Um país dividido em cores, que poderia muito bem se unir com objetivos comuns. Uma análise de Ana Carla Amorim
Ana Carla de Amorim* Publicado em 12/11/2022, às 06h00
No dia 30 de outubro, brasileiros foram às urnas manifestar a escolha para presidente da República e em 12 estados também para governador. Brasileiros usando verde e amarelo, vermelho, azul e branco, enaltecendo o patriotismo, a paz e o amor.
Entre votos e vontades, virtudes e vaidades, mentiras e verdades, discursos de ódio, orações e súplicas, o que prevaleceu e quem venceu foi a democracia, exercida de forma legítima e com lisura na contagem e apuração de votos. Votos que precisam ser respeitados independente do candidato, assim como são os votos que são anunciados, declarados e proclamados a cada casamento, aniversário ou a cada ano que inicia.
Um ciclo se fecha e uma história começa a ser escrita a partir de 01 de janeiro de 2023, não apenas com um ano novo, mas com dias melhores para todos e por que não desde agora, para todos os dias e para os próximos anos? No entanto, nada mudará se não pensarmos no coletivo e continuarmos com as mesmas atitudes.
Quem me conhece sabe que a minha cor predileta é azul, que remete ao mar, água que lava, purifica e com as ondas leva embora todas as nossas impurezas. Azul que me traz serenidade, que faz elevar os meus olhos ao céu e para além do horizonte ressoar uma prece, mesmo quando há a formação de nuvens carregadas e a tempestade se aproxima, porque eu sei que uma hora ela vai passar e deixar um lindo arco-íris, sinal da aliança entre Deus e os homens. Homens que durante os últimos quatro anos fizeram e romperam alianças em decorrência de uma crença, ideologia ou partido.
Nessa hora, ressalto a beleza do amarelo, que transmite alegria e que de longe se avista como na minha árvore preferida quando florida: o ipê amarelo ou como as cores do trigo para iluminar e cativar. Cativar que como diz Antoine de Saint-Exupéry no livro “O Pequeno Príncipe”, significa criar laços. Laços de amizade e de afeto como os que eu reafirmei e criei, especialmente durante a pandemia.
Desse modo, não tenho como negar a ausência de luz que me remete a cor preta, símbolo de luto e luta em respeito a memória das mais de 600 mil vidas ceifadas, deixando familiares, amigos, conhecidos, aos que sobreviveram e sobrevivem ainda com os efeitos da doença e a triste marca para um país com uma das piores estatísticas, das quais ninguém deveria se orgulhar, sendo referência negativa em razão de comportamentos e tratamentos inadequados, contrariando a ciência que garantia não apenas a oferta como também a eficácia das vacinas, não tomando as medidas sanitárias em tempo e colocando em risco a saúde pública. Há quem possa perguntar: “De que lado você está?” Para responder a esta pergunta, o que eu posso dizer é que entre outras coisas, estou do lado dos que lutam contra o racismo, a intolerância e todas as formas de violência. Assim, para que possamos refletir sem qualquer julgamento ou preconceito, deixo como sugestão, a leitura do livro “Abuso: a cultura do estupro no Brasil” autoria de Ana Paula Araújo.
Embora muitas pessoas fechem os olhos para tudo isso, eu sinto um ar de esperança, que pode trazer novamente a vida presente no verde das matas e florestas e toda a biodiversidade, acabando com queimadas e desmatamentos e assegurando também a vida dos povos originários. Esperança na preservação da cultura e das suas múltiplas formas de expressão: arte, música, dança, poesia, literatura. De andar na rua com segurança, da igualdade de direitos, de oportunidades de emprego e de comida na mesa para receber e unir a família, com todas as suas formações.
Nesse sentido, destaco a cor vermelha, não como símbolo de um partido, mas como sinônimo de amor. Amor que carrego dentro de um coração que bate forte no lado esquerdo do peito. Amor como o que tenho pela educação, reconhecendo a importância do conhecimento deixado por educadores como Paulo Freire. Amor que está fazendo tanta falta ultimamente, mas que está presente no meu sobrenome.
Para concluir, estendo a bandeira do Brasil, uma bandeira que é de todos os brasileiros e brasileiras e que contém as cores verde, amarelo, azul e branco. Diante disso, ofereço e estendo também a bandeira branca, e com ela, um pedido não apenas por mim ou por um país, mas por um mundo melhor: Paz para todos.
*Ana Carla de Amorim é graduada em pedagogia e tem mestrado em educação pela Universidade Católica Dom Bosco. Pesquisadora das temáticas de gênero e formação de professores
As delícias da maternidade
Sobre o meu maternar
Maria Julia: a flor que brotou em mim e virou estrela
A violência transsexual começa, muitas vezes, dentro de casa
Maternidade, a escolha certa é a que deixa o seu coração em paz