Diagnósticos rápidos com testes sindrômicos para detectar a coqueluche podem conter surtos e salvar vidas, explicam médicas
Redação Publicado em 13/08/2025, às 06h00
A coqueluche, doença respiratória que parecia controlada no Brasil, voltou a causar preocupação. Acompanhando a tendência global,em 2024 foram mais de 7.500 casos notificados no país, número 30 vezes maior do que o registrado no ano anterior(216 casos). Com treze mortes confirmadas, todas em bebês com menos de um ano, filhos de mães não vacinadas durante a gestação,o cenário acende um alerta para a queda da cobertura vacinal no país - e reforça a importância de tecnologias diagnósticas como os testes sindrômicos, capazes de detectar rapidamente a causa da infecção.
“Infelizmente, estamos vivenciando um retrocesso. A hesitação vacinal e a desinformação têm consequências graves, principalmente para os mais vulneráveis, como os recém-nascidos. De acordo com dados do Ministério da Saúde e do Programa Nacional de Imunizações, em 2023 o Brasil apresentou cobertura vacinal de 85,71% para a vacina penta e 78,28% para a vacina DTP, no primeiro reforço. Para conter o avanço dos casos de coqueluche, o objetivo é chegar à meta de 95%,”, alerta apneumologista pediatraDra. Eliandra da Silveira de Lima.
Causada pela bactéria Bordetellapertussis, a coqueluche se manifesta por crises intensas de tosse, que podem durar semanas e levar a complicações como pneumonia, convulsões, encefalopatia e até a morte. A transmissão ocorre por gotículas respiratórias, o que a torna altamente contagiosa. Segundo Dra. Daniela Leite, coordenadora do Centro de Referência Nacional para Coqueluche no Centro de Bacteriologia do Instituto Adolfo Lutz, o diagnóstico precoce é vital.
“Entre as metodologias para diagnosticar a doença, a cultura, realizada a partir da coleta da secreção de nasofarínge, ainda é considerada padrão ouro de diagnóstico, mas a PCR em tempo real, capaz de detectar o DNA do agente causador, é o método mais sensível e rápido disponível. No setor privado e em laboratórios de referência, tecnologias como as dos painéis sindrômicos, que utilizam esse método de PCR, permitem identificar, com uma única amostra, se o patógeno é Bordetellapertussis ou outro vírus ou bactéria respiratória”, explica.
Ainda de acordo com Dra. Daniela, essa diferenciação é essencial, pois os sintomas da coqueluche se confundem com os de outras infecções respiratórias, como gripe, VSR, rinovírus, entre outros, que seguem em alta, principalmente nos meses de outono e inverno. O diagnóstico incorreto ou tardio pode atrasar o início do tratamento, contribuir para a transmissão da doença e até levar a internações desnecessárias.
“Com esses testes por PCR em tempo real, é possível detectar múltiplos patógenos ao mesmo tempo e com alta sensibilidade. Os resultados saem em aproximadamente uma hora, o que ajuda a definir a conduta clínica de forma muito mais eficiente”, explica Dra. Daniela.
Para André Santos, Medical Science Liaison da QIAGEN, além do impacto direto na saúde dos pacientes, o uso dos testes sindrômicos tem efeito positivo para o sistema de saúde como um todo. “Eles permitem reduzir o tempo de permanência em unidades de pronto atendimento, evitar o uso indiscriminado de antibióticos - importante para conter a resistência bacteriana -, melhorar a vigilância epidemiológica de surtos e otimizar recursos hospitalares e laboratoriais”, afirma.
Ainda assim, a adoção desses testes em larga escala no Brasil enfrenta desafios. “Custo, logística e desigualdade regional dificultam a implementação nos serviços públicos, embora os benefícios sejam evidentes”, pontua Dra. Eliandra.
Enquanto o Ministério da Saúde trabalha para elevar as taxas de imunização — que caem desde 2016 —, especialistas defendem a retomada da confiança na vacinação, reforços vacinais em adolescentes e adultos, além do investimento em tecnologias que permitam diagnósticos mais rápidos e assertivos.
“Estamos diante de uma crise evitável. Precisamos agir com responsabilidade, baseados na ciência, para evitar novas epidemias como a da coqueluche e tantas outras infecções respiratórias graves que já conhecemos”, conclui Dra. Daniela.