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No Mês do Meio Ambiente, jovens da Amazônia propõem soluções para a crise climática no Programa Rede da ONG Vaga Lume

Simulação de conferência climática e rodas de conversa nas comunidades marcam atividades do Programa Rede

Redação Publicado em 05/06/2025, às 15h00

O Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado nesta quinta-feira (5) - Divulgação
O Dia Mundial do Meio Ambiente é celebrado nesta quinta-feira (5) - Divulgação

No mês do meio ambiente, que abriga o Dia Mundial do Meio Ambiente — celebrado nesta quinta-feira, 5 de junho —, a ONG Vaga Lume destaca o protagonismo de adolescentes da Amazônia Legal na construção de respostas locais à crise climática. Por meio do Programa Rede, jovens de diferentes comunidades vêm se reunindo ao longo do ano para refletir sobre os impactos ambientais em seus territórios e propor soluções com base em seus saberes, culturas e experiências.

Criada em 1972 pela ONU, a data surgiu como resposta à crescente destruição dos ecossistemas. Mais de cinco de décadas depois, os alertas científicos se intensificaram, e o Brasil — país com a maior biodiversidade do planeta — está no centro das atenções. Em novembro, Belém (PA) sediará a COP30, conferência global sobre o clima que colocará a Amazônia no centro do debate internacional. E a Vaga Lume acredita que proteger a floresta começa ouvindo quem vive nela.

No encontro mais recente do Programa Rede, realizado em maio, os adolescentes participaram de uma simulação de uma mini-COP. Divididos em grupos que representavam comunidades quilombolas, povos indígenas, sociedade civil, empresas e governos, os jovens debateram propostas concretas para enfrentar os desafios ambientais. A atividade revelou um alto grau de consciência sobre as causas e consequências das mudanças climáticas — e também o desejo de agir.

Lia Jamra, diretora-executiva da Vaga Lume, destaca a potência dessas vivências. “Quando criamos espaços onde os adolescentes podem discutir a crise climática, também abrimos portas para que expressem seus medos e esperanças sobre o futuro. O mais potente foi ver como esses jovens usam os próprios referenciais, histórias e territórios como base para pensar soluções. Eles sentem na pele o impacto das mudanças climáticas e como isso atravessa seu cotidiano”, diz.

A ONG, que atua há mais de 20 anos com bibliotecas comunitárias em comunidades rurais, ribeirinhas, indígenas e quilombolas da Amazônia, recebeu o prêmio internacional UNAOC (Aliança das Civilizações das Nações Unidas, uma iniciativa da ONU) por seu trabalho com juventude, cultura de paz e sustentabilidade. Dentro do Programa Rede, o programa de intercâmbio cultural da Vaga Lume entre jovens da Amazônia e de outras localidades do Brasil e do mundo, temas como clima, biodiversidade, identidade e território permeiam rodas de conversa e oficinas realizadas com apoio de voluntários locais.

Segundo Jamra, o papel da leitura vai além da formação escolar: “Os livros que chegam às bibliotecas não falam apenas sobre mudanças climáticas de forma direta. Eles falam das raízes — da floresta, das águas, dos modos de vida das comunidades tradicionais. E é justamente esse enraizamento que impulsiona a reflexão crítica. A leitura desperta a consciência de que somos parte da natureza e de que preservar o meio ambiente é também preservar quem somos.”

Ao longo do ano, as atividades do programa refletem não só os grandes temas globais, mas também os dilemas locais vividos pelas comunidades amazônicas. “Muitas delas já sentem, no dia a dia, os efeitos do clima: chuvas irregulares, secas prolongadas, peixes contaminados, dificuldades para plantar ou pescar. As bibliotecas são espaços de escuta, reflexão e ação”, diz Jamra.

Para marcar o Mês do Meio Ambiente, a Vaga Lume também selecionou livros que incentivam a conexão com a natureza, valorizam a diversidade ambiental e cultural da Amazônia e estimulam o pensamento crítico desde a infância. As obras funcionam como convites poéticos e visuais para que crianças, adolescentes, educadores e famílias repensem seu papel na preservação do planeta — começando pelo lugar onde vivem.

A Escola Lá Fora (Ed. Pera Book)
De Janaina Tokitaka, o livro propõe uma escola diferente — onde as lições são aprendidas no barro, na grama e sob as árvores. Uma ode ao aprendizado ao ar livre e à reconexão com o mundo natural.

Brilhos na Floresta (Ed. Valor)
Inspirado em uma experiência real de campo, o livro de Noemia Kazue Ishikawa e outros autores narra o encontro de pesquisadores com fungos bioluminescentes na Amazônia. É também uma história sobre amizade, ciência e a beleza escondida da floresta.

Chuva (Ed. Alebebê)
De Caroline Carvalho, com ilustrações de Guilherme Karsten, a obra transforma os dias chuvosos em aventuras cheias de poesia e descobertas, ensinando sobre o ciclo da água e sua importância vital para todos os seres.

Debaixo da Copa das Árvores ao Redor do Mundo (VR Editora)
Escrito por Íris Volant e ilustrado por Cynthia Alonso, apresenta uma jornada pelas árvores dos cinco continentes, revelando sua diversidade, seu simbolismo e sua função essencial na vida de todos os seres vivos.

Embaúba – Uma Árvore de Muitas Vidas (Ed. Escrituras)
Também de Ishikawa e equipe, a obra explora a relação entre uma professora, seus alunos e uma árvore amazônica, a embaúba, mostrando como a biodiversidade e a pesquisa caminham juntas na valorização da natureza.

O Trem das Águas (Ed. Ciranda na Escola)
Com texto e ilustrações de Fernando Vilela, o livro é uma viagem sensorial pela floresta, que evoca a grandiosidade da natureza e fala, com lirismo, sobre a necessidade urgente de proteger a água.

Terra, Rio e Guerra: a Sina de um Curumim (Ed. Moderna)
Escrito por Cristino Wapichana e ilustrado por Macuxi, conta a história de um menino indígena diante do conflito e do deslocamento. Uma reflexão sobre território, paz e o direito dos povos originários à sua terra.

Vento (Ed. Aletria)
De Caroline Carvalho, com ilustrações de Guilherme Karsten, o livro celebra a força do vento e seu papel no equilíbrio ambiental, convidando os pequenos leitores para uma dança mágica com os elementos da natureza.