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Transformação pela base: a inclusão na primeira infância

Quando falamos em inclusão de pessoas com deficiência, a primeira infância se torna ainda mais vital pelo desenvolvimento de habilidades fundamentais

Thaissa Alvarenga* Publicado em 18/09/2024, às 06h00

A inclusão deve começar na base - Arquivo de Thaissa Alvarenga
A inclusão deve começar na base - Arquivo de Thaissa Alvarenga

No último mês, tive a honra de participar da abertura de um evento fundamental para o futuro das nossas crianças no Cariri, Ceará, na cidade de Barbalha. O evento marcou o início de uma série de atividades dedicadas à primeira infância, organizado pelo governo do Ceará, através do projeto "Criança Feliz, Programa Mais Criança”, e com a colaboração do Instituto Maria Souto Vidigal, que gentilmente indicou meu nome para este importante encontro.

A primeira infância é um período crucial que abrange do nascimento até os três anos de idade, em que ocorrem as formações mais significativas do cérebro e das emoções. Neste contexto, o programa "Criança Feliz", desenvolvido na Secretaria da Proteção Social do Ceará, tem se destacado pelo acolhimento das mães e de suas crianças, oferecendo suporte e criando um ambiente de inclusão e desenvolvimento saudável.

Minha participação neste evento foi um momento muito especial, em que tive a oportunidade de compartilhar minha experiência pessoal e destacar a importância de olharmos com atenção para as famílias que possuem crianças atípicas. A inclusão deve começar na base, e esse é o momento certo para ensinar e mostrar para a sociedade o valor das diferenças.

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A abertura da palestra foi com Francisco, meu filho, que tem Síndrome de Down e é fonte inesgotável de inspiração para o Instituto Nosso Olhar, desde sua fundação. Tudo começou com a chegada dele na minha família e moveu em mim esta vontade de transformar o mundo. Chico, como carinhosamente o chamamos, tem participado de eventos e atividades trazendo sua história e contando como ele se sente feliz na sua vida.

Foi emocionante ver o engajamento das mães, famílias e agentes do programa que estavam presentes. Junto com o Francisco, tivemos uma troca enriquecedora com cerca de 150 participantes, incluindo o secretário da cidade, representantes locais, assistentes sociais e visitantes. 

A oportunidade de narrar minha história e a trajetória da minha família, além de poder ressaltar a importância da união entre a família, a escola e as redes de apoio para a inclusão de pessoas com deficiência e neurodiversidade, foi extremamente gratificante.

Acredito que as crianças são os principais agentes da mudança para um futuro mais inclusivo. Elas têm o poder de ensinar e aprender com as diferenças, e é nossa responsabilidade formar uma base sólida de respeito e empatia desde os primeiros anos de vida. A transformação começa pela base, e estou convencida de que, com iniciativas como essa, estamos no caminho certo para construir uma sociedade mais justa e inclusiva.

Agradeço imensamente ao Instituto Maria Souto Vidigal e ao Governo do Ceará pelo convite e pela oportunidade de contribuir para essa transformação no sertão cearense. Que possamos continuar juntos nessa jornada de acolhimento e inclusão, formando uma geração de crianças fortes e preparadas para um futuro de respeito às diferenças.

A primeira infância: desenvolvimento e intervenções

A primeira infância, que abrange os primeiros anos de vida, é uma fase crucial para o
desenvolvimento humano. É nesse período que o cérebro da criança passa por um rápido crescimento e desenvolvimento, formando as bases para habilidades cognitivas, emocionais e sociais que serão utilizadas ao longo da vida.

Quando falamos em inclusão de pessoas com deficiência, a primeira infância se torna ainda mais vital pelo desenvolvimento de habilidades fundamentais. Durante a primeira infância, o cérebro é altamente plástico, o que significa que ele é particularmente receptivo a aprender e se adaptar.

Para crianças com deficiência, esse é o momento ideal para introduzir intervenções e apoios específicos que possam melhorar significativamente suas habilidades motoras, cognitivas, de comunicação e sociais. O suporte adequado durante esses anos pode ajudar a minimizar os impactos de uma deficiência e maximizar o potencial da criança.

A primeira infância é também o período em que as crianças começam a formar suas primeiras interações sociais e aprendem sobre o mundo ao seu redor. Introduzir o conceito de inclusão e diversidade desde cedo é essencial para criar uma sociedade mais empática e aberta. Quando crianças com e sem deficiência interagem desde os primeiros anos, elas aprendem a valorizar as diferenças e a ver a diversidade como uma parte natural da vida. Isso ajuda a quebrar preconceitos e estigmas antes que eles se consolidem.

As famílias de crianças com deficiência enfrentam desafios únicos e podem se beneficiar enormemente de apoio e orientação desde o início. Programas focados na primeira infância que incluem a família no processo de inclusão oferecem suporte emocional e prático, ajudando os pais a entenderem as necessidades de seus filhos e a desenvolverem estratégias para promover seu desenvolvimento. Além disso, a criação de redes de apoio entre famílias na mesma situação fortalece a comunidade e proporciona um ambiente de acolhimento e aprendizado coletivo.

A inclusão na primeira infância ajuda a prevenir a exclusão e o isolamento social que muitas vezes afetam pessoas com deficiência ao longo da vida. Quando as crianças são incluídas em ambientes educacionais e sociais desde cedo, elas têm a oportunidade de construir amizades, desenvolver um senso de pertencimento e participar plenamente da vida em comunidade. Isso pode ter um impacto positivo duradouro em sua autoestima e em seu bem-estar emocional.

As experiências da primeira infância têm um efeito profundo nas oportunidades futuras.
Crianças que experimentam inclusão e recebem o apoio necessário têm mais chances de ter sucesso na escola e na vida adulta. Elas se tornam mais preparadas para enfrentar os desafios da vida e têm uma base mais sólida para alcançar a independência e a realização pessoal.

O Instituto Nosso Olhar trabalha para esta inclusão e transformação. Há 5 anos a gente vem contribuindo para o desenvolvimento de cada pessoa com atendimentos personalizados e coletivos na área da saúde, arte, cultura e esporte.

*Thaissa Alvarenga é empreendedora social, criadora do Instituto Nosso Olhar e do portal de conteúdo Chico e suas Marias.