o diagnóstico correto de superdotação ou altas habilidades é fundamental para orientar as famílias e as escolas
Redação Publicado em 16/11/2024, às 06h00
O estado de São Paulo está no topo da lista brasileira de identificação de pessoas com altas habilidades ou superdotação, com 1,7 mil paulistanos mapeados pela Mensa Brasil, associação dedicada a indivíduos com elevado quociente de inteligência (QI). Dados recentes mostram que, em todo o país, são mais de 4 mil brasileiros com essas características, sendo que 32% são crianças e adolescentes. O crescimento nos últimos seis meses foi expressivo: aproximadamente mil novos casos foram registrados, impulsionados por investimentos em inteligência artificial, que tem acelerado e ampliado a detecção.
A utilização de inteligência artificial no processo de identificação, segundo especialistas, permitiu uma análise mais precisa e rápida dos perfis, auxiliando na triagem de características associadas à superdotação. Esse avanço é celebrado pelos educadores e profissionais de saúde mental, que destacam a importância de reconhecer as habilidades especiais ainda na infância. O psicólogo e neuropsicólogo Damião da Silva, especialista em superdotação e CEO do Instituto UnicaMente, que possui mais de 15 anos de experiência clínica e formação em Altas Capacidades pela Universidade Internacional de La Rioja, explica: “A inteligência artificial trouxe uma nova dimensão ao processo de identificação, permitindo cruzar dados de maneira eficiente. Isso é essencial para capturar nuances que, muitas vezes, podem ser perdidas nos métodos tradicionais”.
São Paulo lidera, mas a distribuição de pessoas com superdotação pelo Brasil também mostra concentração em outros estados: o Rio de Janeiro contabiliza 423 pessoas com altas habilidades, seguido por Minas Gerais, com 322, e Paraná, com 308. A maior concentração em São Paulo pode estar ligada ao investimento em políticas públicas e à presença de centros especializados, como o Instituto UnicaMente e outras instituições dedicadas ao suporte e desenvolvimento das altas habilidades.
“O ambiente educacional em São Paulo possui mais iniciativas voltadas para a inclusão e o acompanhamento de crianças superdotadas, o que incentiva os pais e as escolas a buscarem a identificação precoce”, destaca Damião. Contudo, ele alerta que o reconhecimento dessas crianças não é suficiente por si só; o acompanhamento psicológico e pedagógico é fundamental para que esses jovens desenvolvam suas habilidades de maneira saudável e integrada.
O fato de 32% dos superdotados mapeados serem crianças e adolescentes revela a importância de um acompanhamento especializado desde cedo. Segundo o psicólogo, que também é doutorando em Inclusão pela Universidade Federal Fluminense, “identificar a superdotação em crianças permite um direcionamento pedagógico e psicológico adequado, prevenindo o que chamamos de ‘frustração de potencial’. Sem o suporte adequado, essas crianças podem sentir-se deslocadas ou desmotivadas, enfrentando dificuldades emocionais”.
Outro desafio destacado por Damião da Silvaé o reconhecimento e atendimento em regiões menos assistidas. “Embora São Paulo e outros grandes centros estejam avançando, o Brasil ainda carece de programas que incluam crianças superdotadas de regiões mais periféricas ou menos favorecidas economicamente”, pontua o especialista.
O mapeamento por inteligência artificial é um avanço, mas o acompanhamento humano e individualizado continua sendo essencial para o desenvolvimento dessas crianças. O especialista ressalta que o acompanhamento psicológico e educacional ajuda a superar dificuldades emocionais e sociais que podem surgir. “O reconhecimento das altas habilidades é apenas o primeiro passo. O verdadeiro desafio está em criar um ambiente de apoio para que a criança possa explorar e desenvolver seu potencial sem pressão excessiva e sem perder sua infância”, afirma o psicólogo.
Embora os dados sejam animadores para quem atua no campo da superdotação, ainda há muito a ser feito para garantir que todas as crianças e adolescentes tenham acesso ao suporte necessário. No Brasil, a educação inclusiva enfrenta desafios de estrutura e treinamento especializado. “É fundamental que o reconhecimento das altas habilidades se traduza em ações concretas, como o desenvolvimento de programas de mentoria, adaptações curriculares e ambientes de aprendizado que incentivem esses jovens a se expressarem e explorarem seu potencial sem o receio de serem isolados ou incompreendidos”, defende o especialista.
Com o número de pessoas superdotadas crescendo no Brasil, o especialista enfatiza que investir em programas de suporte, além de manter a atualização tecnológica, é essencial para garantir o desenvolvimento integral desses jovens. “O Brasil tem um potencial imenso, e os avanços no mapeamento mostram isso. Agora, é preciso transformar essa identificação em oportunidades reais de crescimento e apoio”, conclui.
Grupo Crescer Feliz celebra o sucesso do 3º Encontro de Crianças Superdotadas em São Paulo
Grupo Crescer Feliz realiza 3º Encontro de Crianças Superdotadas em São Paulo
O autismo e suas complexidades
Grupo de apoio aos Superdotados “Crescer Feliz” reúne 270 pessoas na 2ª Edição do Piquenique Nacional realizado em São Paulo
Superdotados nas escolas: atrativo ou fardo?