Outubro Rosa: o renascimento emocional após o câncer

Especialista fala sobre os desafios e o renascimento emocional na reconstrução da autoestima e da imagem corporal

Redação Publicado em 28/10/2025, às 06h00

O fim do tratamento de câncer, embora represente a cura física, é apenas o começo de um processo de reconstruir a autoestima - Foto: Canva Pro

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O diagnóstico de um câncer de mama ou de útero é, para muitas mulheres, o início de uma das jornadas mais desafiadoras de suas vidas. Cirurgias, quimioterapias, radioterapias e longos períodos de tratamento deixam marcas profundas — não apenas no corpo, mas também na mente. O fim do tratamento, embora represente a cura física, é apenas o começo de um novo processo: o de reconstruir a autoestima, o equilíbrio emocional e a confiança em si mesma.

Segundo a psicóloga cognitivo-comportamental, Karine Brock, o pós-tratamento é um período de ressignificação. “A terapia cognitivo-comportamental (TCC) ajuda a reconstruir a relação da mulher com o próprio corpo e com sua identidade nesse novo eu”, explica. Segundo ela, o câncer impacta profundamente o físico e o emocional e abala a autoestima. Então, a terapia trabalha para identificar e modificar pensamentos autocríticos e distorcidos — como o de que o corpo está com defeito ou que a mulher não é mais bonita — para promover um olhar mais empático e amoroso por si mesma.

Karine destaca que a TCC auxilia a paciente a compreender que as mudanças físicas fazem parte de um processo maior de vida. “O foco é reconstruir uma autoimagem mais realista, baseada no autocuidado, na aceitação e no orgulho de estar enfrentando um processo tão desafiador”, diz. Ela enfatiza ainda que, quando a mulher se vê com compaixão e entende a força da própria história, ela muda completamente a forma como encara a doença e a recuperação.

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Mesmo após o término do tratamento, muitas mulheres convivem com o medo da recidiva da doença. “É muito comum surgirem pensamentos automáticos como: ‘a qualquer momento o câncer pode voltar’ ou ‘minha vida nunca mais será igual’”, explica Karine. “Esses pensamentos refletem o medo e a incerteza. Na terapia, a gente ajuda a identificar esses padrões e substituí-los por interpretações mais equilibradas, como: ‘eu posso não controlar tudo, mas posso cuidar de mim hoje e viver um dia de cada vez’”.

A especialista lembra que o objetivo é transformar o medo em um sinal de alerta saudável, e não em uma prisão emocional. “O medo pode até estar presente, mas ele não pode te paralisar. Ele deve ser um lembrete de autocuidado, não um impedimento para viver”, pontua.

Durante o processo de recuperação, sintomas de ansiedade e depressão são comuns — e precisam de atenção. “Alterações de sono, apetite, energia, concentração, desinteresse por atividades antes prazerosas e preocupação excessiva com o futuro são sinais de alerta”, orienta Karine. Ela explica que, na terapia, o trabalho é com o monitoramento das emoções e dos pensamentos. Quando o paciente consegue visualizar o que está vivendo, consegue também modificar. E buscar ajuda é um ato de amor-próprio, porque cuidar da mente é fundamental no processo de cura.

Entre as práticas mais eficazes para promover o bem-estar emocional no pós-câncer, a psicóloga cita técnicas da TCC como a ativação comportamental, o mindfulness, a autocompaixão e o treino de habilidades sociais. “A ativação comportamental estimula o retorno gradual a atividades significativas. O mindfulness ajuda a reduzir a tensão física e mental, favorecendo o equilíbrio emocional. Já a autocompaixão é essencial para desenvolver uma relação mais gentil e amorosa consigo mesma”, descreve.

Karine destaca que a retomada da vida social e afetiva é um passo importante nesse processo. “Fortalecer vínculos afetivos, permitir-se receber apoio e compartilhar vulnerabilidades é parte da reconstrução”, afirma. “A recuperação emocional após o câncer é, antes de tudo, um renascimento. É uma nova forma de se conectar com a vida — com mais amor, gratidão e propósito”, conclui a psicóloga.

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