Viajar sem fronteiras: histórias de refugiados

Dicas culturais para saber mais sobre a realidade dos refugiados

Sebastião Rinaldi* Publicado em 24/08/2023, às 06h00

Mural de Lavi Israël, artista congolês -

No dia a dia, estou sempre pensando em formas de apresentar o Brasil sob um olhar mais cultural para os alunos do Instituto Adus – uma ONG para inclusão de pessoas em situação de refúgio ou outros tipos de migração involuntária, localizada em São Paulo. Vai desde a “Feijoada completa”, de Chico Buarque, ao “Que horas ela volta?”, de Anna Muylaert. Para esta lista que segue, tive que fazer esse exercício às avessas: pensar em obras que versem sobre o universo da diáspora de maneira honesta e sensível. Uma boa viagem!   

“As nadadoras”

Lançado em 2022 pela Netflix, esse longa-metragem é de uma sensibilidade imensa ao contar a história real das irmãs sírias, Yusra e Sara Mardini. As duas adolescentes, filhas de um professor de natação que as estimulava a competir profissionalmente nessa modalidade, se veem obrigadas a deixar Damasco, ainda em um estágio inicial da guerra, e migrarem para a Europa, começando a jornada na Turquia, passando pela Grécia, Hungria e, por fim, Alemanha. As cenas, muitas vezes áridas, são balanceadas pelo carinho que elas têm entre si e com os demais migrantes, na mesma jornada. Yusra competiu em duas Olimpíadas – Rio e Tóquio – no time de refugiados e tornou-se embaixadora do ACNUR (agência da ONU para essa mesma causa).   

“Borders”

Essa canção da cantora cingalesa MIA, que também esteve na condição de refugiada quando jovem, foi lançada em 2016, quando os fluxos diaspóricos globais se intensificavam. A letra faz referências aos privilégios das nações consideradas desenvolvidas e a relação dessas condições com as fronteiras (daí, o nome da faixa). O clipe é bem gráfico para ilustrar algumas condições desumanas que refugiados são submetidos. 

“A menina que abraça o vento” (Ed. Vooinho)

O livro, direcionado ao público infantil, conta a história de Marsene, uma menina congolesa forçada a se separar de sua família devido ao triste conflito na República Democrática do Congo. A escritora Fernanda Paraguassu, também uma pesquisadora sobre diáspora, dosou as palavras com maestria para discutir esse assunto, de maneira delicada e realista, para as crianças. Abraçar o vento é a forma que Marsene encontra para lidar com a saudade.

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“White Helmets”

Vencedor do Oscar de melhor documentário de curta-metragem em 2017, o filme – disponível na Netflix – narra a trajetória humanitária do grupo não-governamental Capacetes Brancos. São cerca de três mil voluntários que atuam na Síria, resgatando vítimas de bombardeios e expondo-se a diversos riscos durante essas jornadas. O doc foi gravado durante a atuação dos agentes, conferindo mais realidade à produção e, não por acaso, ganhando a estatueta norte-americana.  

Lavi Israël (artista plástico)

No ano passado (2022), durante o Casa Cor, enquanto percorria os corredores do Conjunto Nacional, me deparei com um mural desse artista visual congolês e não conseguia parar de apreciá-lo. Em situação de refúgio no Brasil desde meados da década passada, Lavi encontrou no mercado de publicidade, em São Paulo, um meio de recomeçar, após ter sido obrigado a deixar seu lar na República Democrática do Congo, onde se formou em Artes.

“O diário de Myriam”

Novamente, a Guerra da Síria, iniciada há mais de dez anos e lamentavelmente banalizada, vem à tona com esse livro, que descortina os horrores desse conflito a partir dos olhos de Myriam Rawick, uma criança que cresce em uma realidade espinhosa de um país em ruínas. A obra é assinada pelo francês Philippe Lobjois, jornalista enviado ao País, que acompanhou a jovem, colhendo depoimentos e convertendo-os nesse belo – e ao mesmo tempo triste – material.

*Sebastião Rinaldi, jornalista e professor de Português como Língua de Acolhimento (PLAC) no Instituto Adus

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