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Famílias e a nova tendência das "mães de bebê reborn": Uma reflexão necessária

A tendência é algo mais do que só uma brincadeira, com raízes preocupantes

Larissa Fonseca* Publicado em 15/05/2025, às 06h00

Usar bonecas como uma simulação de maternidade é um sinal possível de solidão - pexels
Usar bonecas como uma simulação de maternidade é um sinal possível de solidão - pexels

Em um mundo cada vez mais acelerado, onde as conexões reais dão lugar às virtuais e as emoções muitas vezes são silenciadas pelo barulho das redes sociais, novas formas de lidar com o afeto e a solidão têm surgido. Uma das mais intrigantes, e como não dizer, controversas, é a crescente tendência das chamadas “mães de bebês reborn”.

Para quem não está familiarizado, trata-se de mulheres (e também alguns homens) que adotam bonecas hiper-realistas como se fossem filhos de verdade, dando nome, criando rotinas, passeando com carrinhos de bebê e até montam quartinhos completos e fazem celebrações.

À primeira vista, pode parecer apenas uma modinha curiosa, uma excentricidade inofensiva ou até uma brincadeira inocente. Mas por trás desse fenômeno, existem questões profundas que merecem atenção e não risos.

É importante deixar claro que aqui falamos de adultos que, em muitos casos, criam laços emocionais com objetos inanimados como substituto de relações humanas reais. Não se trata apenas de um hobby de colecionador ou de uma atividade artística. Em muitos relatos, há envolvimento afetivo intenso, práticas maternas completas e, em alguns casos, uma negação da realidade.

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A romantização desse comportamento esconde um problema maior. O que leva alguém a investir tempo, dinheiro e afeto em algo que simula a maternidade, mas sem o vínculo real de um ser humano em crescimento? Solidão? Luto mal elaborado? Frustrações pessoais? Carências afetivas não tratadas? Todas essas hipóteses precisam ser investigadas com empatia, mas também com seriedade.

Tratar o assunto como piada ou como simples moda é perigoso, porque desvia o foco do que realmente está em jogo: o estado emocional de quem se envolve profundamente com esse tipo de prática.

A fantasia, quando se sobrepõe à realidade a ponto de substituir vínculos reais, deixa de ser saudável.

Em tempos em que a saúde mental precisa ser prioridade, olhar com atenção para fenômenos como esse é essencial.

Pais, famílias, educadores e responsáveis precisam estar atentos pois modas como essa, por mais inofensivas que pareçam, carregam um potencial nocivo real. Quando normalizadas, podem confundir as crianças e adolescentes, moldando percepções distorcidas sobre afeto, maternidade e relações humanas. É fundamental proteger os filhos dessas influências e orientá-los com consciência e diálogo.

*Larissa Fonseca é Pedagoga e NeuroPedagoga graduada pela USP, Pós Graduada em Psicopedagogia, Psicomotricidade e Educação Infantil. Autora do livro Dúvidas de Mãe.

*Com edição de Marina Yazbek Dias Peres