Entenda porque é importante investigar os sintomas menstruais em vez de dizer que "a dor faz parte da vida feminina"
Eliana Morita* Publicado em 06/10/2025, às 06h00
Ao longo da minha experiência em medicina reprodutiva, percebo como muitos sinais importantes passam despercebidos desde a adolescência. Cólica intensa, fluxo menstrual muito abundante, dores pélvicas frequentes ou alterações no ciclo, por exemplo, são sintomas que muitas vezes são tratados como “normais”. No entanto, podem indicar condições como a endometriose, que, se não investigada precocemente, pode comprometer a fertilidade no futuro.
Acredito que falar sobre preservação da fertilidade é também falar sobre educação em saúde. Se, na adolescência, houvesse maior incentivo para que meninas compartilhassem suas queixas e buscassem acompanhamento médico sem medo de julgamento, muitas situações poderiam ser diagnosticadas e tratadas mais cedo. Esse olhar cuidadoso evita não apenas o avanço de doenças silenciosas, mas também preserva a possibilidade de formar uma família mais adiante.
Outro ponto essencial é desmistificar a ideia de que “reclamar” de cólicas ou desconfortos é sinal de fraqueza. Muitas pacientes me contam que cresceram ouvindo que a dor fazia parte da vida feminina. Eu defendo exatamente o contrário: a dor não deve ser banalizada. Quando investigamos sintomas com atenção, conseguimos oferecer não apenas alívio, mas também estratégias que preservam a saúde reprodutiva em longo prazo.
Cuidar da fertilidade começa cedo e exige informação de qualidade. Ao falar com adolescentes, suas famílias e até com as escolas, podemos abrir espaço para conversas fundamentais. Quanto mais cedo entendermos que fertilidade tem prazo e que certos sinais não devem ser ignorados, mais mulheres e homens poderão realizar o sonho da maternidade e da paternidade com saúde e segurança.
*Dra. Eliana Morita médica especializada em ginecologia e obstetrícia, com atuação destacada no diagnóstico e tratamento da infertilidade, é sócia-fundadora do CITI Medicina Reprodutiva e idealizadora do projeto @abracefiv
*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres