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O envelhecimento: uma fase de decisões em família

Fórum em São Paulo, organizado pela plataforma Trevoo, debate o envelhecimento e os cuidados nesta fase da vida

Elaine Camilo* Publicado em 17/08/2023, às 06h00

Lilia Cintra Leite, 89 anos, moradora do Lar Santana - Foto: arquivo pessoal
Lilia Cintra Leite, 89 anos, moradora do Lar Santana - Foto: arquivo pessoal

Dona Lilia tem hoje 89 anos.

Lúcida, muito lúcida. É psicanalista e ainda trabalha. Agora atende pela internet.

Ela mesma diz: “Os tempos são outros. O mundo mudou. As famílias não têm mais tempo como antigamente, cada um tem que cuidar da sua vida. E eu vim cuidar da minha neste lugar. Tenho 2 filhas, 2 netas e 2 bisnetas que estão cuidando da vida delas”.

Dona Lilia está morando no Lar Santana, em Pinheiros, zona oeste de São Paulo, desde janeiro. Mas, ela disse que se preparou para isso. E numa conversa animada, começou a contar esse processo:

"Nos anos de 2016/2017 eu estava morando na minha casa na Vila Olímpia, e minha empregada doméstica tirou férias. Eu não queria ficar sozinha e aproveitei para “vir conhecer” um lugar que poderia vir a ser minha nova casa um dia. Fiquei aqui 15 dias, e gostei."(Dona Lilia)

Foi assim que ela explicou como foi fazer um teste e conhecer como era viver numa Instituição de Longa Permanência.

Depois disso, ela voltou pra casa e a vida foi seguindo. Até que a pandemia chegou. O medo da morte rondava a todos, principalmente os idosos. Foram 3 anos de muito isolamento social. Até que um dia ela caiu e quebrou o fêmur. Dona Lídia sempre foi muito independente, mas depois da queda, não podia mais ficar sozinha, precisava de ajuda pra tudo, pra banho, para se locomover, para as simples tarefas do dia a dia. Com isso, tinha que ter cuidadora, mais gastos, uma situação que durou alguns meses. Depois de um tempo, ela melhorou.

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No começo deste ano, outro susto: ela teve crises de hipertensão e alterações de batimento cardíaco. Aí ela não teve dúvida: “Chegou a hora, peguei minhas coisas, roupas e alguns objetos pessoais de caráter afetivo, entreguei a chave da minha casa para minhas filhas e disse que estava indo morar num lugar com outros idosos.” E continua: “Aqui tenho de tudo e não preciso me preocupar com nada, nem com mercado, nem com contas da casa pra pagar!!!!",  conta ela rindo e animada.

Tem um quarto só pra ela, tem 6 refeições por dia, consegue ter atividades e vida social com os demais idosos que moram lá. Faz ginástica, fisioterapia e outras atividades que a casa oferece. Dona Lilia estava no seu quarto enquanto conversávamos por telefone e já era tarde da noite. Quando, do outro lado da linha, ouço a enfermeira entrar no quarto e perguntar se estava tudo bem. E com seu bom humor, dona Lídia fala: “Aqui é assim, tem ronda noturna e as enfermeiras passam aqui de duas em duas horas pra ver se estou bem, se não caí, se não tive um piripaque!”.

Divertida, ela conta que isso tudo tem um custo e que as pessoas precisam se preparar para a velhice, financeiramente e emocionalmente.

E, para encerrar a conversa divertida com dona Lília, ela diz: “aqui também tem uns velhos tontos, cheio de gagazice. Mas eu ainda estou lúcida e não passei do ponto...”

Faltam no país políticas públicas voltadas ao envelhecimento

A história de dona Lilia e de tantos outros idosos que vivem em Instituições de Longa Permanência é um assunto que requer conhecimento, cuidado e gera muitas dúvidas.

Num país onde a quantidade de idosos aumenta cada vez mais, é hora de discutir o tema com profissionalismo e seriedade. É preciso investir em políticas públicas para o envelhecimento da população, já que a maioria não tem a mesma oportunidade nem as mesmas condições da Dona Lilia.

Esse é o foco da primeira edição no “Expo+Fórum ILPI’s”(IEF 2023), um evento para profissionais de Instituições de Longa Permanência, que terá a presença de gestores, médicos, órgão de vigilância e ministério público atuantes nas Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs), privadas, públicas e filantrópicas, a fim de compartilhar experiências, discutir demandas, e refletir sobre novas perspectivas dos cuidados de longa duração no contexto brasileiro.

O evento será promovido pela Plataforma Trevoo, fundada por Eliz Taddei, que conecta idosos e suas famílias com Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs). Acontece no Centro de Convenções Frei Caneca, nos dias 18 e 19 de agosto, das 08:30 às 19 horas.

Segundo Eliz Taddei, é necessário promover a qualidade dentro dos residenciais transformando esses locais em casas mais adequadas para as necessidades dos idosos, com um tratamento individualizado para cada necessidade: " Proporcionar ambientes com rotina de estimulação física, cognitiva e de socialização. A população está envelhecendo, estamos nos tornando longevos. E daqui a pouco, os longevos de 60 anos cuidarão dos longevos de 80,90. As políticas públicas precisam se preocupar com isso", alerta ela.

Quem quiser participar, clique aqui para inscrições.

*Elaine Camilo é jornalista e repórter colaboradora deste site