Mariana Kotscho
Busca
» INSTITUTO MARIA DA PENHA

Universidade Federal do Ceará e Instituto Maria da Penha lançam relatório sobre impactos da COVID-19 na violência doméstica

O evento do relatório acontecerá em Brasília e tem o apoio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT)

Redação Publicado em 24/08/2022, às 06h00

Lançamento ocorrerá dia 24 de agosto
Lançamento ocorrerá dia 24 de agosto

No dia 24 de agosto, a Universidade Federal do Ceará (UFC) e o Instituto Maria da Penha (IMP) farão o lançamento do relatório “Entendendo os impactos da COVID- 19 na violência doméstica no Brasil”, que também conta com a parceria de outras instituições nacionais e internacionais (UFRN, UFPB, UFBA, UECE, EBSERH, Universidade de Gotemburgo e Universidade de Warwick), formando uma rede interinstitucional e interdisciplinar de pesquisa. Financiado pelo Sexual Violence Research Initiative (SVRI – https://www.svri.org/), esse projeto tem o objetivo de avaliar o impacto da pandemia na violência doméstica e familiar contra mulheres e crianças, bem como desenvolver bases para um plano de retomada pós-COVID que contemple as questões de gênero.

Responsável pela pesquisa, José Raimundo Carvalho, Diretor do Colégio de Estudos Avançados da UFC (CEA/EIDEIA) e Professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da UFC (CAEN/UFC), comenta:

Uma das principais características desse estudo é a sua complexidade técnica, científica e ética. Desde a concepção do questionário e da aprovação de todas as etapas pelo Comitê de Ética em Pesquisa Nacional, passando pelas exigências científicas e pelo treinamento das pessoas em campo, até o tratamento e a análise meticulosa dos dados coletados, além da complexidade do próprio fenômeno (COVID-19 e violência doméstica), tivemos que caminhar um percurso difícil, porém necessário. Muitos marcadores sociais, econômicos, psicológicos e de saúde pública, tais como educação, renda, saúde mental, composição familiar, classe e desigualdade de gênero, afetaram mulheres e crianças no contexto da COVID-19. Isso significa que a coleta de dados primários bem executada e as análises (quantitativas e qualitativas), em conjunção com critérios éticos, desapego ideológico e interseccionalidade, são aspectos que a pesquisa julgou relevantes em relação a cada conjuntura doméstica e familiar analisada pelo nosso grupo de cientistas e ativistas”

Conforme alguns dados já mapeados, ressalta-se que a violência emocional/psicológica foi a que mais aumentou no Brasil: 12,55% das mulheres sofreram violência emocional/psicológica em 2019, e, após o início da pandemia, esse número foi para 16,16% no ano de 2020, chegando a 16,55% em 2021. Essa primeira evidência corrobora a hipótese de que a COVID-19 intensificou (continuamente) a violência do tipo emocional/psicológica no Brasil. E esse aumento também se dá de maneira complexa, com especificidades de acordo com cada Estado, recorte socioeconômico da família e estágio evolutivo da pandemia à época da coleta de dados. São Paulo (SP) – de forma acentuada – , Belém (PA), Recife (PE) e Salvador (BA) são os locais de maior crescimento.

Veja mais

Notamos essas mesmas diferenças por meio da análise da prevalência da violência física. Os dados indicam que houve um ligeiro aumento: de 5,49%, em 2019, para 5,73%, em 2020; depois, uma diminuição para 4,64%, em 2021, atingindo um nível menor do que aquele em 2019. Mais uma vez, nem todas as cidades seguem esse padrão. Por exemplo, a cidade de São Paulo (SP) mostra um movimento sempre ascendente: de 3,92%, em 2019, para 6,94%, em 2020, aumentando ainda mais em 2021 (8,22%). Em contraste, a cidade de Salvador (BA) apresenta um movimento descendente: de 7,27%, em 2019, para 5,05%, em 2020, atingindo um valor ainda menor em 2021 (4,08%). Essa evidência fortalece a hipótese de que a COVID-19 aumentou a violência física no Brasil de maneira não monotônica, tendo um impacto diferente em termos de recorte geográfico.

Infelizmente, como podemos verificar, a própria casa não foi um lugar necessariamente seguro para muitas mulheres, e o crescimento do número de casos de violência doméstica em âmbito global é prova disso. A intensificação da convivência em razão do isolamento social, somada a fatores como desemprego, insegurança alimentar e aumento do consumo de álcool, por exemplo, potencializou as tensões e tornou o ambiente doméstico mais vulnerável à violência. Nesse sentido, é fundamental uma pesquisa como esta liderada pela UFC. Com base em estatísticas e análises científicas criteriosas, é possível viabilizar políticas públicas que incluam medidas de saúde pública e transferência de renda para que milhares de mulheres possam resgatar a sua dignidade e ter acesso aos seus direitos. Essa sistematização de dados, inclusive, está prevista no artigo 8o da Lei Maria da Penha, que completou 16 anos no dia 7 de agosto”, declara Conceição de Maria, cofundadora e superintendente-geral do Instituto Maria da Penha.

