriculares propõem.
Geração Alpha: Vida longa, múltiplas carreiras
Segundo relatório da McCrindle, 65% da Geração Alpha deve trabalhar em empregos que ainda não existem.
Os jovens vão lidar com um mercado de trabalho marcado pela longevidade e diversidade de carreiras. Os avanços na medicina e tecnologia não só prometem uma vida mais longa, mas também um período de trabalho prolongado, redefinindo o conceito de aposentadoria.
Assim, para a Geração Alpha, viver mais e trabalhar em múltiplas carreiras não será uma exceção, mas a nova norma, preparando-os para uma jornada de vida rica e multifacetada.
Quanto mais habilidades e competências puderem experimentar e desenvolver, mais chances terão de identificar caminhos de carreira que podem ter sucesso. Aqui, não incentivo a superficialidade e nem a baixa resiliência, mas a ampliação de repertório com vivências variadas.
E você, concorda com essas tendências?
* Maíra Habimorad - CEO do Instituto de Tecnologia e Liderança (Inteli) desde o início das atividades, em 2020. Mãe de duas filhas, trilhou boa parte de sua carreira na Cia de Talentos, onde iniciou como estagiária de recrutamento e se tornou CEO em uma trajetória de 18 anos. É co-fundadora da Bettha, uma startup da Cia de Talentos, além de participar do conselho de empresas como PAN e Boali, uma franquia de alimentação saudável. Formada em Relações Internacionais pela FAAP, com especialização em Recursos Humanos pela FIA Business School e Liderança Organizacional pela Universidade de Berkley, na Califórnia, sempre esteve ligada ao universo da educação. Acredita plenamente na necessidade de reinvenção do formato educacional para se adequar à nova geração e aos desafios reais do mercado de trabalho.
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