A OMS recomenda aleitamento exclusivo até os seis meses, mas desafios sociais e culturais podem dificultar essa prática
Patrícia Terrível* Publicado em 15/08/2025, às 06h00
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam que o aleitamento materno seja exclusivo até os seis meses de idade e complementado com outros alimentos até dois anos ou mais. Essa prática protege contra diarreias, infecções respiratórias, alergias, diabetes, hipertensão e colesterol alto. Além disso, oferece benefícios diretos à mulher, como redução no risco de câncer de mama e ovário.
Embora a amamentação seja um ato natural e instintivo, algumas mães enfrentam desafios com implicações sociais, culturais e psicológicas. Dor nos mamilos, mastite, produção de leite insuficiente e retorno precoce ao trabalho são algumas das barreiras que impedem a manutenção do aleitamento materno exclusivo, principalmente nas primeiras semanas pós-parto. Há também influências sociais e comerciais, com empresas de fórmulas infantis realizando ampla publicidade e mudando a percepção dos pais em relação à importância da exclusividade do leite materno.
Na campanha Agosto Dourado, muito mais do que falar da importância do aleitamento materno, é fundamental reconhecer que nem todas as mulheres conseguem amamentar com tranquilidade e facilidade. É preciso reforçar a necessidade e ampliar o acesso ao suporte profissional, incluindo bancos de leite humano, consultoras de amamentação e redes de apoio, além de combater a romantização da amamentação como algo que é sempre fácil.
Como sociedade, precisamos construir ambientes mais favoráveis à amamentação. Isso inclui ações institucionais no ambiente de trabalho, políticas públicas de proteção à licença maternidade, educação em saúde e combate à desinformação. Todas as mães têm direito a informações baseadas em evidências sobre opções de alimentação infantil, aconselhamento especializado e políticas de apoio como adaptações no local de trabalho que lhes permitam tomar as melhores decisões para suas famílias.
É preciso também lembrar que nenhuma mãe deve se sentir envergonhada ou culpada por não poder amamentar, seja por escolha ou necessidade. Todas as mães merecem respeito e apoio em suas decisões sobre amamentação. Embora seja indiscutível que o aleitamento materno proporciona muitos benefícios à saúde, é necessário ter empatia e reconhecer que a situação de cada família é única.
Por fim, amamentar é um ato de cuidado, mas também de responsabilidade coletiva. Incentivar, respeitar e apoiar cada mãe em sua jornada é o caminho para alcançarmos mais saúde e equidade desde o início da vida.
*Patrícia Terrível é pediatra neonatologista do Hospital Geral do Grajaú, unidade pública sob gestão do Instituto de Responsabilidade Social Sírio-Libanês.