O Professor José Raimundo Carvalho ainda enfatiza: “As mulheres formam o grupo que mais perdeu durante a pandemia, aquele que terá mais dificuldades em recuperar seu status quo pré-pandêmico e, quiçá, em avançar na próxima década de acordo com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 (ODS 5) da ONU – Igualdade de Gênero. Pensando nisso, ainda em 2022, lançaremos uma proposta para um ‘Plano Nacional de Recuperação, Compensação e Avanço Socioeconômico Pós-COVID-19 com Olhar de Gênero’, em que nossos achados, análises e proposições de políticas e intervenções estarão delineados e à disposição dos(as) próximos(as) governantes: presidente(a) e governadores(as)”.

O relatório que será lançado no dia 24 de agosto compõe a 4a Onda da Pesquisa de Condições Socioeconômicas e Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher (PCSVDF Mulher), que teve início em 2016 com a parceria da UFC e do IMP.

Programação:

O lançamento será realizado na modalidade híbrida (presencial e online). A programação contará com três momentos:

MOMENTO 1 (1h e 20min)

  1. Abertura do Prof. José Glauco Lobo Vice-Reitor da UFC (5 min, remota e em tempo real)

  2. Apresentação do Vídeo de Introdução ao Projeto (15 min)

  3. Apresentação do Relatório UFC/SVRI realizada pela equipe do projeto (60 min) por: Prof. José Raimundo Carvalho (CEA/EIDEIA e CAEN/UFC), Juliana Guimarães e Silva (CEA/EIDEIA), Mércia Cruz ()UFPB

MOMENTO 2

(1h e 30m)

  1. Composição e Apresentação dos(as) convidados(as) para o Debate pelo(a) Mediadora do IMP (5min)

  2. Considerações da Profa. Ana Paula Antunes do GPP/FACE/UnB, responsável pelo “Research Peer-Review” (20 min)

  3. Considerações da Dra. Cíntia Costa da Silva Promotora de Justiça e Coordenadora do Núcleo de Gênero do MPDFT (10

    min)

  4. Considerações da Sra. Gabriela Bastos Gestora de Projetos da ONU-Mulheres (10 min)

  5. Considerações do Sr. Pablo Acosta Coordenador Setorial de Desenvolvimento Humano do Banco Mundial (10 min)

  6. Considerações/Respostas da Equipe do Projeto (15 min)

  7. Participação da Audiência (15 minutos)

  8. Considerações Finais/Agradecimentos da Equipe do Projeto (5 min)

MOMENTO 3(15m)

  1. Fala de Encerramento do Prof. João César Mota Diretor da EIDEIA/UFC (5 min)

  2. Fala de Encerramento da Dra. Fabiana Costa Oliveira Barreto Procuradora-Geral de Justiça do MPDFT (5 min, remota e em tempo real)

  3. Fala de Encerramento de Sra. Maria da Penha Fundadora e Presidente do IMP (5 min, remota e em tempo real)

Público-Alvo: Cientistas, pesquisadores, professores universitários, técnicos de organismos internacionais e nacionais, gestores públicos e privados, estudantes de graduação & pós-graduação e representantes de ONGs em áreas correlatas aos temas do seminário e demais profissionais interessados mediante a disponibilidade de vagas.

Data: 24 de agosto de 2022

Horário: 9:00h às 12:15h

Local: Auditório Promotor de Justiça Andrelino Bento Santos Filho – Zona Cívico-Administrativa Ed. Sede do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), Lote 2, Brasília/DF. Link para inscrição: https://docs.google.com/forms/d/19Eq6y0j3h5sn_w8Hk5uvLF8j045PGd5aOUTmpyWoX9 M/viewform?edit_requested=true 

O evento também será transmitido ao vivo pelo Youtube https://youtu.be/tw2_8aCgc6o

Sobre o Instituto Maria da Penha (IMP)

Fundado em 2009, o Instituto Maria da Penha (IMP) é uma organização não governamental sem fins lucrativos. A sua missão é enfrentar, por meio de mecanismos de conscientização e empoderamento, a violência doméstica e familiar contra a mulher. Assim, o IMP estimula e contribui para a aplicação integral da Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/2006), bem como monitora a implementação e o desenvolvimento de políticas públicas, além de promover ações para construir uma sociedade mais justa e livre de discriminação e violência.

www.institutomariadapenha.org.br